terça-feira, 3 de abril de 2007

ainda sobre lebrecht

Em 2004, poucos dias depois de ter escrito que aquele seria o último ano da indústria de música clássica e do New York Times ter publicado um artigo de Anthonhy Tommasini refutando a idéia, Lebrecht me concedeu uma entrevista por e-mail sobre o assunto. Só para acrescentar dados à discussão, a reproduzo aqui.
Em artigo recente, o sr. prevê o fim da indústria fonográfica de clássicos. De quem é a culpa?
De todos. A economia corporativa, a vaidade dos artistas, a ganância dos agentes.
Como o sr. responderia à crítica de Anthony Tommasini, que considera sua conclusão “absurda”?
Ele está mal informado. Discuti esse assunto com os chefes dos principais selos. Minha conclusão representa a visão deles da situação. O futuro da indústria fonográfica de clássicos – e esse é um futuro limitado – está com selos de orçamentos pequenos como o Naxos e outras imitações menores.
As gravadoras costumam dizer: se lançarmos um novo Anel de Wagner, por exemplo, ninguém vai comprar. O sr. concorda?
Nunca haverá uma nova gravação do Anel.
Roberto Alagna foi apenas um dos novos tenores a aparecer na cena musical recente. Mas, como em outros casos, o fenômeno durou pouco. Por que isso? (o contrato de Alagna com a EMI havia sido cancelado dias antes da entrevista)
Alagna foi criado pela indústria fonográfica como um símbolo do futuro. Sem uma figura como essa, não há futuro. Há muitos bons tenores, mas nenhum deles terá a chance de aproveitar o oxigênio da exposição à indústria fonográfica – a não ser que seja um truque pop como o italiano Andrea Bocelli.
O Mito do Maestro, de 1991, discutia a relação dos maestros com o poder. Mais de dez anos depois, como mudou a situação?
Há muitos maestros excelentes, cujo trabalhos são interessantes e consistentes – Mariss Jansons, Valery Gergiev, Franz Welser Moest, Simon Rattle, Antonio Pappano. Mas poucos jovens já ouviram falar deles por causa da falta de oportunidades de gravações. No mundo todo, orquestras e casas de ópera estão fechando ou reduzindo orçamentos e temporadas. Em breve veremos um artigo do sr. prevendo o fim das apresentações ao vivo? Não acredito. O futuro será ao vivo, seja nas salas de concerto ou na internet.

Nenhum comentário: