sexta-feira, 8 de dezembro de 2006
seminário das orquestras - o que rolou (1)
Estive hoje na Sala São Paulo acompanhando o primeiro dia do I Seminário Osesp de Orquestras Sinfônicas. A programação vai até domingo, faltam ainda quatro mesas e debates, além dos grupos de trabalho. E me comprometo a colocar a cobertura diária do que anda acontecendo por lá. Então, lá vai o relatório de hoje. A primeira mesa discutiu a política cultural para o setor, ou seja, a relação das orquestras com o poder público. Os expositores e debatedores eram: o ministro Gilberto Gil, o maestro Jamil Maluf, o diretor executivo da Osesp Marcelo Lopes, o representante da Sinfônica de Porto Alegre, Evandro Matté, o secretário da Cultura do Rio Noca da Portela e o diretor da Petrobras Sinfonica, Carlos Eduardo Prazeres - a mediação foi de Nelson Kunze, editor da Revista Concerto. A segunda mesa tinha como tema a relação das orquestras com a iniciativa privada, com participação de Carlos Hasawara, diretor de marketing da Osesp, Marcos Caetano, diretor de marketing do Unibanco, José Augusto Müller, representante da Camargo Correa, e o consultor de marketing cultural Yacoff Sarkovas - a mediação foi da jornalista Heloísa Fischer, do guia VivaMúsica!. Isto acertado, vamos a um resumo do que foi dito. O que saiu da primeira mesa é um resumo interessante: seja pelo investimento direto, seja pelas leis de incentivo, o poder público é o responsável pela maior parte da subvenção das orquestras. Ao mesmo tempo, ficou claro que não há uma política cultural pública para o setor. Ou seja, está tudo na mão dos governos - e eles não têm idéia do que fazer, não conseguindo criar uma política de longo prazo e sujeitando a atividade cultural aos humores políticos de ocasião. A segunda mesa começou com o diretor de marketing da Osesp delineando o plano de marketing e captação de recursos da orquestra - coisa bem estruturada, técnica mesmo, do ponto de vista de quem sai atrás do patrocínio; em seguida, os representantes do Unibanco e da Camargo Correa ofereceram o ponto de vista de quem recebe os projetos, discutindo os critérios que utilizam na escolha, o retorno que pode trazer para a marca, as pessoas atingidas, que tipo de retorno de imagem vão ter, etc, etc, ressaltando que, quanto mais consistente o projeto nestes quesitos, maior a chance de conseguir alguma coisa. A segunda mesa esquentou, no entanto, com a participação do Nelson Kunze, agora na platéia, sempre muito equilibrado e preciso nas suas colocações. Relembrando as diferenças que Yacoff Sarkovas tem com as leis de incentivo, ele levou a discussão para um outro patamar, que diz menos respeito ao dia a dia da captação de patrocínios e mais ao conceito por trás dela. O problema de Sarkovas com as leis é muito pertinente. A frase é ótima, então reproduzo: "Verba dada por meio da lei de incentivo não é patrocínio. É apenas o jeitinho brasileiro de transferir a decisão sobre a política cultural para a iniciativa privada." Concordo plenamente com ele. Mas, melhor do que reforçar o que ele já disse, é colocar o outro lado, a opinião daqueles que não concordam, como Marcelo Lopes. O que ele diz? Colocar o poder de decisão sobre os eventos que merecem ou não incentivo na mão de um ocupante de cargo público - alguém que, nesta lógica, estará ligado a interesses políticos - pode levar à interferência ideológica, à proteção partidária, etc, etc, etc. Neste sentido, é melhor que se "democratize" a decisão deixando-a na mão das empresas, o que daria diversidade às escolhas. O problema aqui, no entanto, é que as empresas não estão preocupadas com a cultura nacional e, sim, com a divulgação de suas marcas. E nem sempre as duas coisas coincidem. Além disso, diz Sarkovas, a escolha não seria feita por uma pessoa e, sim, por entidades independentes que, dentro das diretrizes da política cultural oferecidas pelo governo, escolheriam os projetos. Para encerrar, ele mostrou também que, do modo como estão, as leis de incentivo, moda cada vez mais difundida, não são economicamente sustentáveis, ou seja, mais cedo ou mais tarde, vão ter que ser mudadas. E aí é torcer para que a hecatombe que vai se seguir não destrua de vez tudo o que já foi feito. No fundo, para encerrar, pensando as duas mesas em conjunto: falta política cultural para a área, seja na falta de investimentos diretos seja na falta de ajustes e regulamentações que as leis de incentivo precisam sofrer. Por enquanto, vamos indo. Mas dá um frio na espinha.... E, vocês, o que acham?
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Um comentário:
Vamos falar mais disso! Adorei a iniciativa. Acho que no Brasil o patrocínio tem de ser buscado por todos os lados - retorno de imagem para as empresas, dotação pública. Mais do que isso, vou meter minha colher já puxando a brasa pra minha sardinha (que é o interesse na educação para as artes em geral e para a música em especial): acho que 1) toda escolha deveria ter embasamento transparente e assinatura (de quem escolheu); um grupo de notáveis sempre chancela as escolhas, seja no âmbito público, seja na empresa privada; e 2) minha opinião é que cada investimento em música deveria ter, atrelado, um superinvestimento em educação para a música e formação de platéia, para recuperar o tempo perdido.
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