segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

entrevista com deborah voigt

No "Caderno 2" do Estadão de hoje a tradução de uma entrevista concedida pela soprano norte-americana Deborah Voigt. Depois de perder 60 quilos devido a uma cirurgia de redução de estômago, ela fala sobre a nova etapa de sua carreira. O texto segue abaixo.

Deborah Voigt: a maior das divas dramáticas retoma a carreira
Dois anos após a polêmica sobre seu peso, com a agenda lotada e o mesmo bom humor,
por Sharon McDaniel, de West Palm Beach

Ela é considerada a principal soprano dramática do mundo. Uma estrela do mercado fonográfico. Favorita entre os solistas do Metropolitan de Nova York. A diva entre as divas. E mesmo aqueles que não seguem a ópera sabem de sua batalha pela perda de peso e uma cirurgia de redução do estômago. Falar com a soprano Deborah Voigt sobre todos esses temas é um prazer. Ela se recusa a se levar demais a sério, então, risos e piadas sempre aparecem em uma conversa que vai de sua carreira ao carro rosa de seu pai, passando por sua vida amorosa. Há dois anos, Voigt foi flagrada em meio a uma polêmica envolvendo seu peso – foi cortada de uma produção de "Ariadne auf Naxos", de Strauss, no Covent Garden, em Londres, por estar, segundo a direção artística, “acima do peso”. Meses depois, fez uma cirurgia e perdeu cerca de 60 quilos. Hoje, aos 46 anos, a soprano nascida em Chicago está em alta, com convites para interpretar os complicados papéis de soprano dramática de Wagner e Strauss. Estréia em março no Metropolitan de Nova York uma nova produção de "Die Agyptische Helena", feita especialmente para a soprano que, em 2010, será Brünhilde na nova produção do "Anel do Nibelungo" preparada pelo teatro. Enquanto isso, ela viaja em turnê de promoção de seu novo disco, dedicado a canções de autores norte-americanos

Você tem viajado o mundo interpretando papéis pesados de Wagner e Strauss. Como manter o equilíbrio da voz ou mesmo algum tempo livre?
Ainda não sei ao certo. No momento, acho que ainda não encontrei esse equilíbrio! Mas isso acontece de tempos e tempos e é um dos problemas desta profissão. Planejamos nossa carreira com tanta antecedência que fica difícil saber como você vai estar se sentindo em um dia específico daqui a três, quatro, cinco anos. E, mesmo quando você tem alguma folga, tem de gastá-la preparando-se para o próximo concerto.
Como você acha que sua voz mudou depois da cirurgia?
Bem, eu sabia, ao decidir fazer a cirurgia, que qualquer mudança mais profunda em nosso corpo sempre afeta a maneira como a voz soa. Então estava preocupada não apenas com a cirurgia em si, mas com os meses que se seguiriam. Às vezes me sinto melhor e mais em controle do que em outros momentos. É um processo de aprendizado e talvez não seja ruim que eu o esteja vivenciando. Quando já se tem alguns anos de carreira, é bom reavaliar e repensar a maneira como sua voz está funcionando, qual o melhor repertório para você, se ele é o mesmo de dez anos atrás e se será o mesmo daqui em diante.
Houve momentos em que você sentiu a voz um pouco hesitante?
Eu a sinto assim ainda hoje, mesmo dois anos depois da cirurgia. Então, sim, houve momentos em que me senti bastante insegura no palco no que diz respeito ao suporte da respiração, pelo menos bem mais insegura do que me sentia antes de perder todo aquele peso. Mas qualquer coisa pode afetar a voz e a maneira de cantar, às vezes de um dia para o outro, seja por conta da temperatura ou porque você brigou com seu namorado.
Você viveu na Europa, mas mudou-se para Vero Beach, na Flórida. Por quê?
Bem, tudo começou por causa de um cara... Estava namorando alguém que vivia aqui. Então, sempre que tinha um tempo livre viajava para cá. Com o tempo, acabei me apaixonando pela comunidade. Passo a maior parte da minha vida em grandes metrópoles, assim, poder estar em um lugar no qual a única preocupação é decidir a que horas eu vou para a praia, em vez de estar sempre correndo de uma reunião para outra, de um ensaio para uma exposição, enfim, foi uma boa mudança para mim. Mas, enfim, no começo, foi por causa de um cara... E, quando a relação terminou, pensei: eu realmente gostei da tranqüilidade, então, por que não me mudar? Normalmente, uso o aeroporto de Orlando como ponto de saída e chegada. E à medida que pego o carro e começo a viagem para Vero Beach, a cabeça já vai relaxando.
Na última edição da revista Opera News você aparece na capa ao lado de um carro antigo, rosa, um DeSoto de 1956. Você é daquelas fanáticas por carros?
Não, aquele é o carro de meu pai. Na verdade, só conheci o carro no dia em que tirei a foto. Quando era criança, meu pai tinha um desses. E a gente viajava pelo interior com ele. E, hoje, ele conseguiu comprar o carro de volta e restaurá-lo, devolvendo a ele sua beleza e charme originais. E agora ele está pensando em colecionar carros, apesar de ele não ter muito idéia de como funciona.
E você, compartilha essa fascinação por coleções?
Não muito. Durante um tempo, estive muito interessada em porcelanas e cristais. Mas, depois, me dei conta que essas são coisas com as quais é impossível viajar mundo afora. E, como não estou nunca em casa, não faz muito sentido manter uma coleção, né?
Depois da capa da Opera News, você recebeu um prêmio especial oferecido pelo Metropolitan Opera Guild. Surpresa ou fruto de trabalho duro?
Bom, eu realmente tenho trabalhado bastante. Mas não deixa de ser uma surpresa. E uma honra, claro. O grupo de que faço parte (a soprano Renata Scotto, o maestro James Levine e o baixo René Pape) é um grande grupo. Scotto foi uma das primeiras divas com quem trabalhei e foi ela quem dirigiu a minha primeira Tosca. Não é possível medir o respeito que tenho por ela.
Suas escolhas recentes de repertório são pouco usuais. Como explicá-las?
Bem, Salomé, de Strauss, é a adição mais recente ao meu repertório, eu a interpretei em outubro de 2006. É um papel que já havia feito em versão de concerto, cheguei até a gravar a cena final. Mas nunca imaginei que faria o papel no palco, então, para mim foi uma surpresa o convite – e o resultado também! Espero poder voltar a fazê-lo.
"Die Agyptische Helena" é muito pouco encenada, a última montagem no Met é de 1920. Foi uma surpresa a decisão do teatro de criar uma nova produção?
Não, de modo nenhum, eu é que pedi a eles... Espero que dê certo! É um outro fabuloso papel para soprano escrito por Strauss, que escrevia melhor para a voz feminina do que a maioria dos compositores que costumo cantar. Ela é um papel-título – e nós, divas, adoramos figuras como ela. E há quem a considere a mulher mais bonita do mundo.
O que você gostaria de fazer e ainda não conseguiu?
Gostaria realmente de explorar mais a música de cabaré americana, além de todo o repertório de musicais. Criei um problema de agenda para mim mesma - e não sei se vou ter tempo de fazer isso. Mas, se eu pudesse, gastaria bastante tempo nessa área.

5 comentários:

frapê disse...

Já tá no meu Favoritos! E o site de que te falei é o sitemeter.com. Acho que será simples instalar, é só seguir o passo-a-passo e inserir uns htmls deles no do seu blog... Se tiver dúvidas me avise, tá? Beijoca!

frapê disse...

Ah: pin sou eu, Flavia! :P

Anônimo disse...

eu fico preocupada com a redução de estômago para quem utiliza a voz como instrumento. nem sempre avisam que o cantor pode não conseguir mais cantar depois dessa cirurgia. e se cantar, muito provavelmente não será mais o mesmo.

Unknown disse...

Bem, há a história de que a Callas nunca mais foi a mesma após aquele brutal regime - sem operação - a que se submeteu. Há alguma relação real entre o volume estomacal e o cantar melhor? A verificar.

Anônimo disse...

na verdade, quando os cantores fazem regimes violentos, eles precisam ajeitar a voz, porque ela muda, pode ficar mais leve, por exemplo. então precisam ajeitar o repertório e estudar, se possível com um co-repetidor, para que a voz se adeqüe ao novo formato. no caso da redução do estômago, há uma perda sensível de fôlego. muito mal estar, perda de vitaminas, o que praticamente os impede de cantar no período do emagrecimento rápido. e não sei se depois de um ano afastados eles conseguem equilíbrio físico para voltar a cantar e provavelmente não terão mais o mesmo repertório.