Você se lembra de Andrei Gavrilov? Há alguns anos eu ouvi um CD em que ele fazia o "Concerto nº 2" de Rachmaninoff com a Orquestra de Filadélfia e o Riccardo Muti, se não me engano. O disco era interessante, mas nunca mais ouvi falar em seu nome. Até que agora há pouco vi no "Guardian" uma entrevista com ele. E fiquei sabendo que foi um dos mais jovens vencedores do Concurso Tchaikovski, nos anos 70; que foi proibido de sair da União Soviética por 9 anos; e que, um certo dia, em 1999, acho, simplesmente largou tudo - concertos com as principais orquestras do mundo, contrato exclusivo com a Deutsche Grammophon, etc, etc. Agora, mais de dez anos depois, ele está tentando voltar à cena, cheio de críticas ao mundo musical, à correria que exige dos artistas, às gravadoras. A entrevista é boa até porque o repórter encosta Gavrilov na parede algumas vezes e vai atrás de várias fontes para entender o momento em que ele, hoje com 51 anos, resolveu abandonar tudo o que havia conseguido. O Guardian disponibiliza também gravações gratuitas dos Noturnos de Chopin. Para quem já o conhecia, um reencontro, para quem não conhece, taí uma boa chance.
segunda-feira, 25 de dezembro de 2006
a idéia era boa...
A imprensa americana começa a publicar as primeiras impressões sobre "The Firts Emperor", ópera do compositor chinês Tan Dun, que teve sua estréia na semana passada no Metropolitan de Nova York. O libreto em inglês, assinado por Ha Jin, conta a história de Qin Shi Huang, o príncipe que unificou a China por meio da conquista brutal de outros Estados e tornou-se o primeiro imperador do País. Há motivos de sobra para comemorar - um grande orçamento (US$ 2,5 milhões) para uma nova obra, ingressos esgotados para toda a primeira temporada, a presença de artistas como o tenor Placido Domingo, etc. Mas, quanto à ópera em si, as impressões têm sido bem negativas. Associated Press, Cox News Service, Reuters, todas mandaram seus críticos para a estréia. A opinião é basicamente a mesma: a idéia era ótima; a realização, nem tanto. Uma boa dica de leitura é a crítica de Anthony Tomasini, do New York Times, que sintetiza todas as questões referentes à obra. Para ler, clique aqui.
"the first emperor" - ópera de Tan Dun
sexta-feira, 22 de dezembro de 2006
sonhos distantes
Há uns dois anos o jornal me pediu que tentasse entrevistar o maestro Claudio Abbado. A tarefa era virtualmente impossível, mas lá fui eu. Comecei indo atrás das nossas sociedades de concertos internacionais, que me passaram contatos de empresários que, por sua vez, me direcionaram para os relações públicas das orquestras com que ele trabalhava mais diretamente. Três semanas depois, chegou o "não definitivo" da RP da Mahler Chamber Orchestra, com quem o Abbado estava na Itália fazendo um "Cosi Fan Tutte". Mas, enfim, tudo isso era para contar que, no meio do caminho, entrei em contato com a responsável pelo departamento de imprensa do Festival de Lucerna, cuja orquestra era - e ainda é - dirigida pelo Abbado. Não me lembro do nome dela e acho que ela até já mudou de emprego, mas ela foi extremamente simpática, bastante interessada em saber das coisas da música aqui no Brasil. E, desde então, recebo anualmente os livrinhos com a programação do festival suíço. E é sempre a mesmo coisa: ô vontade de poder estar lá para assistir pelo menos alguns dos concertos! Acabei de receber a temporada 2007. Vale, antes, lembrar que a Orquestra do Festival é formada por alguns dos principais solistas de todo o mundo. Emmanuel Pahud, por exemplo, é o primeira flauta, os integrantes do Quarteto Hagen engrossam as fileiras das cordas, Sabine Meyer lidera os clarinetes, para não falar dos músicos das principais orquestras do mundo que aparecem por lá e participam do conjunto. E a regência é do Abbado (em DVD tem uma série de sinfonias de Mahler gravadas ao vivo). Só isso já valeria a viagem. Mas tem mais, muito mais. Os integrantes da orquestra fazem uma série de recitais de música de câmara ao longo do evento, que recebe também uma série de conjuntos convidados. Este ano, a lista inclui o Ensemble Intercontemporain (Boulez na regência), a Sinfônica de Boston (James Levine regendo "O Castelo do Barba Azul" de Bartok e a "Danação de Fausto", de Berlioz, com Yvonne Naef, Marcelo Giordanni e Jose Van Dam), a Filarmônica de Viena (regência de Barenboim), a Filarmônica de Berlim (Simon Rattle), a Orquestra do Concertgebouw (Haitink), a Filarmônica de São Petersburgo (Temirkanov), a Chamber Orchestra of Europe (Jiri Behlolavek), a Oquestra da Baviera (Janssons), a Orquestra do Gewandhaus (Chailly), a Sinfônica de São Francisco (Tilson Thomas), a Sinfônica de Londres (Colin Davis), a Filarmônica de Israel (Mehta), além dos recitais do pianista Pierre Laurent-Aimard, da soprano Renèe Fleming, da contralto Nathalie Stuztman, etc, etc, etc. Os programas? Não vou ficar detalhando todos eles aqui, mas o Abbado vai fazer a Terceira de Mahler, Barenboim vai fazer concertos de Bartok, Beethoven e reger sinfonias de Bruckner, a Sinfônica de Bamberg vai encenar O Ouro do Reno, o Rattle rege a Nona de Mahler em um programa e, no outro, uma seleção de obras do século 20 e século 21, para não falar de autores como Ives e Carter que serão interpertados pelas orquestras americanas. E isso é apenas uma parcela, pequena, de tudo que vai ser feito por lá em agosto do ano que vem. Ô vontade....
quarta-feira, 20 de dezembro de 2006
sonatas de beethoven - e é grátis
Talvez eu seja o último a saber, mas agora há pouco passeando pelo site do jornal inglês "The Guardian" encontrei um pequeno link anunciando o download gratuito de palestras sobre as sonatas para piano de Beethoven. Sempre fico meio desconfiado com essas coisas de download gratuito, esperando algum tipo de pegadinha. Mas não. No endereço http://music.guardian.co.uk/classical/page/0,,1943867,00.html você encontra o link para uma série de palestras que o pianista Andras Schiff deu em Londres sobre cada uma das sonatas. Você escolhe a da sua preferência e, rapidinho, começa a ouvir a voz de Schiff, que intercala seus comentários com exemplos ao piano.
segunda-feira, 18 de dezembro de 2006
idomeneo em berlim - enquete
Há um momento na ópera “Idomeneo”, de Mozart, em que o protagonista anuncia a morte dos deuses. Ele está se referindo a Netuno. Mas, preparando uma produção da obra para a Deutsche Oper de Berlim, o diretor Hans Neunfels teve uma idéia e, neste momento da ação, enfileira no palco as cabeças de Netuno, Jesus, Buda e Maomé. O objetivo, explicou, era evidenciar “a tentativa do protagonista de se libertar da ditadura dos deuses”, fazendo, claro, alusões ao momento atual. A produção estreou em 2003 e a cena não gerou muita polêmica a não ser por alguns discretos comentários de reprovação enviados por representantes das comunidades cristã e budista de Berlim. Em setembro, porém, a ópera seria remontada. Mas o telefone da Deutsche Oper tocou, anunciando anonimamente uma “possível reação negativa de grupos radicais islâmicos à montagem”. A diretora do teatro, Kirsten Harms, resolveu cancelar as apresentações. E o caos se instarou. “A autocensura é uma coisa inaceitável”, disse a chanceler Angela Merkel, até porque, no mesmo dia do cancelamento, ela havia proferido um discurso inflamado conclamando “os alemães a lutar contra qualquer ameaça à liberdade de expressão e a preferências religiosas”. “Isso é loucura. Isso é inaceitável”, completou o ministro do Interior Wolfgang Schaeuble. Pois bem, voltou-se atrás e hoje a produção, que havia sido substituída por récitas de As Bodas de Fígaro, subiu enfim ao palco, sob um forte esquema de segurança – além de revistas na entrada do teatro, cada membro da audiência recebeu instruções sob possíveis rotas de fuga no caso de algum incidente. O que sobra desta história – ao menos por enquanto, já que a récita ainda está rolando enquanto escrevo este post – é o debate: foi correta a decisão da Deutsche Oper de cancelar a produção, pensando, como anunciado, na segurança da platéia? Ou tratava-se de um risco que o teatro precisava correr em nome da liberdade de expressão? Ou ainda: nada disso teria acontecido se o diretor tivesse se limitado ao original de Mozart. O que vocês acham?
são pedro em 2007
Saiu a temporada de óperas 2007 do Teatro São Pedro. São 12 títulos, além dos concertos e recitais de canto que também farão parte da agenda. São eles: Lucia di Lammermoor, de Donizetti (Emiliano Patarra, regência/ Naum Alves de Souza, direção; março); La Cambiale di Matrimonio e Il Signor Bruschino, de Rossini (Emiliano Patarra, regência; Walter Neiva, direção; maio); O Anjo Negro, de João Guilherme Ripper (Abel Rocha, regência; junho); A Moreninha, de Ernst Mahle (Luiz Fernando Malheiro, regência; Caetano Vilela, direção; julho); Pedro Malazarte, de Camargo Guarnieri (Walter Neiva, direção; regente a ser definido; julho); Il Matrimonio Segreto, de Cimarosa (Henrique Lian, regência; Lívia Sabag, direção; agosto); A Voz Humana, de Poulenc, e O Telefone, de Menoti; Abel Rocha, regência; direção cênica a definir; setembro); Patience, de Gilbert e Sullivan (Paulo Maron, regência e direção; outubro); A Dama de Espadas, de Tchaikovski (montagem da Companhia Helikon Opera, de Moscou; outubro); Rigoletto, de Verdi (Luis Gustavo Petri, regência; Jorge Takla, direção; novembro); e, encerrando o ano, nova produção do Ópera Estúdio, obra a ser definida. Entre os concertos, uma gala lírica dedicada a Strauss, no dia 11 de maio, com Eliane Coelho, Carmen Monarcha e Denise de Freitas e regência de Luiz Malheiro; e a Missa, de Leonard Bernstein, com regência de Ricardo Bologna, no final de junho. Na série Grandes Vozes, recitais e masterclasses da soprano Mariola Cantarero (março) e dos tenores Raul Gimenez (agosto) e Alberto Cupido (outubro).
domingo, 17 de dezembro de 2006
meneses em recife
Uma da manhã, ou algo assim (aqui não tem horário de verão), e cá estou eu no aeroporto de Recife esperando o vôo para São Paulo. O que estou fazendo aqui? Cheguei ontem para acompanhar dois concertos do festival Virtuosi, que está em sua nona edição, e para entrevistar o violoncelista Antonio Meneses. Essas viagens são sempre cansativas mas tem coisas que as fazem valer a pena. Caso do recital que vi agora há pouco no Teatro de Santa Isabel. Foi algo como "Antonio Meneses & Friends". O violoncelista dividiu o palco com artistas como o flautista Rogério Wolff, o contrabaixista Sérgio de Oliveira, o violinista Yeheskel Yerushalmi, spalla da orquestra do Maggio Musicale de Florença, e a pianista Ana Lúcia Altino. No repertório, Villa-Lobos, Rossini, Beethoven, Marlos Nobre, entre outros. A gente já sabia que a música de câmara é a praia de Meneses. Mas vê-lo em uma noite como a de hoje, se adaptando a cada intérprete, tocando um repertório que vai do barroco ao século 20, é um lembrete mais que bem-vindo. A propósito: na conversa que tivemos hoje de manhã, Meneses disse que assim que conseguirem um espaço em suas agendas, ele e o pianista Gerald Wyss voltam ao estúdio, agora para gravar Mendelssohn - os dois acabam de lançar, pelo selo Clássicos, um belíssimo disco dedicado a Schumann e Schubert.
quarta-feira, 13 de dezembro de 2006
seminário das orquestras - balanço (2)
“Eu queria me desculpar com vocês por, a todo momento, pedir a palavra. Mas é que a gente fica isolado fazendo nosso trabalho e quando tem oportunidade para compartilhar problemas precisa aproveitar.” A declaração do maestro carioca Ricardo Rocha, da Cia. Bachiana Brasileira, resume bem a tônica do 1º Seminário Osesp de Orquestras Sinfônicas. Por mais que o tema principal tenha sido a relação dos conjuntos com o poder público, cada participante trouxe à discussão algo da sua experiência, diversificando os debates. Um dos assuntos mais polêmicos diz respeito aos patrocínios privados. Ficou clara a necessidade da existência de um plano de marketing que permita às orquestras sensibilizar os patrocinadores. Mas há o medo de que a
recém-criada lei de incentivo aos esportes tire da cultura possíveis patrocinadores. Da mesma forma, não seria melhor desvincular das leis de mercado a atividade orquestral, criando mecanismos de investimento direto do Estado? Se as orquestras precisam encontrar justificativa em suas comunidades, reunindo o público em torno de sua programação e, com isso, conseguindo poder de barganha junto ao governo, é justo perguntar: que público é esse? Ou então: como conseguir novos públicos? Projetos educacionais ajudam, claro. E é natural que, com uma programação regular, atraente, as orquestras acabem formando novas platéias. Mas as contribuições de Carlos Eduardo Prazeres, da Petrobrás Sinfônica, e do maestro John Neschling, da Osesp, são pertinentes: formar público é função das orquestras ou do governo, que deveria resgatar a discussão sobre a educação musical nas escolas, entendendo a arte como instrumento de formação de cidadãos, como colocou o maestro Gil Jardim? Ainda no que diz respeito ao público, como se desenvolve essa relação com a comunidade? Ficou claro, ao menos, que é nela que está a legitimidade da atividade cultural, que precisa estar presente no dia-a-dia das pessoas. Neste quesito, entram elementos como a formatação da programação. É claro que deve ser oferecido ao público o repertório mais conhecido, as grandes obras. Mas não seria função das orquestras também ampliar os horizontes de seus ouvintes? Parece consenso que sim. Da mesma forma, o repertório nacional deve ser prioridade. Mas neste ponto é urgente a criação de um banco de partituras, com edições de qualidade. Como colocou Jamil Maluf, editar uma partitura é um trabalho de extrema dificuldade – e a escolha de profissionais para fazê-lo deve seguir critérios técnicos e não políticos. Este, aliás, é ponto pacífico: profissionalização passa necessariamente pela formação de mão-de-obra qualificada e especializada. Estes são alguns dos muitos tópicos levantados. E o desenvolvimento deles, ao longo do ano, será a pauta principal do segundo seminário, que já tem data marcada: dezembro de 2007. E a Petrobrás Sinfônica vai estudar a possibilidade de realizá-lo no Rio. Caso não seja possível, a Sala São Paulo volta a ser o palco para se discutir os rumos da vida orquestral brasileira.
recém-criada lei de incentivo aos esportes tire da cultura possíveis patrocinadores. Da mesma forma, não seria melhor desvincular das leis de mercado a atividade orquestral, criando mecanismos de investimento direto do Estado? Se as orquestras precisam encontrar justificativa em suas comunidades, reunindo o público em torno de sua programação e, com isso, conseguindo poder de barganha junto ao governo, é justo perguntar: que público é esse? Ou então: como conseguir novos públicos? Projetos educacionais ajudam, claro. E é natural que, com uma programação regular, atraente, as orquestras acabem formando novas platéias. Mas as contribuições de Carlos Eduardo Prazeres, da Petrobrás Sinfônica, e do maestro John Neschling, da Osesp, são pertinentes: formar público é função das orquestras ou do governo, que deveria resgatar a discussão sobre a educação musical nas escolas, entendendo a arte como instrumento de formação de cidadãos, como colocou o maestro Gil Jardim? Ainda no que diz respeito ao público, como se desenvolve essa relação com a comunidade? Ficou claro, ao menos, que é nela que está a legitimidade da atividade cultural, que precisa estar presente no dia-a-dia das pessoas. Neste quesito, entram elementos como a formatação da programação. É claro que deve ser oferecido ao público o repertório mais conhecido, as grandes obras. Mas não seria função das orquestras também ampliar os horizontes de seus ouvintes? Parece consenso que sim. Da mesma forma, o repertório nacional deve ser prioridade. Mas neste ponto é urgente a criação de um banco de partituras, com edições de qualidade. Como colocou Jamil Maluf, editar uma partitura é um trabalho de extrema dificuldade – e a escolha de profissionais para fazê-lo deve seguir critérios técnicos e não políticos. Este, aliás, é ponto pacífico: profissionalização passa necessariamente pela formação de mão-de-obra qualificada e especializada. Estes são alguns dos muitos tópicos levantados. E o desenvolvimento deles, ao longo do ano, será a pauta principal do segundo seminário, que já tem data marcada: dezembro de 2007. E a Petrobrás Sinfônica vai estudar a possibilidade de realizá-lo no Rio. Caso não seja possível, a Sala São Paulo volta a ser o palco para se discutir os rumos da vida orquestral brasileira.
seminário das orquestras - balanço (1)
Para quem não leu no Estadão de ontem, segue, em duas partes, o balanço do I Seminário Osesp de Orquestras Sinfônicas.
“Liga? Mas fica parecendo coisa de escola de samba...”. “Ué, oxalá a gente consiga atingir o nível de organização desse pessoal.” E assim era criada na tarde de domingo na Sala São Paulo a Liga das Orquestras Sinfônicas Brasileiras. Foi o último ato de um seminário que discutiu desde sexta-feira a situação das orquestras no País. Vários temas foram abordados, mas uma
realidade perpassou todos eles. A música de concerto está nas mãos do poder público. E ele não tem idéia do que fazer com ela. Para mudar este quadro, chegou-se à conclusão de que os artistas precisam de poder para exigir políticas culturais claras para o setor. E isso só acontece com representatividade. Daí a liga, que passa desde agora a reunir os principais conjuntos sinfônicos em atividade regular no País. O tom do seminário, promovido pela Fundação Osesp, foi dado logo na abertura, na sexta de manhã, com discurso do ministro da Cultura Gilberto Gil. Após definir a música clássica como símbolo da permanência da arte ocidental e da necessidade de sua constante reavaliação, ele reconheceu a inexistência de uma política cultural para o setor. Um dia antes, na quinta, o escritor Elder Vieira, coordenador do Plano Nacional de Cultura, já havia se referido ao setor, em encontro da classe musical promovido pela Philarmonia Brasileira, como uma “lacuna” dos últimos quatro anos de gestão pública. “É urgente a criação de uma política sistemática para a área. Mas precisamos de informações para criar planos de ação consistentes”, disse o ministro. A declaração caiu como uma luva em um painel que tinha como objetivo discutir a relação das orquestras com o poder público. O ministro não ficou até o final. Se tivesse ficado, teria ouvido dos demais participantes que não há música de concerto e ópera sem dinheiro público. Seja por meio de investimentos diretos, seja pelas leis municipais, estaduais e federais de incentivo à cultura, é o Estado quem banca tudo. Mas não se trata só de dinheiro. O que falta é infra-estrutura. Para ficar em um exemplo: quem quiser hoje interpretar a música de compositores brasileiros como Carlos Gomes, Villa-Lobos ou Camargo Guarnieri se depara com a falta de edições das partituras, ficando obrigado a utilizar material muitas vezes repleto de erros e imprecisões; isso poderia ser resolvido com a criação de um banco de partituras preocupado em editar e disponibilizar este material. Da mesma forma, precisaria partir do governo a volta da discussão sobre educação musical nas escolas. E assim por diante. Mas para que isso aconteça, porém, é preciso mudar a relação entre orquestra e Estado. “O que se percebe aqui é que houve uma precarização da nossa atividade. De quem é a culpa? Nossa? Do governo? Há um sistema educacional falho. Há a descontinuidade: tudo muda de quatro em quatro anos e a cultura deve ser um processo mais amplo, longo. Tudo isso é fato. Mas ficar pendurado no poder público não ajuda, esta relação de dependência gera vícios difíceis de contornar. As orquestras precisam aprender a andar com seus próprios pés”, disse o maestro Jamil Maluf, diretor artístico do Teatro Municipal de São Paulo. Marcelo Lopes, diretor executivo da Osesp, completou. “No começo, dependíamos da sensibilidade de algumas pessoas no governo para conseguir levar adiante o projeto Osesp. Mas acabamos criando um projeto consistente, ligado à comunidade o suficiente para transformar qualquer tentativa de acabar com a orquestra em um enorme prejuízo político.” Em outras palavras, chegou a hora de as orquestras começarem a pensar em seu lugar no mercado. Mostrar aos governos porque são importantes. Para isso, no entanto, parece ser consensual a necessidade de uma nova realidade institucional para as orquestras. A Osesp, por exemplo, virou fundação. O Municipal de São Paulo encaminha em fevereiro para a Câmara de Vereadores projeto semelhante. O modelo não prevê a exclusão do Estado, pelo contrário: ele permaneceria como principal financiador. Mas permite maior agilidade na gestão, na captação de patrocínios, por exemplo, impedindo que os humores políticos interfiram demais no trabalho artístico. Profissionalização parece ser a palavra de ordem do momento. Seja na relação com o Estado, seja na estruturação de projetos que possam atrais a iniciativa privada. O que ficou claro, no entanto, é que a realidade das orquestras é muito distinta. Participaram do seminário, além da Osesp e do Municipal de São Paulo, instituições como as sinfônicas de Porto Alegre, Paraná, Sergipe, Goiás, a Petrobrás Sinfônica, a Orquestra do Teatro Municipal do Rio, a Sinfônica Nacional, ligada à Universidade Federal Fluminense, a Bachiana Brasileira, a Orquestra de Câmara da Universidade Federal da Bahia, a Sinfônica da USP, entre outros. Os contextos de trabalho são distintos . E os problemas também. Se de um lado há grupos tentando refinar as relações de trabalho há outros que enfrentam problemas estruturais que colocam obstáculos a sua própria existência. E é por isso que a liga surge também com o objetivo de propor intercâmbio de experiências. Na ata de fundação, estão previstos, por exemplo, o intercâmbio artístico e de acervos de partituras, grupos de trabalho para discutir aperfeiçoamento da legislação que rege a atividade orquestral, troca de know-how administrativo e operacional e a criação de um núcleo de formação de mão-de-obra específica para orquestras sinfônicas. Vai funcionar? A pergunta é simples mas estava na cabeça de todos os presentes no seminário. Carlos Eduardo Prazeres, ao discursar em favor da criação da liga, idéia surgida na sexta-feira durante intervenção do maestro John Neschling, dá a pista do primeiro obstáculo a ser ultrapassado. “Chega de vaidades, de brigas pessoais entre maestros, de ciúmes, invejas. Enquanto a gente briga, nosso público está envelhecendo e as salas estão ficando vazias.” Fica anotado.
“Liga? Mas fica parecendo coisa de escola de samba...”. “Ué, oxalá a gente consiga atingir o nível de organização desse pessoal.” E assim era criada na tarde de domingo na Sala São Paulo a Liga das Orquestras Sinfônicas Brasileiras. Foi o último ato de um seminário que discutiu desde sexta-feira a situação das orquestras no País. Vários temas foram abordados, mas uma
realidade perpassou todos eles. A música de concerto está nas mãos do poder público. E ele não tem idéia do que fazer com ela. Para mudar este quadro, chegou-se à conclusão de que os artistas precisam de poder para exigir políticas culturais claras para o setor. E isso só acontece com representatividade. Daí a liga, que passa desde agora a reunir os principais conjuntos sinfônicos em atividade regular no País. O tom do seminário, promovido pela Fundação Osesp, foi dado logo na abertura, na sexta de manhã, com discurso do ministro da Cultura Gilberto Gil. Após definir a música clássica como símbolo da permanência da arte ocidental e da necessidade de sua constante reavaliação, ele reconheceu a inexistência de uma política cultural para o setor. Um dia antes, na quinta, o escritor Elder Vieira, coordenador do Plano Nacional de Cultura, já havia se referido ao setor, em encontro da classe musical promovido pela Philarmonia Brasileira, como uma “lacuna” dos últimos quatro anos de gestão pública. “É urgente a criação de uma política sistemática para a área. Mas precisamos de informações para criar planos de ação consistentes”, disse o ministro. A declaração caiu como uma luva em um painel que tinha como objetivo discutir a relação das orquestras com o poder público. O ministro não ficou até o final. Se tivesse ficado, teria ouvido dos demais participantes que não há música de concerto e ópera sem dinheiro público. Seja por meio de investimentos diretos, seja pelas leis municipais, estaduais e federais de incentivo à cultura, é o Estado quem banca tudo. Mas não se trata só de dinheiro. O que falta é infra-estrutura. Para ficar em um exemplo: quem quiser hoje interpretar a música de compositores brasileiros como Carlos Gomes, Villa-Lobos ou Camargo Guarnieri se depara com a falta de edições das partituras, ficando obrigado a utilizar material muitas vezes repleto de erros e imprecisões; isso poderia ser resolvido com a criação de um banco de partituras preocupado em editar e disponibilizar este material. Da mesma forma, precisaria partir do governo a volta da discussão sobre educação musical nas escolas. E assim por diante. Mas para que isso aconteça, porém, é preciso mudar a relação entre orquestra e Estado. “O que se percebe aqui é que houve uma precarização da nossa atividade. De quem é a culpa? Nossa? Do governo? Há um sistema educacional falho. Há a descontinuidade: tudo muda de quatro em quatro anos e a cultura deve ser um processo mais amplo, longo. Tudo isso é fato. Mas ficar pendurado no poder público não ajuda, esta relação de dependência gera vícios difíceis de contornar. As orquestras precisam aprender a andar com seus próprios pés”, disse o maestro Jamil Maluf, diretor artístico do Teatro Municipal de São Paulo. Marcelo Lopes, diretor executivo da Osesp, completou. “No começo, dependíamos da sensibilidade de algumas pessoas no governo para conseguir levar adiante o projeto Osesp. Mas acabamos criando um projeto consistente, ligado à comunidade o suficiente para transformar qualquer tentativa de acabar com a orquestra em um enorme prejuízo político.” Em outras palavras, chegou a hora de as orquestras começarem a pensar em seu lugar no mercado. Mostrar aos governos porque são importantes. Para isso, no entanto, parece ser consensual a necessidade de uma nova realidade institucional para as orquestras. A Osesp, por exemplo, virou fundação. O Municipal de São Paulo encaminha em fevereiro para a Câmara de Vereadores projeto semelhante. O modelo não prevê a exclusão do Estado, pelo contrário: ele permaneceria como principal financiador. Mas permite maior agilidade na gestão, na captação de patrocínios, por exemplo, impedindo que os humores políticos interfiram demais no trabalho artístico. Profissionalização parece ser a palavra de ordem do momento. Seja na relação com o Estado, seja na estruturação de projetos que possam atrais a iniciativa privada. O que ficou claro, no entanto, é que a realidade das orquestras é muito distinta. Participaram do seminário, além da Osesp e do Municipal de São Paulo, instituições como as sinfônicas de Porto Alegre, Paraná, Sergipe, Goiás, a Petrobrás Sinfônica, a Orquestra do Teatro Municipal do Rio, a Sinfônica Nacional, ligada à Universidade Federal Fluminense, a Bachiana Brasileira, a Orquestra de Câmara da Universidade Federal da Bahia, a Sinfônica da USP, entre outros. Os contextos de trabalho são distintos . E os problemas também. Se de um lado há grupos tentando refinar as relações de trabalho há outros que enfrentam problemas estruturais que colocam obstáculos a sua própria existência. E é por isso que a liga surge também com o objetivo de propor intercâmbio de experiências. Na ata de fundação, estão previstos, por exemplo, o intercâmbio artístico e de acervos de partituras, grupos de trabalho para discutir aperfeiçoamento da legislação que rege a atividade orquestral, troca de know-how administrativo e operacional e a criação de um núcleo de formação de mão-de-obra específica para orquestras sinfônicas. Vai funcionar? A pergunta é simples mas estava na cabeça de todos os presentes no seminário. Carlos Eduardo Prazeres, ao discursar em favor da criação da liga, idéia surgida na sexta-feira durante intervenção do maestro John Neschling, dá a pista do primeiro obstáculo a ser ultrapassado. “Chega de vaidades, de brigas pessoais entre maestros, de ciúmes, invejas. Enquanto a gente briga, nosso público está envelhecendo e as salas estão ficando vazias.” Fica anotado.
segunda-feira, 11 de dezembro de 2006
nelson freire no grammy
O pianista Nelson Freire está concorrendo ao Grammy na categoria melhor solista instrumental em performance com orquestra pelo disco "Brahms: The Piano Concertos", gravado com o maestro Riccardo Chailly e a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig (selo Decca). Ele concorre com o violinista Peter Sheppard Skaerved, que gravou os concertos 1 e 3 de Henze (Sinfônica da Rádio de Saarbrücken, regência de Christopher Lyndon-Gee, selo Naxos); com a pianista Angelin Chang, que gravou os Oiseaux Esotiques, de Messian (Orquestra de Câmara de Cleveland, regência de John McLaughlin Williams, selo TNC); com o pianista Leif Ove Andsnes, que gravou os concertos 1 e 2 de Rachmaninov (Filarmônica de Berlim, regência de Antonio Pappano, selo EMI Classics ); e com Ulla Miilmann, que gravou concertos de Ole Schmidt (Sinfônica Nacional da Dinamarca, regência do compositor, selo Da Capo Records). Os premiados serão anunciados no dia 11 de fevereiro em Los Angeles. A lista completa dos indicados você encontra no site www.grammy.com.
mozart na internet
A notícia vem da agência Reuters. O Mozarteum Internacional, baseado em Salzburgo, acaba de disponibilizar na internet todas as partituras de Mozart. São, ao todo, 24 mil páginas de música, sendo que boa parte das obras vem acompanhada de textos críticos que analisam as composições. A edição que foi para a Internet é a Barenreiter, que recebeu 400 mil euros para aceitar a divulgação on-line. Um dos diretores do Mozarteum, Ulrich Leisinger, contou que nas primeiras duas horas do serviço foram contabilizados 45 mil acessos. Então, não estranhe se o site demorar para carregar. O endereço direto é http://dme.mozarteum.at. Mas o acesso pode ser feito também via site do Mozarteum: http://www.mozarteum.at.
alagna como radamés - não deu certo....
Há alguns dias coloquei aqui a foto de uma nova montagem da "Aida" de Verdi, dirigida por Zeffirelli para abrir a temporada do Scala de Milão. A imagem mostrava Violeta Urmana como Aida e Roberto Alagna como Radamés. Teve gente que duvidou do desempenho do tenor no papel. Bom, estavam absolutamente certos. As agências internacionais informam que, na segunda récita, Alagna foi vaiado de tal maneira após a ária "Celeste Aida" que deixou o palco e não voltou mais, sendo substituído pelo tenor Antonello Palombi - que subiu ao palco de jeans e camiseta, não tendo tempo nem de se trocar. Alagna se disse ofendido pelo público, mas garantiu que voltaria para as récitas seguintes. Mas um dos diretores do Scala, Stephaner Lissner, considerou a atitude do tenor um "desrespeito". E informou que Palombi cantará nas demais récitas.
sábado, 9 de dezembro de 2006
liga das orquestras
Uma atualização quanto à "liga das orquestras", uma entidade que reuniria os principais conjuntos sinfônicos do País, idéia levantada ontem no primeiro dia do Seminário Osesp de Orquestras Sinfônicas. Após os debates de hoje de manhã, estão reunidos agora aqui na Sala São Paulo o diretor executivo da Osesp Marcelo Lopes, a maestrina Lígia Amadio, o diretor executivo da Petrobras Sinfônica Carlos Eduardo Prazeres e o regente da Sinfônica de Minas Gerais Marcelo Ramos - na pauta, a criação de um plano de diretrizes que guiaria a criação da liga, definindo seus parâmetros de funcionamento e seus objetivos.
sexta-feira, 8 de dezembro de 2006
seminário das orquestras - o que rolou (2)
Como o seminário reúne muita gente, representantes das mais variadas orquestras e teatros, muita coisa é dita. Então vou separando em tópicos, para dar conta de (quase) tudo e facilitar um pouco a leitura, ok? Bom, outra coisa que rolou hoje foi a discussão sobre a criação de uma Liga das Orquestras. Quem deu primeiro a idéia foi o maestro John Neschling, na abertura do seminário. E todos os outros participantes parecem ter gostado da sugestão. Carlos Eduardo Prazeres, diretor da Petrobras Sinfônica, foi o mais eloqüente: "A classe precisa se unir para ter representatividade - e poder ir cobrar do poder público políticas para a área. Então, maestros, diretores: chega de vaidade. Enquanto vocês brigam, o público envelhece e as salas ficam vazias". Jamil Maluf, Ligia Amadio, Cleber Papa, foram apenas alguns dos que endossaram a criação do que Heloísa Fischer já está chamando de "liga da justiça sinfônica". Parece ser a primeira realização concreta do seminário, mais pelo apoio que recebeu do que pela definição de como ela seria criada e funcionaria, o que ainda não aconteceu. Será que dá certo?
seminário das orquestras - o que rolou (1)
Estive hoje na Sala São Paulo acompanhando o primeiro dia do I Seminário Osesp de Orquestras Sinfônicas. A programação vai até domingo, faltam ainda quatro mesas e debates, além dos grupos de trabalho. E me comprometo a colocar a cobertura diária do que anda acontecendo por lá. Então, lá vai o relatório de hoje. A primeira mesa discutiu a política cultural para o setor, ou seja, a relação das orquestras com o poder público. Os expositores e debatedores eram: o ministro Gilberto Gil, o maestro Jamil Maluf, o diretor executivo da Osesp Marcelo Lopes, o representante da Sinfônica de Porto Alegre, Evandro Matté, o secretário da Cultura do Rio Noca da Portela e o diretor da Petrobras Sinfonica, Carlos Eduardo Prazeres - a mediação foi de Nelson Kunze, editor da Revista Concerto. A segunda mesa tinha como tema a relação das orquestras com a iniciativa privada, com participação de Carlos Hasawara, diretor de marketing da Osesp, Marcos Caetano, diretor de marketing do Unibanco, José Augusto Müller, representante da Camargo Correa, e o consultor de marketing cultural Yacoff Sarkovas - a mediação foi da jornalista Heloísa Fischer, do guia VivaMúsica!. Isto acertado, vamos a um resumo do que foi dito. O que saiu da primeira mesa é um resumo interessante: seja pelo investimento direto, seja pelas leis de incentivo, o poder público é o responsável pela maior parte da subvenção das orquestras. Ao mesmo tempo, ficou claro que não há uma política cultural pública para o setor. Ou seja, está tudo na mão dos governos - e eles não têm idéia do que fazer, não conseguindo criar uma política de longo prazo e sujeitando a atividade cultural aos humores políticos de ocasião. A segunda mesa começou com o diretor de marketing da Osesp delineando o plano de marketing e captação de recursos da orquestra - coisa bem estruturada, técnica mesmo, do ponto de vista de quem sai atrás do patrocínio; em seguida, os representantes do Unibanco e da Camargo Correa ofereceram o ponto de vista de quem recebe os projetos, discutindo os critérios que utilizam na escolha, o retorno que pode trazer para a marca, as pessoas atingidas, que tipo de retorno de imagem vão ter, etc, etc, ressaltando que, quanto mais consistente o projeto nestes quesitos, maior a chance de conseguir alguma coisa. A segunda mesa esquentou, no entanto, com a participação do Nelson Kunze, agora na platéia, sempre muito equilibrado e preciso nas suas colocações. Relembrando as diferenças que Yacoff Sarkovas tem com as leis de incentivo, ele levou a discussão para um outro patamar, que diz menos respeito ao dia a dia da captação de patrocínios e mais ao conceito por trás dela. O problema de Sarkovas com as leis é muito pertinente. A frase é ótima, então reproduzo: "Verba dada por meio da lei de incentivo não é patrocínio. É apenas o jeitinho brasileiro de transferir a decisão sobre a política cultural para a iniciativa privada." Concordo plenamente com ele. Mas, melhor do que reforçar o que ele já disse, é colocar o outro lado, a opinião daqueles que não concordam, como Marcelo Lopes. O que ele diz? Colocar o poder de decisão sobre os eventos que merecem ou não incentivo na mão de um ocupante de cargo público - alguém que, nesta lógica, estará ligado a interesses políticos - pode levar à interferência ideológica, à proteção partidária, etc, etc, etc. Neste sentido, é melhor que se "democratize" a decisão deixando-a na mão das empresas, o que daria diversidade às escolhas. O problema aqui, no entanto, é que as empresas não estão preocupadas com a cultura nacional e, sim, com a divulgação de suas marcas. E nem sempre as duas coisas coincidem. Além disso, diz Sarkovas, a escolha não seria feita por uma pessoa e, sim, por entidades independentes que, dentro das diretrizes da política cultural oferecidas pelo governo, escolheriam os projetos. Para encerrar, ele mostrou também que, do modo como estão, as leis de incentivo, moda cada vez mais difundida, não são economicamente sustentáveis, ou seja, mais cedo ou mais tarde, vão ter que ser mudadas. E aí é torcer para que a hecatombe que vai se seguir não destrua de vez tudo o que já foi feito. No fundo, para encerrar, pensando as duas mesas em conjunto: falta política cultural para a área, seja na falta de investimentos diretos seja na falta de ajustes e regulamentações que as leis de incentivo precisam sofrer. Por enquanto, vamos indo. Mas dá um frio na espinha.... E, vocês, o que acham?
quarta-feira, 6 de dezembro de 2006
aida no scala
a música clássica na imprensa
O jornalista Clóvis Marques, militante na vida musical carioca, acaba de publicar no site Opinião e Notícia uma série de entrevistas sobre a música clássica na imprensa. Ele ouviu os jornalistas Lauro Machado Coelho, Luiz Paulo Horta, Irineu Franco Perpétuo e João Batista Natali. O texto completo você encontra no site http://opiniaoenoticia.com.br/interna.php?mat=6812. Todos eles responderam a quatro perguntas: qual a orientação das direções dos jornais na cobertura de clássicos?; é adequado o espaço dedicado à música clássica no seu jornal?; qual deve ser o papel de um crítico?; qual a orientação que costuma imprimir em suas críticas? As respostas não esgotam o assunto mas oferecem um panorama bastante diversificado da atividade crítica e seus dilemas. Vale a leitura.
terça-feira, 5 de dezembro de 2006
a nova lista das "big five"
Pierre Boulez disse certa vez que música não é olimpíada. Mas desde os anos 50, os americanos montam sua vida orquestral sobre o que chamam de "Big Five", as cinco grandes, os melhores conjuntos sinfônicos do país. Desde sempre o grupo é formado por Filarmônica de Nova York, Orquestra de Filadélfia, Orquestra de Cleveland, Sinfônica de Chicago e Sinfônica de Boston. Mas, segundo os críticos do jornal The New York Sun, está na hora de repensar a lista. É o que eles fazem em um artigo publicado hoje. Vamos a ele. Entra na lista a Sinfônica de Pittsburgh, "fruto do sólido senso de disciplina e do incrível cuidado em ressaltar as vozes internas da orquestra" do maestro Maris Janssons; sai a Orquestra de Filadélfia, vítima da "falta de cuidado com as apresentações" do maestro Cristoph Eschenbach. Entra na lista a Sinfônica de Cincinatti, "que desabrochou sob a regência de Paavo Jarvi, o mais sensível maestro de sua geração"; sai a Orquestra de Cleveland, que, sob a direção de Franz Welser-Most, "conseguiu tornar-se pouco popular entre público, críticos e músicos". Entra a Filarmônica de Los Angeles, em parte pela "presença excitante e dinâmica do maestro Esa-Pekka Salonen"; sai a Filarmônica de Nova York que, com Lorin Maazel, "ganhou cordas de som pedestre, uma tendência a perder constantemente a entonação, uma seção de metais pouco consistente", além de "demonstrar pouco esforço em suas apresentações". Dois outros grupos estão em compasso de espera: com a saída de Daniel Barenboim, o que vai ser da Sinfônica de Chicago? E, com a saída de Seiji Ozawa, será que a Sinfônica de Boston conseguirá, sob a direção de James Levine, recuperar a sonoridade de outras épocas? O artigo completo do New York Sun você encontra no http://www.nysun.com/article/44570?access=186993
pavarotti cancela aparição
Em julho, o tenor Luciano Pavarotti estava se preparando para deixar Nova York e começar sua turnê de despedida, que previa concertos em todo o mundo (inclusive em Belo Horizonte, ao lado de Roberto Carlos). Passou mal e, no hospital, foi diagnosticado um câncer no pâncreas. A turnê foi cancelada. Na semana passada, quase seis meses de tratamento depois, o Teatro Donizetti de Bergamo anunciou que Pavarotti faria sua primeira aparição pública durante uma cerimônia nesta quarta-feira, quando receberia uma homenagem pela sua carreira. Agora pela manhã, no entanto, organizadores do evento informaram que ele não deve mais comparecer. Está sendo estudada a possibilidade de uma aparição em vídeo, durante a cerimônia. Em Londres, o empresário do cantor, Terri Robinson, ouvido pela agência de notícias Associated Press, não explicou o cancelamento. Disse apenas que a primeira aparição de Pavarotti após o tratamento será em 2007 durante uma gala beneficiente, cujos detalhes ainda serão divulgados. Ele informou também que Pavarotti espera poder retomar sua turnê de despedida já no primeiro semestre do ano que vem.
segunda-feira, 4 de dezembro de 2006
novo disco de antonio meneses
O selo Clássicos, da "Revista Concerto", está lançando este mês o novo disco do violoncelista Antonio Meneses. No ano passado, eles já haviam lançado o disco em que o artista interpreta as Suítes para violoncelo de Bach, editado originalmente na Europa pelo selo Avie. Agora, os lançamentos nacional e internacional acontecem simultaneamente. No disco, que custa R$ 40, tem obras de Schumann ("Adagio & Allegro, op.70 para violoncelo e piano", "Fantasiestucke, op.73 para violoncelo e piano", "Funf Stucke im Volkston, op.102 para violoncelo e piano" e "Marchenbilder, op.113 para violoncelo e piano") e Schubert ("Sonata Arpeggione, d 821"). Meneses está acompanhado do pianista Gérard Wyss. O disco você pode encontrar na Loja Clássicos (www.lojaclassicos.com.br ou 5535-5518).
situação das orquestras
Dois encontros ao longo desta semana vão discutir a situação da música clássica/ópera no Brasil. Pela ordem. Na quinta-feira, ao longo de todo o dia no Auditório do Grupo Pão de Açúcar, será realizado o II Encontro Nacional para uma Política Cultural da Música Clássica no Brasil. O primero foi realizado no Rio, em 2005. Agora, estarão reunidos em São Paulo músicos, críticos, empresários, para discutir o que seria uma política cultural para o setor da música clássica. A Philarmonia Brasileira, que organiza o encontro, acaba de concluir uma pesquisa feita com pessoas ligadas à área sobre a situação da música orquestral no Brasil. E muitos dos tópicos que surgiram na pesquisa serão debatidos. Já na sexta-feira, começa o I Simpósio Osesp de Orquestras Sinfônicas, promovido pela Fundação Osesp na Sala São Paulo. Serão três dias de palestras e debates - sexta, sábado e domingo -, que vão tratar de diversos temas, como a relação entre orquestras e o poder público, a relação entre orquetras e iniciativa privada, estratégias para a renovação de platéias e a elaboração de temporadas e diretrizes artísticas. Entre os participantes, estão o ministro da Cultura Gilberto Gil, os maestros John Neschling, José Maria Florêncio, Jamil Maluf, Ligia Amadio, Carlos Moreno, Gil Jardim, Marcelo Ramos, o especialista em marketing cultural Yacoff Sarcovas, diretores de marketing de orquestras e empresas e jornalistas como Nelson Kunze (Revista Concerto), João Baptista Natali (Folha de S. Paulo) e Heloísa Fischer (VivaMúsica!). A promessa dos organizadores é discutir questões pontuais, em busca da elaboração de cartas e propostas que possam levar a uma política cultural definida para o setor da música clássica, o que, hoje, definitivamente não existe. Se conseguirem, pode ser um passo importante para o meio. Mais informações sobre o simpósio, que é aberto ao público, no site: www.osesp.art.br.
música em heliópolis
Falei agora há pouco com o maestro Roberto Tibiriçá, que me ligou para contar novidades sobre o projeto que ele tem desenvolvido com a comunidade carente da favela de Heliópolis, aqui em São Paulo. Eles vão se apresentar no dia 16 no Teatro Municipal de São Paulo e no dia 22 no Municipal do Rio - nas duas ocasiões, o solista será o pianista Arnaldo Cohen. Há cerca de um ano atrás, estive em Heliópolis com Tibiriçá para preparar uma matéria sobre a volta dele a São Paulo - naquele momento, ele voltava do Rio, onde dirigiu a Petrobrás Sinfônica, e assumia a direção da Sinfônica de Heliópolis, ligada ao Instituto Bacarelli, que há décadas oferece educação musical para jovens carentes da favela, uma das maiores da América Latina. Aquela visita me impressionou muito. A matéria jornalística era de primeira grandeza: eles me mostraram o terreno em que iriam construir uma moderna sala de concertos, bem no meio da favela, o que acaba gerando uma discussão interessante sobre a descentralização da cultura e sobre o próprio significado arquitetônico do prédio. Mas a visita foi também uma das mais importantes experiências pessoais pelas quais passei como repórter. Assisti ao ensaio do grupo, que interpretava o primeiro movimento da Quinta de Beethoven. E, mais tarde, conversei com Tibiriçá e o pessoal encarregado do projeto (alguns deles haviam se formado lá, inclusive). Eles falavam sobre os objetivos de se ensinar um instrumento a um jovem carente. Claro, todos eles são instrumentistas em potencial, podem encontrar na música uma profissão, um meio de vida. Mas há outro aspecto para o qual eles chamaram a atenção. Eles me contaram a história de um menino que entrou para o projeto com 9 anos de idade. Logo de cara, perguntaram a ele: "O que você quer ser quando crescer?". A resposta: "Eu queria ser médico, mas eu não vou ser médico, porque ninguém aqui na favela é médico." Ele começou a estudar violino. Anos depois, fizeram a ele a mesma pergunta. E a resposta: "Médico". O que isso tudo quer dizer? Foi a música que deu a este jovem o direito de voltar a sonhar. Tocar em uma orquestra fez ele se sentir parte de alguma coisa, fez ele ver que o seu trabalho pode fazer diferença. O trabalho em Heliópolis ficou para mim como exemplo do significado que arte pode ter na vida das pessoas, de como ela pode ser um instrumento da cidadania. Vai ser interessante reencontrar este pessoal.
semana musical
O ano está quase no fim, mas a temporada de concertos em São Paulo segue com diversas apresentações. Aqui segue uma lista das principais atrações desta semana. Quem souber de alguma outra coisa, é só dar um toque. Amanhã, terça, três atrações: Antonio Carlos Carrasqueira, Betina Stegmann, Marcelo Jaffé e Roberto Sueholtz fazem recital Mozart no Auditório do Departamento de Música da USP (12h30, 3091-4137); a jovem violinista Maria Fernanda Krug se apresenta com o pianista Antonio Ribeiro no Sesc Pinheiros - no programa, Mozart, Bloch, Mendelssohn e De Falla (20h30, 3095-9400); e a Sinfônica da Usp, que acaba de ganhar o Prêmio Carlos Gomes, apresenta na Sala São Paulo a "Cantata de Natal" de Ernani Aguiar (21h00), 3337-5414). Na quinta-feira, tem Osesp na Sala São Paulo, regência de John Neschling, com aberturas e o "Réquiem" de Mozart (21h00, repetições na sexta e no sábado). Na sexta-feira, a pianista Beatriz Alessio e o Madrigal Ars Viva fazem recital em homenagem a Gilberto Mendes, marcando o lançamento em DVD do documentário "A Odisséia Musical de Gilberto Mendes" (Maria Antonia, 20h30, 3255-5538). E, no sábado, reestréia no Teatro Municipal a aclamada produção de "João e Maria", com regência de Jamil Maluf (17h00, 3222-8698).
quarteto brasileiro de violões
Acaba de sair pelo selo Delos International (www.delosmusic.com) o novo disco do Quarteto Brasileiro de Violões (na capa, Brazilian Guitar Quartet). O grupo é formado por Luiz Mantovani, Everton Gloeden, Edson Lopes e Tadeu do Amaral. E eles fazem uma interessante versão de "Iberia", de Isaac Albéniz. Originalmente formada por doze peças para piano, divididas em quatro cadernos, inspiradas em uma grande variedade de temas e estilos retirados da música espanhola, a obra ganhou arranjo para quatro violões assinado pelos músicos do quarteto. Não é o primeiro trabalho do gênero: também pelo Delos, eles já haviam lançado um CD com transcrições de suítes para orquestra de Bach (a diferença era a formação, que contava com a presença de Paul Galbraith e do fenomenal Edelton Gloeden). Mais informações sobre o disco e sobre o grupo: www.brazilianguitarquartet.com.
domingo, 3 de dezembro de 2006
barenboim em nova york?
O maestro Lorin Maazel anunciou que vai deixar o posto de diretor da Filarmônica de Nova York ao final da temporada 2008-2009. E disse a uma surpresa imprensa nova-iorquina que gostaria que o maestro Daniel Barenboim fosse seu sucessor. Isto tudo aconteceu no dia 29, quarta-feira. Um dia depois, no dia 30, o New York Times trouxe uma longa entrevista com Barenboim. O tema não poderia ser outro. A pergunta: o sr. aceitaria o posto?; a resposta: "nada poderia estar mais distante dos meus pensamentos atualmente do que a possibilidade de retornar aos Estados Unidos para uma posição permanente". Barenboim deixou em junho, após 15 anos, o posto de diretor artístico da Sinfônica de Chicago. Atualmente, dirige a Ópera Estatal de Berlim, além de comandar a Orquestra do Divã Ocidental-Oriental, que reúne jovens músicos judeus e árabes. Ao "New York Times", fez questão de ressaltar que não foi consultado por Maazel - e nem avisado de que teria seu nome citado pelo colega. Da mesma forma, considerou "uma honra" ser recomendado por um colega para assumir seu posto. O repórter, Mark Lander, deve ter insistido, pois Barenboim emenda: "Ninguém me ofereceu nenhum trabalho ainda, por que eu deveria dizer sim ou não?". Está mais do que certo. Mas Lander especula. Escreve, por exemplo, que nos próximos meses Barenboim fará uma série de apresentações em Nova York, tanto em recitais de piano como à frente de orquestras - coisa rara, segundo ele. E relembra que a situação do maestro em Berlim não é das melhores - há alguns meses, o músico argentino disse estar cansado da falta de verbas que enfrenta na Ópera Estatal, o que tem rendido boas brigas com o governo berlinense. Neste sentido, a declaração de Maazel teria sido um primeiro passo, como que para sondar a comunidade musical da cidade sobre uma possível subida de Barenboim ao pódio da Filarmônica. Vai saber o que se passa na cabeça desses maestros.....
maazel e toscanini
O maestro Lorin Maazel anunciou na semana passada em Nova York a criação da Symphonica Toscanini, orquestra que presta homenagem ao maestro italiano Arturo Toscanini. A boa notícia é que eles virão ao Brasil no ano que vem, em agosto, para, dentro da temporada do Mozarteum Brasileiro, interpretar em versão de concerto a ópera "Aida", de Verdi (em São Paulo, serão duas noites e, em uma delas, será interpretado o "Réquiem" do compositor). Os elencos ainda não foram definidos. Vale lembrar que Toscanini, aos 19 anos, era violoncelista da orquestra do Scalla de Milão quando, em turnê pelo Brasil, substituiu o maestro durante uma récita da "Aida". Foi seu primeiro trabalho como regente. O resto, é história.
villa, bartok e almeida prado
O crítico João Marcos Coelho faz no Estadão de hoje interessante análise do piano no século 20 a partir de gravações do "Guia Prático", de Villa-Lobos, do "Mikrokosmos", de Bartok, e da "Cartilha Rítmica" de Almeida Prado.
O que têm comum a "Cartilha Rítmica para Piano" de Almeida Prado, o "Guia Prático" de Villa-Lobos e o "Mikrokosmos" de Bela Bartok? Os três constituem maravilhosas introduções às linguagens pianísticas do século 20, ferramentas indispensáveis para todo pianista que deseja abandonar a formação naftalina do passado e ingressar na complexidade da música do presente. A "Cartilha", lançada no Brasil há seis meses, já teve sua primeira edição esgotada e deve funcionar daqui para a frente como companheira de estrada de todo estudante de piano (o livro de partituras organizado por Sara Gandelman é acompanhado de um CD onde a pianista Sarah Cohen interpreta a "Cartilha". O segundo e o terceiro estão sendo simultaneamente lançados em gravações do selo Naxos: nove dos onze cadernos do "Guia Prático" aparecem em sua forma original pela primeira vez sob os dedos competentes de Sonia Rubinsky, no quinto volume de sua integral; e o pianista húngaro Jeno Jandó faz uma leitura estimulante dos seis volumes do "Mikrokosmos" de Bela Bartok em álbum duplo também da Naxos
Pela ordem, o "Mikrokosmos" constitui a melhor cartilha para dedos e ouvidos se habituarem às sonoridades da música da primeira metade do século 20. Suas 153 peças foram escritas por Bartok entre 1926 e o final de sua vida. Lá está o resultado de um trabalho sistemático na coleta do multifacetado folclore da Europa central e do leste e sua transformação em arquétipos de modelos composicionais. A gravação de Jando é excelente e recomendável. Já a "Cartilha Rítmica" de Almeida Prado, como ele mesmo diz, é uma seqüência do "Mikrokosmos". Também organizada por dificuldade técnica, aplica-se a facilitar a compreensão das músicas da segunda metade do século 20. “Ela surgiu comigo na sala de aula.Deve ser utilizada no dia-a-dia do professor com o aluno, como se faz com o Czerny, mas eu já coloco dissonâncias, para o estudante habituar-se com a textura contemporânea. Bartok não chegou a Messiaen, Stockhausen ou Boulez, e é isso que faço nesta "Cartilha" ", diz o compositor. Ele enfatiza a predominância do ritmo: “Acho que é o que mais faz falta na formação do pianista hoje. Faço contraponto de tempos, as chamadas quiálteras, muito presentes em Villa e Charles Ives. Mas também superponho tempos e mostro as métricas grega, hindu e africana, que aprendi com Messiaen.” Aliás, Almeida Prado queixa-se muito de que se estuda basicamente para tocar a música do passado. “Em 1971, Nadia Boulanger já dizia que não conseguíamos deixar de nos impressionar com a "Sagração da Primavera" de Stravinsky, porque ainda sequer havíamos chegado, em termos de linguagem e ouvido, a 1913, data da estréia da obra
Por seu próprio isolamento, pianistas sofrem mais da síndrome do passado. Quase sempre são formados para interpretar a música do passado, pois é ela que constitui repertório dos concursos de piano e também da vida musical no planeta. Funciona como um dominó: como é formado e tem ouvidos só para o passado, ele fará do ontem seu prato de resistência – e por tabela reforça no público a sensação de que a música é coisa de museu, do passado. E não viva, pulsanteSonia Rubinsky, que há anos toca uma excelente integral da obra para piano de Villa-Lobos para o selo Naxos, está lançando o volume 5 com nove dos onze livros do "Guia Prático" de Villa-Lobos. “Pela primeira vez, o "Guia" é gravado na ordem original concebida pelo Villa para o editor Max Eschig, de Paris”, diz a pianista. Na verdade, o "Guia Prático", como lembra Almeida Prado, originou-se de volumes de canções folclóricas brasileiras harmonizadas para coral a quatro vozes e utilizadas na disciplina canto orfeônico nas escolas. A matéria-prima: 137 cantigas de roda do imaginário brasileiro. Nos cinco volumes havia de tudo: piano solo, harmonizações a duas vozes, coral a quatro vozes e voz/piano. Em 1932, Villa montou grupos de cinco ou seis cantigas, escreveu-as para piano e separou-as em dez álbuns, publicados pela Max Eschig; o 11º foi publicado em 1949, formando o conjunto das 60 peças da versão pianística.
Em geral, os pianistas têm feito seletas dessas peças, em geral curtíssimas. Miniaturas adoráveis, exigem muito do intérprete, pois concentram em algumas dezenas de compassos todo um mundo, como gosta de dizer Sonia Rubinsky. Pela primeira vez o "Guia" surge em sua inteireza. E é evidente que, ouvindo-se o conjunto, modifica-se a maneira pela qual devemos considerá-lo. Vasco Mariz escreve que Villa não teve “pretensões de criar peças de concerto”. Pode não ter tido a intenção, mas produziu vinhetas com consistência muito maior. Mais do que pecinhas de circunstância, muitas têm status semelhante, por exemplo, às ‘pecinhas’ das "Cenas Infantis" de Schumann. E este, sem dúvida, é o maior mérito desta gravação. Ao restituí-las na ordem original, Sonia as faz crescer muito. Até porque estes anos todos de convivência com a obra do Villa a transformaram numa pianista muito especial neste repertório – como prova o Prêmio Carlos Gomes, que ela acaba de receber, ou a distinção da revista inglesa "Gramophone", que escolheu este CD como um dos dez melhores lançamentos internacionais do mês de setembro .Quando fala do "Guia", Almeida Prado não economiza: “Villa fez uma verdadeira enciclopédia da música brasileira.” E Sonia confessa que no início considerou que o "Guia" tinha muito a ver com o "Mikrokosmos". “Mas depois desfiz esta impressão: quando ouvimos todo o "Guia", temos uma impressão muito maior. Villa transpõe o ambiente cultural brasileira para a música. A genialidade dele está na ambientação das peças. Schubert faz isso com o lied: ele pega a letra e a ambienta musicalmente. É como uma litografia de Picasso, daquelas da série do Don Quixote, onde com apenas uma linha contínua o pintor constrói todo o desenho com o mínimo de elementos." Agora, é esperar dos candidatos a pianistas que mergulhem no universo das linguagens da música do século 20; e, do público, que ouça com ouvidos despreconceituosos tanto o "Guia Prático" quanto o "Mikrokosmos". E aguardar o sétimo volume da integral de Villa-Lobos de Sonia Rubinsky, que ela vai gravar em 2007 e onde registrará os livros 10 e 11 do "Guia Prático", além de outras vinte peças originalmente descartadas pelo Villa na edição francesa. Enquanto isso, o sexto volume, já gravado, e que inclui a obra-prima pianística do Villa, o "Rudepoema", será lançado no primeiro semestre do ano que vem.
O que têm comum a "Cartilha Rítmica para Piano" de Almeida Prado, o "Guia Prático" de Villa-Lobos e o "Mikrokosmos" de Bela Bartok? Os três constituem maravilhosas introduções às linguagens pianísticas do século 20, ferramentas indispensáveis para todo pianista que deseja abandonar a formação naftalina do passado e ingressar na complexidade da música do presente. A "Cartilha", lançada no Brasil há seis meses, já teve sua primeira edição esgotada e deve funcionar daqui para a frente como companheira de estrada de todo estudante de piano (o livro de partituras organizado por Sara Gandelman é acompanhado de um CD onde a pianista Sarah Cohen interpreta a "Cartilha". O segundo e o terceiro estão sendo simultaneamente lançados em gravações do selo Naxos: nove dos onze cadernos do "Guia Prático" aparecem em sua forma original pela primeira vez sob os dedos competentes de Sonia Rubinsky, no quinto volume de sua integral; e o pianista húngaro Jeno Jandó faz uma leitura estimulante dos seis volumes do "Mikrokosmos" de Bela Bartok em álbum duplo também da Naxos
Pela ordem, o "Mikrokosmos" constitui a melhor cartilha para dedos e ouvidos se habituarem às sonoridades da música da primeira metade do século 20. Suas 153 peças foram escritas por Bartok entre 1926 e o final de sua vida. Lá está o resultado de um trabalho sistemático na coleta do multifacetado folclore da Europa central e do leste e sua transformação em arquétipos de modelos composicionais. A gravação de Jando é excelente e recomendável. Já a "Cartilha Rítmica" de Almeida Prado, como ele mesmo diz, é uma seqüência do "Mikrokosmos". Também organizada por dificuldade técnica, aplica-se a facilitar a compreensão das músicas da segunda metade do século 20. “Ela surgiu comigo na sala de aula.Deve ser utilizada no dia-a-dia do professor com o aluno, como se faz com o Czerny, mas eu já coloco dissonâncias, para o estudante habituar-se com a textura contemporânea. Bartok não chegou a Messiaen, Stockhausen ou Boulez, e é isso que faço nesta "Cartilha" ", diz o compositor. Ele enfatiza a predominância do ritmo: “Acho que é o que mais faz falta na formação do pianista hoje. Faço contraponto de tempos, as chamadas quiálteras, muito presentes em Villa e Charles Ives. Mas também superponho tempos e mostro as métricas grega, hindu e africana, que aprendi com Messiaen.” Aliás, Almeida Prado queixa-se muito de que se estuda basicamente para tocar a música do passado. “Em 1971, Nadia Boulanger já dizia que não conseguíamos deixar de nos impressionar com a "Sagração da Primavera" de Stravinsky, porque ainda sequer havíamos chegado, em termos de linguagem e ouvido, a 1913, data da estréia da obra
Por seu próprio isolamento, pianistas sofrem mais da síndrome do passado. Quase sempre são formados para interpretar a música do passado, pois é ela que constitui repertório dos concursos de piano e também da vida musical no planeta. Funciona como um dominó: como é formado e tem ouvidos só para o passado, ele fará do ontem seu prato de resistência – e por tabela reforça no público a sensação de que a música é coisa de museu, do passado. E não viva, pulsanteSonia Rubinsky, que há anos toca uma excelente integral da obra para piano de Villa-Lobos para o selo Naxos, está lançando o volume 5 com nove dos onze livros do "Guia Prático" de Villa-Lobos. “Pela primeira vez, o "Guia" é gravado na ordem original concebida pelo Villa para o editor Max Eschig, de Paris”, diz a pianista. Na verdade, o "Guia Prático", como lembra Almeida Prado, originou-se de volumes de canções folclóricas brasileiras harmonizadas para coral a quatro vozes e utilizadas na disciplina canto orfeônico nas escolas. A matéria-prima: 137 cantigas de roda do imaginário brasileiro. Nos cinco volumes havia de tudo: piano solo, harmonizações a duas vozes, coral a quatro vozes e voz/piano. Em 1932, Villa montou grupos de cinco ou seis cantigas, escreveu-as para piano e separou-as em dez álbuns, publicados pela Max Eschig; o 11º foi publicado em 1949, formando o conjunto das 60 peças da versão pianística.
Em geral, os pianistas têm feito seletas dessas peças, em geral curtíssimas. Miniaturas adoráveis, exigem muito do intérprete, pois concentram em algumas dezenas de compassos todo um mundo, como gosta de dizer Sonia Rubinsky. Pela primeira vez o "Guia" surge em sua inteireza. E é evidente que, ouvindo-se o conjunto, modifica-se a maneira pela qual devemos considerá-lo. Vasco Mariz escreve que Villa não teve “pretensões de criar peças de concerto”. Pode não ter tido a intenção, mas produziu vinhetas com consistência muito maior. Mais do que pecinhas de circunstância, muitas têm status semelhante, por exemplo, às ‘pecinhas’ das "Cenas Infantis" de Schumann. E este, sem dúvida, é o maior mérito desta gravação. Ao restituí-las na ordem original, Sonia as faz crescer muito. Até porque estes anos todos de convivência com a obra do Villa a transformaram numa pianista muito especial neste repertório – como prova o Prêmio Carlos Gomes, que ela acaba de receber, ou a distinção da revista inglesa "Gramophone", que escolheu este CD como um dos dez melhores lançamentos internacionais do mês de setembro .Quando fala do "Guia", Almeida Prado não economiza: “Villa fez uma verdadeira enciclopédia da música brasileira.” E Sonia confessa que no início considerou que o "Guia" tinha muito a ver com o "Mikrokosmos". “Mas depois desfiz esta impressão: quando ouvimos todo o "Guia", temos uma impressão muito maior. Villa transpõe o ambiente cultural brasileira para a música. A genialidade dele está na ambientação das peças. Schubert faz isso com o lied: ele pega a letra e a ambienta musicalmente. É como uma litografia de Picasso, daquelas da série do Don Quixote, onde com apenas uma linha contínua o pintor constrói todo o desenho com o mínimo de elementos." Agora, é esperar dos candidatos a pianistas que mergulhem no universo das linguagens da música do século 20; e, do público, que ouça com ouvidos despreconceituosos tanto o "Guia Prático" quanto o "Mikrokosmos". E aguardar o sétimo volume da integral de Villa-Lobos de Sonia Rubinsky, que ela vai gravar em 2007 e onde registrará os livros 10 e 11 do "Guia Prático", além de outras vinte peças originalmente descartadas pelo Villa na edição francesa. Enquanto isso, o sexto volume, já gravado, e que inclui a obra-prima pianística do Villa, o "Rudepoema", será lançado no primeiro semestre do ano que vem.
hampson em são paulo
Para quem gosta de canto lírico, a notícia é importante: o barítono norte-americano Thomas Hampson virá ao Brasil em agosto do ano que vem. E vai fazer por aqui um pouco daquilo que faz melhor, interpretando os Knaben Wunderhorn ao lado da Orquestra Jovem Gustav Mahler (regência de Phillipe Jordan). Os concertos, na Sala São Paulo, farão parte da temporada dos 95 anos da Sociedade de Cultura Artística - a programação completa, que tem ainda o violoncelista Yo Yo Ma e o pianista Piotr Andersewszky, que vai fazer as Variações Diabelli de Beethoven, pode ser conferida no site www.culturaartistica.com.br. Ainda sobre Hampson, tudo sobre a carreira dele, detalhes sobre o seu interessante projeto de divulgação de canções e arquivos de música você encontra no www.hampsong.com.
sábado, 2 de dezembro de 2006
vale a pena
Nada mais justo que, logo de início, indicar a leitura do blogo do cara que, mesmo sem saber, me inspirou a criar o "para falar de música". Leonardo Martinelli é professor, compositor. Nos últimos tempos, porém, começou a escrever para veículos como o site movimento.com e, mais recentemente, para o caderno "Fim de Semana" do jornal "Gazeta Mercantil". O cara entende tudo de música, literatura, cinema. E, sorte nossa, tem um belo texto, articulado, gostoso de ler. Você o encontra no Outra Música: http://alteramusica.blogspot.com. O post mais recente é uma crítica ao espetáculo "O Homem Que Confundiu sua Mulher com um Chapéu", de Michael Nyman, em cartaz no Teatro São Pedro, em São Paulo.
a primeira
acho que vai dar para perceber logo, mas de qualquer maneira começo dizendo que sou novo nesse território de blogs. e que, portanto, talvez demore um pouco para eu pegar o espírito da coisa. mas não pretendo desistir por conta disso, não, podem ter certeza! e desde já fica o convite para que vocês participem sempre. Sempre navego pela internet em busca de discussões legais sobre música, o que nem sempre é fácil de achar. Tenho certeza: não devo ser o único a passar por isso, então, quem sabe podemos criar um novo ponto de encontro, não?
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