segunda-feira, 26 de novembro de 2007

rio (3)

Um pouco sobre a "Carmen" do Municipal. Achei a concepção cênica, com projeções em preto e branco, em contraste com eterno vermelho que acompanha as montagens da ópera, sem graça, pouco original, sem interferir muito na compreensão do espetáculo. Mas o problemático mesmo é a orquestra. Dá para ter uma boa idéia da enormidade do trabalho que espera o novo regente. O desempenho é muito desigual. Em uma versão em concerto, sem cenários e figurinos, a orquestra ganha importância ainda maior na construção dos climas, na descrição das cenas. O que se ouviu, no entanto, foi uma interpretação sem contrastes, com desequilíbrio entre naipes, com a orquestra atravessando os cantores a torto e a direito e matando toda a transparência da partitura de Bizet. Restou aos cantores conseguir segurar a apresentação - e saíram-se todos bem, dentro do possível imposto pelas condições, afinal, sem cenários e figurinos e com a orquestra para atrapalhar, fica difícil...

5 comentários:

Euterpe e Clio disse...

Olá, João Luiz. Desculpe não estar aqui comentando sobre a Carmen do Municipal, que eu não pude assistir, infelizmente. Eu só quero aproveitar o espaço para falar de algo que eu descobri hoje e queria compartilhar com todos. Todos nós conhecemos aqueles CDs muito baratos vendidos em coleções nas lojinhas, bancas de jornal, etc., onde aparecem gravações de orquestras aparentemente desconhecidas (Philharmonia Slavonica, Camerata Romana etc.) e maestros os mais ignotos (Alberto Lizzio, Eugen Duvier, etc.). Pois bem, peço a todos que leiam este artigo (em italiano e inglês):

http://www.harmoniae.com/orchestre_fantasma.cfm

Lido até o fim, ele vai revelar muitas coisas.

Acho que a questão é de interesse geral, já que tais gravações têm enorme circulação, e são vendidas até em grandes e famosas bookstores.
Meus cumprimentos ao blog.

Euterpe e Clio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Euterpe e Clio
no início da década de 90, editei, para a Abril Cultural, um Guia de CDs que, infelizmente, teve vida curta -- não passou do primeiro número, pois a editora não se animou a levá-lo em frente. Nele, já eram denunciados os problemas mencionados na matéria -- muito interessante -- cuja leitura você recomenda: nomes guarda-chuva de regentes e orquestras, para dissimular registros comprados a preço de banana no Leste Europeu; e a freqüência com que gravações mono eram mascaradas e impingidas como digitais. Já naquela época, Alberto Lizzio e Alfred Scholz eram nomes comuns nesses discos. E grandes orquestras como a Sinfofilarmônica da Pomerânia apareciam a três por dois. Não é de hoje que esse trambique é utilizado, e gravadoras como a Gala Movieplay são useiras e vezeiras em lançar mão dele, para bigodear o pagamento de direitos autorais. Da mesma forma, encontramos, ao preparar aquele Guia, diversas gravações feitas por artistas que tinham morrido antes do aparecimento do disco digital. Lembro-me de ter dito, numa das resenhas, que esse Lizzio devia ser ciclotímico porque, em algumas gravações, seu desempenho era excelente e, em outras, abaixo da crítica.
Um abraço.
Lauro Machado Coelho.

joãosampaio disse...

euterpe e clio, olá! obrigado pela dica, não precisa se desculpar por colocá-la aqui no post da carmen, sugestões serão sempre bem recebidas. puxei o artigo para um post, podemos levar a conversa para lá, abração, joão

Anônimo disse...

interessante esse "retorno dos zumbis"; no início da década de noventa esse trambique havia sido denunciado na França pelo "Le Monde de la Musique" que publicou extensa matéria sobre a febre de venda de discos a preço de banana nos supermercados franceses (exatamente o Carrefour), omitindo os verdadeiros músicos - iniciava-se então a "descoberta" dessas orquestras dos países do leste, naquele momento em processo de superação do modelo socialista - e, o que é muito pior, acusando as gravadoras de apropriação de antigas gravações da VOX e de outros selos de LP que não haviam ainda entrado no universo do CD, em uma contravenção que lembra muito o acontecido com o viúvo da Joyce Hatto recentemente.

como aqueles selos de baixo custo praticamente desapareceram diante do fenômeno Naxos, achei que a questão havia sido superada.

Curiosidade: o único regente que realmente existia naquele extenso catálogo de falsificações era o Anton Nanut, que me aprece esteve em SP há algum tempo...