“Eu queria me desculpar com vocês por, a todo momento, pedir a palavra. Mas é que a gente fica isolado fazendo nosso trabalho e quando tem oportunidade para compartilhar problemas precisa aproveitar.” A declaração do maestro carioca Ricardo Rocha, da Cia. Bachiana Brasileira, resume bem a tônica do 1º Seminário Osesp de Orquestras Sinfônicas. Por mais que o tema principal tenha sido a relação dos conjuntos com o poder público, cada participante trouxe à discussão algo da sua experiência, diversificando os debates. Um dos assuntos mais polêmicos diz respeito aos patrocínios privados. Ficou clara a necessidade da existência de um plano de marketing que permita às orquestras sensibilizar os patrocinadores. Mas há o medo de que a
recém-criada lei de incentivo aos esportes tire da cultura possíveis patrocinadores. Da mesma forma, não seria melhor desvincular das leis de mercado a atividade orquestral, criando mecanismos de investimento direto do Estado? Se as orquestras precisam encontrar justificativa em suas comunidades, reunindo o público em torno de sua programação e, com isso, conseguindo poder de barganha junto ao governo, é justo perguntar: que público é esse? Ou então: como conseguir novos públicos? Projetos educacionais ajudam, claro. E é natural que, com uma programação regular, atraente, as orquestras acabem formando novas platéias. Mas as contribuições de Carlos Eduardo Prazeres, da Petrobrás Sinfônica, e do maestro John Neschling, da Osesp, são pertinentes: formar público é função das orquestras ou do governo, que deveria resgatar a discussão sobre a educação musical nas escolas, entendendo a arte como instrumento de formação de cidadãos, como colocou o maestro Gil Jardim? Ainda no que diz respeito ao público, como se desenvolve essa relação com a comunidade? Ficou claro, ao menos, que é nela que está a legitimidade da atividade cultural, que precisa estar presente no dia-a-dia das pessoas. Neste quesito, entram elementos como a formatação da programação. É claro que deve ser oferecido ao público o repertório mais conhecido, as grandes obras. Mas não seria função das orquestras também ampliar os horizontes de seus ouvintes? Parece consenso que sim. Da mesma forma, o repertório nacional deve ser prioridade. Mas neste ponto é urgente a criação de um banco de partituras, com edições de qualidade. Como colocou Jamil Maluf, editar uma partitura é um trabalho de extrema dificuldade – e a escolha de profissionais para fazê-lo deve seguir critérios técnicos e não políticos. Este, aliás, é ponto pacífico: profissionalização passa necessariamente pela formação de mão-de-obra qualificada e especializada. Estes são alguns dos muitos tópicos levantados. E o desenvolvimento deles, ao longo do ano, será a pauta principal do segundo seminário, que já tem data marcada: dezembro de 2007. E a Petrobrás Sinfônica vai estudar a possibilidade de realizá-lo no Rio. Caso não seja possível, a Sala São Paulo volta a ser o palco para se discutir os rumos da vida orquestral brasileira.
quarta-feira, 13 de dezembro de 2006
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2 comentários:
falei de Albert Herring e estou em comemoração por lá. adoraria a sua visita. beijos, pedrita
boas matérias, bons lides e eu, como repórter que sou, gostaria de ter presenciado essas cenas - apesar de não entender nada do seu grande tema. enfim, vim registrar minha presença, e meu incentivo. beijo
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