terça-feira, 20 de novembro de 2007
duas valquírias e um pedido
Recentemente, o baixo-barítono Bryn Terfel cancelou sua participação na remontagem do "Anel", de Wagner, no Covent Garden. E quem foi chamado para substituí-lo? John Tomlinson. É impressão minha ou ressuscitar o Tomlinson, que no início dos anos 90 já dava sinais de desgaste, é sinal de que não há muitos Wotans disponíveis no mercado? Bom, estou desviando do assunto. Na verdade, queria comentar que acrescentei duas Valquírias à minha estante mental (porque na física já não cabe mais...). Quem acompanha o blog há um tempo vai dizer: "E qual a novidade nisso?". Nenhuma, a Valquíria segue como obsessão particular, mas não muito privada, afinal lá vou eu falar um pouquinho delas. Já que falei no Terfel, começo com a produção do Covent Garden, filmada em 2005, que um amigo baixou da internet. O elenco tem Lisa Gasteen como Brunhilde, Katharina Dalayman como Sieglinde, Jorma Silvestri como um Siegmund de dar dó e, claro, uma Fricka impressionante de Rosalind Plowright (nostalgia, apego ao passado, que seja, mas a velha escola é a velha escola...). Mas o destaque mesmo é o Wotan do Terfel. Gosto demais da voz dele - e todas as suas grandes qualidades, a riqueza de coloridos, os contrastes habilmente construídos, a clareza e limpidez tanto nos graves quanto nos agudos, a elegência, preenchem muito bem as exigências de um dos maiores papéis do repertório. Seu monólogo no segundo ato é comovente, a elegância da voz aos poucos se abrindo em tons escuros, sombrios e desesperados, a representação perfeita do deus que percebe a própria decadência e, se vendo no espelho que é a filha, se dá conta da necessidade de matar aquilo que de mais valioso conhece, não apenas seu filho mas, antes de tudo, a certeza de estar agindo em busca de um mundo ideal; no terceiro ato, ele faz uma cena final de chorar. Que grande cantor! Bom, na outra Valquíria, Wotan é interpretado por James Morris. É uma gravação, em CD, regida pelo Haitink, de 1988. Aqui, no entanto, não dá para escolher um destaque. Há uma homogeneidade interessante, da Sieglinde de Cheryl Studer ao Wotan de Morris, passando pelo Siegmund de Reiner Goldberg, pela Fricka de Waltraud Meier (talvez ela um pouco acima da média) e pela Brunhilde de Eva Marton. Não me entendam mal. A gravação não é ruim. Reúne bons cantores wagnerianos, no auge de seus potenciais, fazendo tudo certinho, mas sem nos surpreender em nenhum momento. O que, aliás, está em conssonância com a regência de Haitink, correta, e é só. Já foram duas valquírias, falta o pedido... Sei que o Lauro, recentemente, conheceu a produção do Liceu de Barcelona no DVD distribuído pela Opus Arte. Lauro, ficamos no aguardo de seus comentários.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário