segunda-feira, 30 de abril de 2007

ashkenazy abandona o piano


O pianista e maestro Vladimir Ashkenazy disse em uma entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera que decidiu abandonar o piano devido a “problemas físicos”. Ele preferiu não dar detalhes mas, segundo o repórter, há sinais de artrite em três dos dedos do músico. A última apresentação de Ashkenazy ao piano foi há cerca de um ano; na ocasião, disse o músico, não sentiu dor nas mãos mas chegou à conclusão de que sua performance estava longe do ideal. Daí a decisão de se dedicar mais à carreira de maestro e de não tocar mais o instrumento em público - ele deve apenas continuar gravando e, entre os planos, está um disco dedicado a Sibelius. No You Tube, Ashkenazy interpretando Schumann nos anos 60.

beim schlafengehen

No You Tube, vídeo precioso da edição de 2004 do Festival de Lucerne: a soprano norte-americana Renée Fleming interpretando a terceira das "Quatro Últimas Canções" de Richard Strauss, regência de Claudio Abbado.

domingo no brasil

Da Associated Press: o tenor espanhol Plácido Domingo virá ao Brasil em agosto para um concerto em homenagem ao arquiteto Oscar Niemeyer, que completa 100 anos em dezembro. O repertório ainda não foi definido, mas o concerto será ao ar livre, em palco a ser montado na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

domingo, 29 de abril de 2007

o adeus a rostropovich


O corpo do violoncelista e maestro russo Mstislav Rostropovich, morto na sexta-feira aos 80 anos, foi enterrado ontem no cemitérioNovodevichy, em Moscou. No sábado, cerca de 4 mil pessoas estiveram no velório, realizado no Conservatório de Moscou (nas fotos) e aberto ao público a pedido da família do músico. O enterro foi precedido, na manhã de ontem, por uma cerimônia religiosa na Catedral do Cristo Redentor, à qual compareceram autoridades como o presidente russo Vladimir Putin e a Rainha Sofia, daEspanha. A viúva de Rostropovich, a soprano Galina Vishnévskaya, estava acompanhada dos filhos e netos do casal e de Naína Yeltsin, viúva do ex-presidente russo Boris Yeltsin, morto na semana passada e enterrado no mesmo cemitério que Rostropovich. Entre os presentes, estavam também Bernardette Chirac, primeira-dama francesa, e Natalia, mulher do escritor e Prêmio Nobel de Literatura Alexandr Solzhenytzin.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

morre mstislav rostropovich













Morreu agora de manhã na Rússia o violoncelista e maestro Mstislav Rostropovich. Ele estava internado em uma clínica para tratamento de câncer, em Moscou; na semana passada, havia passado por uma cirurgia devido a um câncer de intestino. Ele estava com 80 anos. Mais informações: Associated Press , Estadão, The Guardian, New York Times, Le Monde.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

críticas

No Estadão de hoje, as críticas de Lauro Machado Coelho para a ópera A Filha do Regimento, em cartaz no Teatro Municipal, e para os concertos da semana passada da Budapest Festival Orchestra e da Orquestra Sinfônica Brasileira.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

roubadas batutas de villa-lobos

Do Portal G1: A Polícia Civil investiga e a Secretaria Estadual de Cultura abriu sindicância para apurar o roubo de batutas do maestro Heitor Villa-Lobos, roupas de época e material de informática do Museu dos Teatros, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Todo o material foi levado na quinta-feira (19), segundo a secretaria. Os assaltantes teriam entrado pelo buraco do aparelho de ar condicionado do museu. Continua.

corrida maluca

Há 17 anos, o francês René Martin realiza em Nantes, na França, a Folle Journée, festival que promove pouco mais de 300 concertos em uma semana. A idéia é trazer um novo público à música – os concertos são curtos, tem grandes intérpretes e custam pouco. Martin já exportou o formato do festival para Bilbao, Lisboa e Tóquio. Agora, é a vez do Rio - será nos dias 1º, 2 e 3 de junho, com concertos em oito palcos, começando com Nelson Freire/Sinfônica Nacional/Lígia Amadio no Municipal e terminando com Kurt Masur/Sinfônica Brasileira na Praia de Copacabana. No Estadão de hoje, a entrevista que fiz com Martin na semana passada, em Niterói, logo após um concerto da Lígia com a OSN, com link também para a programação completa.

domingo, 22 de abril de 2007

glass aos 70


O britânico "The Guardian" traz uma entrevista com o compositor norte-americano Phillip Glass, que completa 70 anos em 2007. O áudio da conversa entre ele e o jornalista Andre Clements é ilustrado por imagens da produção da ópera Satyagraha, em cartaz em Londres. No blog de Clements, você encontra também comentários do jornalista sobre os bastidores da entrevista e algumas de suas impressões sobre a música de Glass.

descendo a serra

Luiz Gustavo Petri, o Guga, manda informações sobre o concerto que faz sexta-feira em Santos, com a Sinfônica Municipal da cidade, no Teatro Coliseu. Eles vão oferecer a estréia brasileira do Concerto para Violoncelo do italiano Nino Rota, solos de Antonio Lauro Del Claro. Vale a pena a viagem - além da peça em si, Petri é um dos grandes maestros brasileiros da atualidade, faz um trabalho muito bonito com a Sinfônica de Santos e o Teatro Coliseu é uma pequena jóia da arquitetura paulistana do início do século 20, que acaba de ser restaurada. Santos não está tão longe assim....

não deu

Daqui a algumas horas estréia em Manaus "O Navio Fantasma", de Wagner, a primeira produção deste ano do Festival Amazonas. Eu havia prometido a vocês estar lá e falar da produção. Mas um pequeno problema ontem na estrada, a caminho do aeroporto, mudou meus planos - e eu não consegui viajar. Senti muito não poder estar em Manaus para a estréia, mas vou tentar pegar alguma outra récita. Enquanto isso, fica o pedido para quem está por lá - manifestem-se!

quarta-feira, 18 de abril de 2007

sayad fala

A informação está no Estadão e na Folha de hoje: o secretário de Cultura do Estado, João Sayad, nega intenção de demitir o maestro John Neschling, negando boataria crescente dos últimos dias. Em resumo, o que ele disse é que o governo tem avaliação boa do trabalho do maestro e da orquestra mas que, de qualquer forma, toda decisão sobre o comando do grupo cabe não ao Estado mas, sim, ao conselho da Fundação Osesp. Abaixo, trecho da conversa do repórter Jotabê Medeiros com o secretário (para ler a íntegra do texto, que toca em outras questões polêmicas como o comando da Fundação Padre Anchieta, clique aqui)
A Osesp, num passado não muito remoto, teve o salário do maestro John Neschling questionado. Um contrato dele, assinado pela ex-secretária, de R$ 2,4 milhões, chegou a ir a exame do TCE.
Nós gastamos com a Osesp R$ 43 milhões. Ela tem um conselho que define essas questões de salário. Nós definimos com a Osesp a programação no que podemos decidir, o que fará pelas escolas estaduais, suas atividades didáticas, que é parte da política cultural na área de música.
O sr. pensa em demitir o maestro Neschling?
Isso é uma área atritosa, orçamentária, mas não é verdade.
O sr. está satisfeito com o desempenho dele?
Estamos satisfeitos. E essa é uma decisão do conselho, e que eu saiba, não tem nenhuma discussão a respeito.
As fundações Padre Anchieta, a Osesp, consomem boa parte do orçamento da secretaria. Não é complicado fazer política pública com tantas instituições autônomas?
Não. É importante ter os conselhos funcionando, as instituições andando sozinhas.
Agora, em relação à atuação do governador. Entra um governador novo, não gosta de determinado dirigente de um desses conselhos...
Eu não sei de quem ele não gosta. Ele não me disse 'não gosto de fulano, não gosto de sicrano'.

terça-feira, 17 de abril de 2007

voigt vai cantar ariadne

A notícia já tem alguns dias mas só agora fiquei sabendo. A soprano americana Deborah Voigt vai cantar Ariadne na próxima temporada do Covent Garden, em Londres. Lembrando: em 2004, ela foi demitida da produção porque o diretor Cristof Loy dizia que ela não se adequava à sua concepção para a ópera de Strauss – sua Ariadne devia vestir um “pequeno vestido de festa preto” e Voigt, então, estava “acima do peso” desejado pelo diretor. Na época, a polêmica foi grande – para além do preconceito em si, surgia mais uma vez a questão: o que é mais importante, a voz, o talento ou a forma física? – ou, em outras palavras, o que vale mais na ópera, as exigências do diretor cênico ou a qualidade musical do espetáculo? A questão foi refutada pelo Covent Garden. “Não tem nada a ver com isso. Optamos por tentar algo novo com Ariadne e, assim, precisávamos de outra cantora. Mas as pessoas transformaram isso em algo contra Deborah. Adoraria trabalhar novamente com ela. Mas não nessa produção. E ponto final”, disse o maestro Antonio Pappano em uma entrevista que fiz com ele alguns meses depois do incidente. Enfim, o fato é que Voigt agora vai cantar Ariadne e vestir o tal do vestido preto, depois de ter feito uma operação de redução de estômago. Leia aqui mais informações sobre a temporada 2007/2008 do Covent Garden.

prêmio tim - indicados

Acaba de sair a lista de indicados ao Prêmio Tim de Música. Na nossa área, são três os discos concorrentes:
– Brahms: Concertos para Piano e Orquestra (Gewandhaus, Nelson Freire, Riccardo Chailly, Universal)
– Santoro: Sinfonias 4 e 9 (Osesp, John Neschling, Biscoito Fino)
– Concertos para Dois Violões (Duo Assad, Neschling, Rob Digital)
Os vencedores serão conhecidos no dia 16 de maio.

strauss e mahler em...

Do blog de Alex Ross:



(clique na imagem para ampliar)

juliane banse - crítica

No Estadão de hoje, a crítica de Lauro Machado Coelho sobre o concerto da soprano Juliane Banse com a Osesp e a regência de Christoph Poppen.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

mais audácia

O crítico Anthony Tommasini comenta, no "New York Times", a escolha de Gustavo Dudamel como novo diretor da Filarmônica de Los Angeles; fala dos regentes em atividade nos Estados Unidos e discute as apostas para o novo diretor da Filarmônica de Nova York, já que Lorin Maazel avisou que não renova seu contrato em 2009. O principal candidato parecer ser o italiano Riccardo Muti. Mas Tommasini pede um pouco mais de audácia dos diretores da orquestra.

morre o crítico joão câncio póvoa

O Lauro nos manda a triste notícia:
Manifesto o pesar pela morte de João Câncio Póvoa que foi, durante muitos anos, o crítico de ópera de "O Estado de S. Paulo". Aos 90 anos, Póvoa estava doente há algum tempo, mas permanecia perfeitamente lúcido, como o demonstra a interessante entrevista que deu a Sérgio Casoy, para seu livro sobre a ópera em São Paulo, falando de sua experiência no jornalismo. Póvoa morreu hoje, sexta-feira, às 11h da manhã. Foi um grande nome da imprensa musical paulista.

música na china - 2


O Estadão publicou ontem a matéria do "New York Times" sobre a música clássica na China, aquela mesma postada aqui há alguns dias. A diferença é um texto de João Marcos Coelho sobre o pianista Lang Lang e o trabalho de alguns compositores chineses contemporâneos (no site, você tem acesso também a trechos de áudio de obras desses autores).

sexta-feira, 13 de abril de 2007

música de homem?

"Mulheres são incapazes de reger Brahms, Mahler é música de homem". Assim Helen Thompson, então gerente da Filarmônica de Nova York, acabou com as esperanças de uma carreira para a maestrina Eve Queler nos anos 70. Trinta anos depois, parece que o mundo orquestral segue em direção à igualdade de gêneros, mas será que alguém ainda considera Mahler além das possibilidades interpretativas de uma maestrina?", se pergunta Rosie Johnston em interessante artigo no Guardian sobre o trabalho de mulheres que se aventuram pelo mundo da regência.

no metrô - mais

Justin Davidson, que tem substituído Alex Ross no blog "The Rest is Noise", traz alguns comentários interessantes sobre a matéria do "Washington Post" sobre o violinista no metrô, postada aqui embaixo. Para ler, clique aqui.

celso antunes

O maestro Celso Antunes acaba de inaugurar um site - confira aqui.

tarja preta

O crítico da Folha Marcelo Coelho criou em seu blog o tópico “Clássicos Tarja Preta” para falar de suas aquisições mais arriscadas de CDs. No primeiro post, falou de discos de compositores africanos. Agora, se dedica a obras menos conhecidas de Carl Nielsen. Vale a leitura.

minczuk aos 40

Leonardo Martinelli ataca novamente em seu Outra Música, agora com perfil e entrevista do maestro Roberto Minczuk, às vésperas de completar 40 anos. O pacote traz ainda a crítica de seu concerto da semana passada com a Orquestra de Paris - a autora é Tatiana Catanzaro, compositora brasileira que está na capital francesa concluindo seu doutorado. Leituras mais do que recomendadas.

no metrô

O que você acha que aconteceria se um violinista de sucesso se fantasiasse de músico de rua e fosse tocar incógnito em uma estação de metrô? Seria reconhecido? Quantas pessoas parariam para ouvi-lo? Quanto dinheiro ele conseguiria? O Washington Post fez a pergunta a maestros e músicos. E colocou Joshua Bell em uma estação da capital americana para tirar a prova. O resultado da experiência você encontra aqui.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

apenas boato?

Em resposta ao oportuno artigo de João Batista Natali na Folha de segunda-feira sobre os boatos de que o governo do Estado tem em mente cancelar a temporada de óperas do Teatro São Pedro e desistir de tratá-lo como espaço dedicado exclusivamente à ópera, Andre Sturm, coordenador da Unidade de Fomento e Difusão da Produção Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, assina a seguinte carta na edição de hoje do jornal: “Gostaria de informar que, por parte da SEC, não só apoiamos a excelente programação desse teatro e sua destinação à música lírica como propusemos ao diretor artístico que aumentasse o número de dias de espetáculos no ano. Em relação à programação previamente planejada, informo que duas das óperas foram canceladas, uma por iniciativa do proponente e uma por nossa proposta, com o objetivo de oferecer mais atrações. Ou seja, em vez dessas duas óperas de orçamento elevado, teremos pelo menos outras quatro de orçamento menor. Assim, mais pessoas poderão ir ao teatro, que oferecerá mais diversidade e mais dias de programação. Reforço que não há nenhum fundamento nesses boatos”. Essa batalha, enfim, o Natali parece ter ganho para nós. Só ficou faltando saber a que títulos o Sturm se refere. Sabe-se que a ópera cancelada “por iniciativa” do proponente, ou seja, pelo produtor que havia sugerido o projeto, foi “Anjo Negro”, de João Guilherme Ripper. O outro cancelamento e as óperas que entraram agora na programação não foram divulgados. Vamos atrás das informações e logo voltamos a falar do assunto. Um detalhe: o artigo do Natali fazia referência também aos boatos de que o governador José Serra tem planos de substituir o maestro John Neschling à frente da Osesp; sobre este tópico, o silêncio da administração estadual continua.

terça-feira, 10 de abril de 2007

o navio fantasma em manaus

O jornalista Irineu Franco Perpétuo publica hoje na Folha uma entrevista com o diretor alemão Christoph Schlingensief, que assina a concepção do “Navio Fantasma” de Wagner que abre no dia 22 a nova edição do Festival Amazonas de Ópera (a regência é de Luiz Fernando Malheiro). Para quem não tem acesso ao UOL, a descrição do espetáculo como transcrita pelo Irineu: “O primeiro ato evoca Saló, filme de Pasolini ambientado nos estertores do fascismo italiano; o segundo é uma catedral subterrânea, em que fiandeiras fazem bolas de borracha, enquanto o derradeiro traz um navio encalhado. O protagonista, um pirata holandês condenado a navegar eternamente até encontrar um amor que o redima, está caracterizado como Nosferatu. Senta, sua amada, traz um casulo, símbolo da redenção, enquanto Daland, o sogro, é um pastor evangélico”. Polêmicas à vista... E estaremos por lá para contar tudo em detalhes. A propósito: Schlingensief foi responsável pelo "Parsifal" de 2004, aquele em que a ação se passava na Namíbia (leia aqui a crítica do New York Times).

dudamel em los angeles


O jovem maestro venezuelano Gustavo Dudamel, de 26 anos, será o diretor da Filarmônica de Los Angeles a partir da temporada 2009-2010. Ele substituirá o maestro Esa-Pekka Salonen, que decidiu se dedicar mais à carreira de compositor (“Tenho sido um maestro que compõe, agora quero experimentar ser um compositor que rege”, disse ele). O anúncio oficial foi feito ontem. “Este é um dia alegre. Um dia de otimismo e de tremenda esperança no futuro. Eu sempre quis passar a batuta para alguém maravilhoso.... E aqui está ele”, disse Salonen durante a coletiva. O assunto tem dominado as páginas musicais da imprensa americana e internacional. Alguns links: New York Times, Los Angeles Times, Playbill, San Francisco Gate, The Guardian. Mais dicas de leitura aqui.

josé serra, osesp e o teatro são pedro

Desde o início do ano se fala a boca miúda que uma das determinações dadas pelo governador José Serra a seu secretário de Cultura, João Sayad, seria a de encontrar uma maneira de tirar o maestro John Neschling da direção artística da Fundação Osesp. Na época, falou-se até em possíveis substitutos – sim, o maestro Roberto Minczuk encabeça todas as listas e há quem diga que chegou mesmo a ser convidado para substituir o ex-chefe (mais detalhes na coluna de Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo, e na pequena entrevista com John Neschling publicada no mesmo jornal, onde ele diz que se os boatos continuaram ele vai se encher e deixar o cargo por conta própria). De umas três semanas para cá, novos rumores. O que se diz agora é que o governo não quer mais o Teatro São Pedro como espaço dedicado exclusivamente à ópera. Várias pessoas ligadas ao teatro confirmam a história, mas ninguém soube me explicar muito bem os motivos, ou seja, o que levou o secretário a chegar a essa conclusão. Uma possibilidade: há gente perto do governador sugerindo que o São Pedro deve ser usado para o teatro de prosa.O jornalista João Baptista Natali escreveu na Folha de ontem um artigo sobre as duas questões. Se os boatos são verdadeiros, escreve ele, o governador Serra corre o risco de “colocar no currículo o título duvidoso de coveiro da Osesp, a Orquestra Sinfônica do Estado”, somado à “desonra” de encerrar o recente processo de redefinição da atividade do São Pedro. Vale a pena ler a íntegra do texto, que toca também na questão da dissolução do Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo pela prefeitura (sobre este tema, leia ainda a edição deste mês da Revista Concerto). Concordo com Natali quando ele diz que é temerário colocar em risco a Osesp e o São Pedro. Mas acho que há uma diferença entre os dois casos. Na Osesp, a mudança seria de comando; no São Pedro, trata-se da redefinição do conceito de ocupação de um teatro. Acho que essa distinção leva a uma pergunta. É indiscutível a importância do maestro John Neschling à frente da Osesp e o que ele fez foi sim histórico. Agora, até que ponto podemos afirmar que um não vive sem o outro? Isso não nos leva a um personalismo que é um dos vícios da vida pública brasileira? Quando a Osesp vai se sustentar perante a sociedade e o meio musical independentemente de quem estiver à sua frente? É claro que cada maestro e diretor artístico vai imprimir a sua marca, mas o básico, o essencial não tem que ser mais forte que a pessoa à frente da instituição? É claro que no caso de uma instituição relativamente nova como a Osesp, que vive em um país onde a cultura está longe de ser prioridade, as coisas não são tão simples assim. Ainda assim, acho que estas perguntas precisam ser feitas. Uma coisa, no entanto, entristece: a maneira como esta história está sendo conduzida. Se um governador tem algo a dizer sobre um projeto que está sob seu comando, por que não diz? Se quer repensar a utilização de um de seus teatros, por que não convoca um debate amplo, público? A boataria que circula é nociva, mostra falta de profissionalismo e só demonstra o quão pouco importante é a cultura no olhar de nossos homens públicos. O silêncio do governo perante o que tem sido publicado na imprensa é emblemático. E só mostra que políticas culturais continuam a ser substituídas por jogos políticos. Até quando?

entrevista com juliane banse



No Estadão de hoje, entrevista que fiz com a soprano Juliane Banse e o maestro Christoph Poppen, que se apresentam esta semana na Sala São Paulo interpretando as Quatro Últimas Canções de Strauss: "E minha alma, desprotegida, vai agora flutuar livre, para viver no círculo mágico da noite profunda." Foi nos anos 40 que o compositor Richard Strauss começou a trabalhar em canções a partir deste e de outros textos do poeta alemão Herman Hesse. A princípio escritas para serem interpretadas individualmente, elas foram reunidas em um ciclo após a morte do compositor. Nasciam assim as Quatro Últimas Canções, que se transformaram em obras míticas dentro do repertório das grandes sopranos do século 20. Razões para tamanho fascínio? "São peças extremamente especiais, a união dos textos com a música fala direto aos nossos corações", diz a soprano alemã Juliane Banse, que as interpreta quinta, sexta e sábado na Sala São Paulo ao lado da Osesp e sob regência de Christoph Poppen. "São as últimas obras escritas por Strauss que nelas, nos faz olhar nos olhos da morte, mas sem que tenhamos medo dela", diz o maestro. Continua aqui.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

diva reclama de diretor do met

A soprano americana Ruth Ann Swenson disse esta semana ao "New York Times" que está muito chateada com o tratamento que vem recebendo da direção do Metropolitan Opera. Ela está cantando atualmente em uma produção do "Giulio Cesare", mas uma de suas récitas foi dada à sua substituta, Danielle De Niese. Seu outro único contrato com o Met previa oito récitas da "Traviata", na próxima temporada, mas quatro delas foram passadas para Renée Fleming. "Machuca muito. Sou de Nova York. Canto aqui há anos. Sempre tive grande sucesso. Nunca os decepcionei. É tão estressante subir no palco e perceber que o cara no topo não gosta de você e que não há nada a se fazer a respeito. Nada", disse ela ao jornalista Daniel Wakin. O "cara no topo", Peter Gelb, respondeu. "Ela tem passado por esta maratona que é o Giulio Cesare e o tem feito muito bem. E esta não é só minha opinião mas também o consenso do staff artístico e de seus colegas", disse ele. Gelb também confirmou que não há nenhum outro contrato com a soprano além da "Traviata". "Mas isso não quer dizer que ela não vai cantar no Met de novo"; sobre ter dado a De Niese uma das récitas, ele explicou que é papel do Metropolitan encontrar novos talentos e que ela tem potencial para se tornar uma grande estrela do teatro. No que diz respeito à escalação de Fleming, Gelb disse apenas que "sempre que pudermos ter Renée cantando em nosso palco será um bom dia para o Metropolitan Opera". A direção do teatro também fez questão de ressaltar que sua decisão não está relacionada a problemas de saúde de Swenson, que há dois anos passou por tratamento por conta de um câncer de mama. Swenson, no entanto, tem explicações diferentes. "Acho que não sou magra o suficiente para ele", disse a soprano, secundada pelo marido, para quem sua idade, 47 anos, também teria pesado na decisão. A resposta de Gelb: "Essas são condições pessoais que nada tem a ver com a escalação ou não de um cantor. Tenho que pensar no que os cantores podem me oferecer, na combinação correta de repertório e novas produções, nas melhores experiências musicais e teatrais para nosso público. Esse é o meu critério como diretor deste teatro e seria irresponsável agir de qualquer outra maneira". Perguntada sobre se temia represálias por seus comentários, a soprano disse: "E que diferença faz? Ele não gosta mesmo de mim". Mais uma resposta de Gelb: "Fico triste ao ouvir isso. O que quero é que possamos trabalhar juntos para discutir o sucesso que ela pode ter aqui." Para ler a entrevista, clique aqui.

terça-feira, 3 de abril de 2007

a música clássica na china

"Com a mesma energia, motivação e peso populacional que a transformaram em um poder econômico, a China tornou-se uma força considerável da música clássica. Os conservatórios estão transbordando. As províncias pedem por orquestras e salas de concerto. Pianos e violinos feitos no país enchem contêiners na saída dos portos. O entusiasmo chinês sugere potencial para um mercado crescente de música gravada e performances ao vivo ao mesmo tempo em que uma base de fãs envelhecida e a queda na venda de CDs preocupam tantos profissionais na Europa e nos Estados Unidos", escrevem Joseph Kahn e Daniel J. Wakin em texto publicado no "New York Times" sobre a música clássica na China, ilustrado com gravações em vídeo e áudio.

ainda sobre lebrecht

Em 2004, poucos dias depois de ter escrito que aquele seria o último ano da indústria de música clássica e do New York Times ter publicado um artigo de Anthonhy Tommasini refutando a idéia, Lebrecht me concedeu uma entrevista por e-mail sobre o assunto. Só para acrescentar dados à discussão, a reproduzo aqui.
Em artigo recente, o sr. prevê o fim da indústria fonográfica de clássicos. De quem é a culpa?
De todos. A economia corporativa, a vaidade dos artistas, a ganância dos agentes.
Como o sr. responderia à crítica de Anthony Tommasini, que considera sua conclusão “absurda”?
Ele está mal informado. Discuti esse assunto com os chefes dos principais selos. Minha conclusão representa a visão deles da situação. O futuro da indústria fonográfica de clássicos – e esse é um futuro limitado – está com selos de orçamentos pequenos como o Naxos e outras imitações menores.
As gravadoras costumam dizer: se lançarmos um novo Anel de Wagner, por exemplo, ninguém vai comprar. O sr. concorda?
Nunca haverá uma nova gravação do Anel.
Roberto Alagna foi apenas um dos novos tenores a aparecer na cena musical recente. Mas, como em outros casos, o fenômeno durou pouco. Por que isso? (o contrato de Alagna com a EMI havia sido cancelado dias antes da entrevista)
Alagna foi criado pela indústria fonográfica como um símbolo do futuro. Sem uma figura como essa, não há futuro. Há muitos bons tenores, mas nenhum deles terá a chance de aproveitar o oxigênio da exposição à indústria fonográfica – a não ser que seja um truque pop como o italiano Andrea Bocelli.
O Mito do Maestro, de 1991, discutia a relação dos maestros com o poder. Mais de dez anos depois, como mudou a situação?
Há muitos maestros excelentes, cujo trabalhos são interessantes e consistentes – Mariss Jansons, Valery Gergiev, Franz Welser Moest, Simon Rattle, Antonio Pappano. Mas poucos jovens já ouviram falar deles por causa da falta de oportunidades de gravações. No mundo todo, orquestras e casas de ópera estão fechando ou reduzindo orçamentos e temporadas. Em breve veremos um artigo do sr. prevendo o fim das apresentações ao vivo? Não acredito. O futuro será ao vivo, seja nas salas de concerto ou na internet.

lebrecht ataca novamente

Há alguns anos, o crítico inglês Norman Lebrecht afirmou com todas as letras: a indústria de gravação de discos de música clássica está morta. A idéia e a polêmica que provocou agora estão de volta com "Maestros, Masterpieces and Madness: the Secret Life and Shameful Death of the Classical Record Industry" (em tradução livre: Maestros, Obras-Primas e Loucura: a Vida Secreta e a Morte Vergonhosa da Indústria de Gravação de Clássicos), que Lebrecht lança quinta-feira na Inglaterra. Não é a primeira obra polêmica do crítico, que já assinou, vale lembrar, livros como "Quem Matou a Música Clássica?" e "O Mito do Maestro". Mas a nova obra chega em um momento em que a discussão sobre o fim da indústria fonográfica é cada vez mais alvo de debates. A coisa anda preta. Em 1988, cerca de 700 cds eram lançados por ano no mercado de clássicos. Hoje, são pouco mais de 100 (os números se referem aos grandes conglomerados). A era dos grandes contratos já era. O que aconteceu? A internet e os downloads explicam apenas parte do problema. Excesso de gravações (um exemplo: até o final dos anos 90 haviam mais de 400 versões da "Quinta" de Beethoven disponíveis)? A música clássica é que perdeu sua representatividade como forma de arte? Ou então estamos apenas vivendo um momento de transição e logo tudo vai se resolver e a música ressurgirá, mesmo que talvez em formatos e mídias diferentes? A sensação que eu tenho é que cada uma das perguntas é válida e leva a respostas também importantes, capazes de apontar caminhos. Mas uma resposta mais ampla teria, acredito, que ser um mosaico de respostas a todas essas perguntas. Só não sei se é possível. Enfim, não vi ainda o livro de Lebrecht. O que sei dele é o que está na resenha publicada por Martin Kettle, no "Guardian". Ali, além de informações sobre o livro, há diversos pontos importantes que podem servir como início de discussão para nós. Pronunciem-se.

tristão e isolda em sp

O maestro Daniel Barenboim deu no início da semana uma entrevista coletiva sobre a nova temporada da Staatsoper de Berlim, da qual é o diretor. Entre as novidades, o plano de restauração do prédio a partir de 2010 e a confirmação de que Sir Simon Rattle fará sua primeira apresentação no teatro depois de ter sido escolhido diretor da Filarmônica de Berlim. Para nós, no entanto, a grande novidade é outra. Barenboim anunciou para o ano que vem uma turnê da Staatskapelle, a orquestra do teatro. O grupo viajará para a Ásia e, em seguida, vem à América Latina (São Paulo e Buenos Aires) mostrar uma versão em concerto do "Tristão e Isolda" de Wagner, regência de Barenboim. Ainda não há elenco definido, mas fui xeretar quem está interpretando a ópera na atual produção do teatro: o Tristão é o tenor Clifton Forbis e, Isolda, a soprano Waltraud Meier. Já em 2008, a dupla de protagonistas é formada por Peter Seiffert e Katarina Dalayman. Quem sabe...

stradivarius leiloado por R$ 4,8 milhões

Do portal do Estadão: "Um Stradivarius fabricado em 1729, conhecido como 'Solomon, Ex-Lambert', foi leiloado hoje por U$ 2,4 milhões (R$ 4,8 milhões) pela casa Christie's em Nova York, e se tornou o segundo violino mais caro da história". Continua aqui.

galina vishniévskaia em vídeo

Do Lauro: A versão é a pasteurizada, de 1962, reintitulada "Katerína Izmáilova". Mas o filme de Mikhaíl Shápiro, rodado em 1966, traz – tanto quanto eu sei – a única documentação em imagem de Galina Vishniévskaia em uma ópera completa (ela foi contratada para filmar um "Ievguiêni Oniéguin" regido por Borís Kháikin; mas a burocracia soviética era tão emperrada que, quando a produção ficou pronta, a sra Rostropóvitch estava no sétimo mês de gravidez, e teve de ser substituída por uma atriz, que dublou a sua voz). A partitura é censurada e a ópera, em sua segunda versão, foi impiedosamente cortada, para caber nas proporções de um filme padrão. Ainda assim, é única a possibilidade de ver a amiga pessoal de Shostakóvitch, a cantora para a qual ele escreveu peças fundamentais de seu catálogo, interpretando, de maneira eletrizante, a personagem de sua ópera. Em 1979, no Ocidente, Vishniévskaia e Rostropóvitch gravaram, para o selo EMI, a versão original, a "Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk", violentamente atacada pelo governo stalinista em 1936 (essa é a ópera que será apresentada no Brasil, pela primeira vez, durante o Festival do Teatro Amazonas, regida por Luiz Fernando Malheiro, e tendo Eliane Coelho no papel principal). Em 1979, infelizmente, não foi feito um vídeo com Galina. Ainda bem que, para vê-la e avaliar a qualidade de seu desempenho, existe esse filme. Vendo-a nesse papel em que, da entediada esposa de mercador, corroída por aquele “tédio russo” da província, de que fala Tchekhov, ela passa à mulher dominada pelo desejo e, depois à mulher torturada e prematuramente envelhecida, o paralelo que instintivamente me ocorre, pela intensidade das expressões fisionômicas, é Irene Papas, nas tragédias gregas filmadas por Kakoyánis. A técnica de superposições de imagem, sobretudo nas seqüências iniciais, é bastante datada; e a fotografia, em tons de sépia às vezes verde-azulado, típica do cinema soviético da década de 60, está envelhecida; mas Shápiro é dramaticamente eficiente em cenas como a da alucinação de Kátia, que imagina estar vendo o fantasma de seu sogro, Borís Izmáilov, que ela envenenou; ou a seqüência final, em que ela se atira no Volga, arrastando com ela Soniétka, a nova amante de Serguêi. Se compararmos este DVD à versão completa da "Lady Macbeth", filmada no Gran Liceu de Barcelona, com Nadine Secunde, não há como não concluir que esta Kátia Izmáilova – apesar de todas as desvantagens que apresenta – pertence a uma categoria superior de documentação da arte lírica no que ela tem de mais impressionante.

a noite de 12 de maio de 1958

Outro dia o Daniel Piza comentou comigo a idéia de um livro que relembrasse algumas das grandes noites da história da música, a estréia de grandes obras, orquestras, etc. Seria difícil escolher apenas algumas. Mas na minha lista entraria sem dúvida a noite do dia 12 de maio de 1958, quando estreou no Covent Garden, em Londres, uma nova produção do “Don Carlo" de Verdi, assinada por Luchino Visconti e Carlo Maria Giulini. Com um elenco de estrelas, encabeçado por Boris Christoff como Felipe II, a produção foi um marco na história acidentada desta ópera de Verdi, iniciando um processo de reavaliação que logo faria dela uma das obras mais comentadas do repertório. Se eu estiver errado, me avisem, mas acho que não sobrou nenhum registro de vídeo da produção. O que é uma pena – teria sido muito bom ver a montagem de Visconti. As fotos nos dizem que se tratatava de uma produção tradicional. Mas o que elas não nos dizem é aquilo que algumas testemunhas mais tarde contaram: o modo como Visconti conseguiu retratar bem o espírito decadentista da obra a partir da caracterização de cada personagem. Mas ao menos sobreviveu o registro em áudio. Ele havia sido lançado há alguns anos pelo selo Myto, mas agora ganha edição de colecionador dentro da Heritage Series criada pelo Covent Garden com o objetivo de lançar algumas das principais gravações de seu acervo. Além da edição mais bem cuidada, a qualidade do som é melhor na comparação com o box da Myto e, no último disco, há um bônus, uma entrevista de pouco mais de 20 minutos com Lord Harewood, o homem por trás da produção, que conta sua história desde a conversa inicial entre Giulini e Visconti até a estréia. Não é novidade nenhuma dizer que Don Carlo depende fundamentalmente de um grande elenco. Da maneira como está construída a ópera, todos os seis personagens principais podem ser vistos de certa forma como protagonistas. Naquela noite, o elenco era de primeira: além de Christoff, subiram ao palco Jon Vickers (Don Carlo), Gre Brouwenstijn (Elisabetta), Tito Gobbi (Posa), Michael Langdon (Inquisidor - a primeira escolha foi o baixo italiano Giulio Neri, que morreu pouco antes do início dos ensaios) e Fedora Barbieri (Eboli). Uau! Eles obtém o máximo das grandes cenas da ópera (a entrada de Langdon no quarto ato e o dueto com Christoff são de arrepiar). Mas a regência de Giulini não é mero detalhe. Apesar de ter escolhido a versão em cinco atos, ele faz uma série de cortes na partitura, diminui algumas árias e duetos e exclui totalmente a cena da Inquisição. Mas basta ouvir como ele equilibra as vozes em momentos como a intervenção dos deputados no ato 3 ou o quarteto do ato 4 para ver como ele é extremamente hábil em explorar as qualidades evidentes do elenco que tem à disposição, tudo isso dentro de uma visão bastante pessoal da partitura. Eu sei: sou muito jovem para ser saudosista; mas maestros de ópera assim fazem falta.