quinta-feira, 29 de novembro de 2007

mundo digital


Na "New Yorker", Alex Ross escreve texto sobre o potencial casamento de sucesso entre a música clássica e a internet. A Deutsche Grammophon acaba de inaugurar sua loja virtual de downloads; a English National Opera começa a oferecer em seu site downloads gratuitos de entrevistas com artistas e trechos de suas produções; o Metropolitan de Nova York passa a oferecer a possibilidade de download de 100 gravações de óperas de seus arquivos, desde uma “Carmen” com Rosa Ponselle em 1937 a um “Don Pasquale” com Juan Diego Florez e Anna Netrebko gravado em 2006; e o site Keeping Score começa a disponibilizar serviço em que você pode assistir a um vídeo de concerto com a partitura e anotações do maestro passando pela tela.

em 2008

A Sociedade de Cultura Artística e o Mozarteum Brasileiro já divulgaram suas temporadas para 2008. Os programas das apresentações ainda não foram divulgados.

Sociedade de Cultura Artística
Nelson Freire, piano (maio)
Staatskapelle Berlin/ Daniel Barenboim (maio)
Vinius Festival Orchestra/ Krzysztof Penderecki (junho)
Quarteto Alban Berg (julho)
Sinfônica de Israel/ Dan Ettinger (agosto)
Filarmônica de Liège/ Pascal Rophé/ Susan Graham (agosto)
Hallé Orchestra/ Mark Elder/ Polina Leschenko (setembro)
Hespèrion XXI/ Jordi Savall/ Montserrat Figueras (setembro)
Jerusalem Chamber Ensemble (outubro)
Kodo – Percussão do Japão (novembro)
Mais informações aqui.

Mozarteum Brasileiro
Bamberger Symphoniker/ Jonathan Nott/ Mathias Goerne (maio)
Berlin Philarmonic Sextet (maio)
Quarteto Szymanowski (junho)
Frederica Von Stade/ Jake Heggie (agosto)
Orquestra Sinfônica de Tóquio/ Hubert Soudant (agosto)
Leif Ove Andsnes (setembro)
Sinfônica Tchaikovsky de Moscou/ Vladimir Fedoseyev (outubro)
Gidon Kremer Piano Quartet (novembro)
Mais informações aqui.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

caça ao intérprete

Você já ouviu falar na Philharmonia Slavonica, na Camerata Romana, nos regentes Alberto Lizzio e Alfred Scholz? Euterpe e Clio dá uma boa dica de artigo encontrado na internet - o texto fala sobre aqueles intérpretes fantasmas, ou seja, as orquestras e solistas fictícios criados por selos pequenos para disfarçar a utilização de gravações comerciais e, assim, fugir do pagamento dos direitos autorais. Alguns comentários já foram feitos pelo Lauro no post abaixo sobre a "Carmen".

diva black power

Com alguns dias de atraso, coloco aqui a matéria que João Marcos Coelho escreveu para o “Cultura” do Estadão sobre a soprano Measha Brueggergosman, que está lançando o CD “Surprise”, com canções de Schoenberg e William Bolcom. Detalhe, ela vem ao Brasil no começo de dezembro, para recitais no Rio e em São Paulo.



Os mais velhos dirão que ela é uma perfeita raylette (as generosas black singers que faziam os backing vocals de Ray Charles nos anos 50 e 60); para os mais novos, não ficaria mal como coadjuvante de algum rapper famoso tipo Eminem ou Public Enemy. Os mais revolucionários a apontariam como modelo físico ideal de parceira de Malcolm X, o pantera negra que liderou os negros nos movimentos dos anos 60 nos EUA. Pois esta imensa e arredondada cabeleira deve ser, de fato, um disfarce. Pasmem. Ela é cantora lírica, e soprano das boas. Foi "adotada" como mais nova revelação da Deutsche Grammophon, que está apostando em seu carisma e em sua voz tanto quanto investiu na faxineira do Kirov que virou a diva lírica do momento, a belíssima russa Anna Netrebko (que, por sinal, acaba de ser escolhida como artista do ano pelo vetusto anuário Musical America). Chama-se Measha Brueggergosman e seu sobrenome é estrambótico o suficiente para que ela ensine, em áudio no seu site, como se pronuncia. Mas é simples: ela juntou o seu ao sobrenome do marido. Daí o Brueggergosman. Aos 30 anos, só tem duas gravações comerciais anteriores, realizadas em 2005 e 2006, para o selo canadense CBC. Em um, canta as Nuits d'Eté de Berlioz; no outro, interpreta os norte-americanos Aaron Copland e Samuel Barber. A campanha promocional da DG foi orquestrada para levá-la rapidamente ao estrelato. Agora, seu CD de estréia na nova gravadora, Surprise, tem lançamento simultâneo no mercado internacional e no Brasil. Sim, você leu certo. É o milagre do patrocínio com as bênçãos da Lei Rouanet. Porque uma empresa decidiu patrocinar duas apresentações de Measha em São Paulo em dezembro (Teatro Alfa, dia 6) e Rio (Sala Cecília Meirelles, dia 10), temos o privilégio de ver nas lojas seu CD em real time com o exterior. Chique, não?

Continua aqui.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

rio (3)

Um pouco sobre a "Carmen" do Municipal. Achei a concepção cênica, com projeções em preto e branco, em contraste com eterno vermelho que acompanha as montagens da ópera, sem graça, pouco original, sem interferir muito na compreensão do espetáculo. Mas o problemático mesmo é a orquestra. Dá para ter uma boa idéia da enormidade do trabalho que espera o novo regente. O desempenho é muito desigual. Em uma versão em concerto, sem cenários e figurinos, a orquestra ganha importância ainda maior na construção dos climas, na descrição das cenas. O que se ouviu, no entanto, foi uma interpretação sem contrastes, com desequilíbrio entre naipes, com a orquestra atravessando os cantores a torto e a direito e matando toda a transparência da partitura de Bizet. Restou aos cantores conseguir segurar a apresentação - e saíram-se todos bem, dentro do possível imposto pelas condições, afinal, sem cenários e figurinos e com a orquestra para atrapalhar, fica difícil...

enquete - resultados

Depois de uma semana, terminou a enquete sobre a permanência do maestro Neschling à frente da Osesp. A pergunta, motivada pelo post "Criador e Criatura", que continua a render discussões, era: “Você acha que chegou a hora de escolher um sucessor para o maestro John Neschling à frente da Osesp?”. Bom, aqui estão os resultados: de um total de 60 votantes, 35 (58%) responderam que não; 17 (28%) responderam que sim; e 8 (13%) acham que sim, mas ainda é muito cedo e a orquestra não está pronta, institucionalmente, para essa mudança. Os números são claros, a margem de diferença é significativa. E acho que dá para fazer um balanço. Fica claro que esse é um tema que desperta paixões. E não era para ser diferente, afinal a relação que o público desenvolve com a orquestra é de carinho, de identificação pela realização de um sonho de espectador – e isso é apenas mais uma amostra do quanto o projeto Osesp é importante e significativo. Ao mesmo tempo, porém, os comentários deixam claro que, na cabeça das pessoas, ainda não é possível a separação entre Osesp e John Neschling, o que nos traz de volta ao post original. Em tempo: já está no ar a nova enquete, sobre a música no Rio.

domingo, 25 de novembro de 2007

rio (2)

O guia "Viva Música!" estampou este mês uma foto do maestro Roberto Minczuk com o Cristo Redentor ao fundo e uma manchete que diz: "O Rei do Rio". Nos corredores da OSB, entre os músicos, a piada é a seguinte: "Você viu a foto? Quem é aquele de braços abertos atrás do Minczuk?". Não dá para escapar: o assunto do momento, por aqui, é a decisão do maestro de, além da direção da Sinfônica Brasileira, assumir a direção musical e regência do Teatro Municipal. Conversei com músicos e membros do público e ninguém questiona a capacidade do maestro de desenvolver um bom trabalho, apesar do receio com o acúmulo de funções e a falta de tempo que ele pode gerar. A pergunta que se ouve muito é outra: para que assumir o teatro? O fato é que, apesar da escolha de uma nova direção para a casa, ninguém parece acreditar em uma solução simples para o Municipal. As dívidas, a burocracia, a necessidade urgente de reformas, tudo isso visto em conjunto com a ausência nos últimos anos de um projeto artístico consistente para a orquestra (que está sem regente titular há quase dois anos), parece levar a um clima de descrença generalizada. Nesse sentido, o que se coloca é que as condições de trabalho, nos próximos anos, estarão muito longe das ideais - e isso pode impedir a concretização dos planos que o maestro começa a preparar. Nessa linha de pensamento, assumir o teatro seria, para Minczuk, um risco desnecessário, a possibilidade de sujar um currículo até agora impecável, que tem concertos como regente convidado em importantes orquestras internacionais e já conta com a reabilitação da OSB. Bom, repórter que sou, levei esses questionamentos ao próprio Minczuk. Ele sabe dos riscos que corre. Não acredita que o acúmulo de funções será um problema. Diz acreditar que tem uma responsabilidade, como brasileiro, com as instituições do País e foi convocado a ajudar na reestruturação do teatro. Não poderia dizer não. "Acabei de completar 40 anos, poderia estar morando nos EUA com minha família, vivendo uma outra vida. Mas optei não deixar o Brasil. Foi essa a minha escolha. E vejo a vida musical do Rio em um momento interessante, de recuperação da auto-estima. É essa a hora da transformação", disse. Em termos práticos, ele discorda do clima de pessimismo e diz acreditar que há um momento propício à recuperação do teatro. Há vontade política de uma gestão na qual ele acredita. Mais do que isso: em 2009, o Municipal completará 100 anos - e a data vai servir para que se concentre esforços na revitalização do teatro. Hoje, assisto "Carmen". A regência é de Silvio Viegas, com participação de Céline Imbert, Fernando Portari, Rosana Lamosa e Stephen Bronk. Voltamos a nos falar.

sábado, 24 de novembro de 2007

rio (1)


Cheguei agora há pouco no Rio para um fim de semama de música - hoje tem Orquestra Sinfônica Brasileira no Municipal com a pianista Joyce Yang e o maestro Roberto Minczuk (Tchaikovski e Mozart) e a trinca O Diário do Desaparecido (Janácek), Savitri (Holst) e Uma Educação Incompleta (Chabrier), dirigidas por André Heller, no CCBB; amanhã, mais Municipal, com "Carmen" em versão de concerto, a primeira produção da nova gestão do teatro, para marcar os 20 anos de carreira de Céline Imbert. Entre hoje e amanhã, vou atualizando vocês. Por enquanto, deixo essa imagem do Municipal nas primeiras décadas do século 20. É engraçado, não vivi essa época mas, ainda hoje, é esse o Rio que eu vejo sempre que passo por aqui. A paisagem, claro, mudou. Mas de alguma forma fica em mim a memória não vivida de um Rio de ontem, perdido e cristalizado no tempo. Não sei se faz sentido. Provavelmente não.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

em defesa da ópera

O maestro Luiz Fernando Malheiro rege, domingo de manhã, a Quinta de Mahler e a Shéhérazade de Ravel no Teatro Municipal. Hoje, no entanto, exercita outra de suas facetas. Assina, no suplemento "Fim de Semana", da "Gazeta Mercantil", um artigo, "Ópera como Instrumento Político", em que parte em defesa da ópera. Como o acesso do site é restrito, reproduzo aqui algumas de suas principais idéias. Em primeiro lugar, ele defende a importância da cultura na formação de um povo, de um país. E, em seguida, discute o papel da ópera neste contexto. Na verdade, ele parte contra a idéia de que a ópera seria, por ser considerada “elitista e excludente” por patrocinadores e governos, menos importante que outras áreas da criação artística. “O Brasil é tudo isso: samba, rock, funk, mas é também ópera, música clássica. Quando fazemos a montagem de uma ópera, estamos oferecendo ao Brasil um pouco de tudo e uma pitadinha positiva em sua imagem no exterior”, escreve, dando exemplos, como os números de público em Manaus, que provam que a ópera tem sim apelo popular. Assino embaixo das idéias do Malheiro, não acho que tenha muito a acrescentar e fico realmente feliz em ver “representantes da classe”, artistas ligados ao meio participando do debate público sobre política cultural, inserindo a música clássica e a ópera em uma discussão em que ela costuma ser ignorada, alienada. Só discordo dele em um ponto, acessório em seu artigo mas, ainda assim, importante: o do papel das leis de incentivo nesse processo de resgate da ópera e dos concertos. É verdade, como ele diz, que elas possibilitaram a ampliação, nos últimos anos, do número de produções e concertos. Mas não dá para depositar nelas a esperança de realização de projetos consistentes. No mundo da ópera, tempo é fundamental para se ter a continuidade que vai levar à criação de uma estrutura mínima de trabalho - e não sou eu que preciso dizer isso para vocês. Mas acho que as leis de incentivo, com a ênfase exacerbada no marketing, priorizam, com raríssimas exceções, projetos pontuais, de curto prazo. É fundamental mostrar aos patrocinadores que a ópera pode e deve competir com as outras áreas na hora do investimento. Mas eles tem que entender que bancar uma ou outra produção não resolve o problema.

praticando no banheiro

O violinista Daniel Hope está lançando CD com o concerto de Mendelssohn. E, no número de novembro da "Gramophone", conta uma historinha, que reproduzo aqui. Aos 5 anos, ouviu pela primeira vez o concerto, na interpretação de Pinchas Zukerman, e ficou fascinado. Quatro anos mais tarde, estudava na Yehudi Menuhin School. Seu colega de quarto estava preparando o concerto e ele pediu para estudá-lo também. Ikki disse que ele era muito novo mas que faria com ele um acordo: quando não estivesse estudando a peça, lhe emprestaria a partitura, com a condição de que ele não contasse a ninguém. Sabendo que seu professor jamais aprovaria, ele concordou. E, certo dia, com a partitura na mão, se trancou no banheiro e começou a tocar a peça – ele lembra que não conseguiu passar da primeira página e que o som que tirava do violino era como o de diversos gatos sendo estrangulados. De repente, a supervisora do curso bate na porta: “Saia, por favor!”; ele colocou a cabeça para fora: “O que, em nome de St. Patrick, você acha que está fazendo? Saia daí imediatamente!” No dia seguinte, Hope foi chamado à sala do diretor da escola, onde encontrou seus pais, que haviam sido chamados à escola para discutir “um tema de suma importância”. Começou o diretor: “Eu sinto muito em informar que seu filho foi pego no banheiro...praticando o concerto de Mendelssohn. Ele deveria estar preparando um concerto de Bach. Ele não tem permissão, e nem é bom o suficiente, para estudar o Mendelssohn. Isso foi deixado claro diversas vezes para ele.” Hope olhou para seu pai, temendo sua reação. E o ouviu dizer ao diretor: “Então o senhor me fez vir até aqui para me dizer que nosso filho mostrou iniciativa de querer estudar uma das peças mais difíceis do repertório e que ele será punido por isso?”. Dois dias depois, Hope deixava a escola. “Desde então, sempre que toco o concerto, me lembro de Zukerman, do diretor, daquele banheiro e de uma peça que era simplesmente genial demais para não tocar.”

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

piap



Manter um grupo durante 30 anos na realidade brasileira é por si só uma vitória; um grupo dedicado à música contemporânea, então... Por isso é mais do que justificado o início da celebração do aniversário do PIAP, Grupo de Percussão do Instituto de Artes da Unesp, fundado em 1978 por John Boudler. Amanhã, sexta, eles fazem um concerto em homenagem ao centenário de Camargo Guarnieri, de quem interpretam o “Estudo para Instrumentos de Percussão”, de 1953 – o programa tem ainda a “Triade” de Konietzny, “Intrusion of the Hunter” de Laurie MacGregor, “Second Construction” de John Cage, “Pattern Transformation” de Lukas Ligeti, e “Keitak” de Akira Nishimura. Será no Auditório Maestro João Baptista Julião, do Instituto de Artes da Unesp (R. Dom Luís Lasanha, 400), às 13 horas. A entrada é franca. O concerto marca também o lançamento de dois CDs do grupo. Sympathia traz obras de compositores com quem o grupo trabalhou ao longo de sua trajetória (John Wyre, Johann M. Beyer, Fredrik Ed, Dimitri Cervo, Edson Zampronha, John Bergamo, Leonardo Martinelli e William Cahn); já 86 é a remasterização do LP gravado pelo grupo após vencer o 2º Prêmio Eldorado de Música, com obras-chave da música de século 20, de autores como Cage, Edgar Varèse e os brasileiros Guarnieri, Marlos Nobre, Paulo Costa Lima e Fernando Cerqueira (os discos podem ser encontrados na loja Clássicos). Vida longa ao PIAP!

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

escrevi bobagem

Na matéria de hoje no "Caderno 2", escrevi que a produção do "Macbeth", de Verdi, no Teatro São Pedro, encerrava a temporada de óperas em São Paulo. Não encerra. Nos dias 14, 15 e 16 de dezembro, o maestro Paulo Maron rege "Patience", de Gilbert e Sullivan. Ao maestro e sua equipe, deixo aqui meu pedido de desculpas.

calvin


(clique na tira para ampliar)

terça-feira, 20 de novembro de 2007

duas valquírias e um pedido


Recentemente, o baixo-barítono Bryn Terfel cancelou sua participação na remontagem do "Anel", de Wagner, no Covent Garden. E quem foi chamado para substituí-lo? John Tomlinson. É impressão minha ou ressuscitar o Tomlinson, que no início dos anos 90 já dava sinais de desgaste, é sinal de que não há muitos Wotans disponíveis no mercado? Bom, estou desviando do assunto. Na verdade, queria comentar que acrescentei duas Valquírias à minha estante mental (porque na física já não cabe mais...). Quem acompanha o blog há um tempo vai dizer: "E qual a novidade nisso?". Nenhuma, a Valquíria segue como obsessão particular, mas não muito privada, afinal lá vou eu falar um pouquinho delas. Já que falei no Terfel, começo com a produção do Covent Garden, filmada em 2005, que um amigo baixou da internet. O elenco tem Lisa Gasteen como Brunhilde, Katharina Dalayman como Sieglinde, Jorma Silvestri como um Siegmund de dar dó e, claro, uma Fricka impressionante de Rosalind Plowright (nostalgia, apego ao passado, que seja, mas a velha escola é a velha escola...). Mas o destaque mesmo é o Wotan do Terfel. Gosto demais da voz dele - e todas as suas grandes qualidades, a riqueza de coloridos, os contrastes habilmente construídos, a clareza e limpidez tanto nos graves quanto nos agudos, a elegência, preenchem muito bem as exigências de um dos maiores papéis do repertório. Seu monólogo no segundo ato é comovente, a elegância da voz aos poucos se abrindo em tons escuros, sombrios e desesperados, a representação perfeita do deus que percebe a própria decadência e, se vendo no espelho que é a filha, se dá conta da necessidade de matar aquilo que de mais valioso conhece, não apenas seu filho mas, antes de tudo, a certeza de estar agindo em busca de um mundo ideal; no terceiro ato, ele faz uma cena final de chorar. Que grande cantor! Bom, na outra Valquíria, Wotan é interpretado por James Morris. É uma gravação, em CD, regida pelo Haitink, de 1988. Aqui, no entanto, não dá para escolher um destaque. Há uma homogeneidade interessante, da Sieglinde de Cheryl Studer ao Wotan de Morris, passando pelo Siegmund de Reiner Goldberg, pela Fricka de Waltraud Meier (talvez ela um pouco acima da média) e pela Brunhilde de Eva Marton. Não me entendam mal. A gravação não é ruim. Reúne bons cantores wagnerianos, no auge de seus potenciais, fazendo tudo certinho, mas sem nos surpreender em nenhum momento. O que, aliás, está em conssonância com a regência de Haitink, correta, e é só. Já foram duas valquírias, falta o pedido... Sei que o Lauro, recentemente, conheceu a produção do Liceu de Barcelona no DVD distribuído pela Opus Arte. Lauro, ficamos no aguardo de seus comentários.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

o adeus de alfred brendel


O pianista austríaco Alfred Brendel vai se aposentar no final de dezembro, após um recital em Viena. Quem informa é o Chicago Tribune, que cita a porta-voz do artista, Josephine Hemsing: “Ele vem pensando em abandonar os palcos há alguns anos. Tenho certeza de que não está fazendo isso pela publicidade. Ele se recusou a tratar seus últimos concertos como ‘turnê de despedida’. Ele simplesmente quer... parar.” Mais informações aqui.

macbeth


Na foto de J. Milliet, uma cena do "Macbeth", de Verdi, que estréia quarta-feira no Teatro São Pedro. Não conheço Maribel Ortega, mas vale a pena ouvir o Macbeth de Rodrigo Esteves. Abaixo, segue a ficha técnica do espetáculo, com as datas.

Macbeth: Rodrigo Esteves (21, 23, 25 e 27)
David Marcondes (24 e 29 de Novembro)
Lady Macbeth: Maribel Ortega (21, 23 e 25)
Janette Dornellas (24, 27 e 29)
Banquo: Sávio Sperandio (21, 23, 25 e 27)
Eduardo Janho-Abumrad (24 e 29)
Macduff: Marcello Vannucci (21, 23, 24 e 25)
Sérgio Wernec (27 e 29)
Orquestra Filarmônica Ópera São Paulo
Coral Vozes de São Paulo
Regência: Achille Picchi
Direção cênica: Francisco Frias

o que dizem por aí...

O compositor Gyorgy Kurtág fala sobre o colega Gyorgi Ligeti; a soprano Mirella Freni relembra o amigo de infância Luciano Pavarotti; e Pierre Boulez fala sobre sua relação com a música de Mahler.

criador e criatura















A revista “Veja” traz na edição desta semana um artigo de seu crítico de música Sérgio Martins sobre o maestro John Neschling e a Osesp. A proposta do texto é simples – chegou a hora de pensar em um substituto para Neschling. Os motivos para isso? Martins reconhece todos os feitos do maestro, a construção da Sala São Paulo, a reconstrução dos quadros artísticos da orquestra, a redefinição administrativa que levou à criação da fundação, a capacidade de manter o poder público como grande patrocinador ao mesmo tempo em que buscou e conseguiu apoio cada vez maior da iniciativa privada. No entanto, para Martins, a temporada 2008 recém-anunciada dá sinais de exaustão, estagnação – a orquestra estaria começando a se repetir no repertório, apenas dois ou três maestros e solistas de primeiro time estão entre os artistas convidados. Mais: na conta de Martins, entra também a própria regência, em sua opinião, burocrática de Neschling, que estaria contribuindo no processo de estagnação artística, impedindo o grupo de refinar a sua sonoridade. Em outras palavras: Neschling foi fundamental na reconstrução da Osesp, transformou a orquestra em paradigma na música clássica brasileira mas, enfim, chegou a hora de dar um passo para trás para que a orquestra siga adiante. Você pode ou não concordar com Martins. Mas a questão da sucessão de Neschling é importante na medida em que nos faz pensar na solidez institucional da Osesp. Conhecemos, não é de hoje, a rotina brasileira no que diz respeito a projetos artísticos. Nela, continuidade é palavrão. A cada mudança política, alteram-se também os dirigentes de teatros, orquestras. E os novos chefes, uma vez no cargo, deixam de lado tudo o que já foi feito e iniciam, do zero, sua gestão, querendo deixar a “sua marca” – o que, aliás, raramente acontece. E isso se dá porque os projetos não conseguem atingir, até por questão de tempo, uma solidez, uma rotina equilibrada de trabalho e de resultados que torne difícil a um sucessor derrubar aquilo que foi feito em gestões anteriores. Já dá para dizer sem problemas que a Osesp é um paradigma no cenário musical brasileiro, que atingiu metas jamais sonhadas por outras orquestras do país, seja no que diz respeito à sua estruturação executiva, seja na quantidade e qualidade de concertos. Na nossa conta, portanto, seria uma marca sólida o suficiente para sobreviver a uma mudança de chefia. No entanto, há algumas sutilezas que precisam ser levadas em consideração. Uma das características principais do processo de restauração da Osesp é a maneira como ele se confunde com a imagem do maestro Neschling. Seja pela personalidade forte do maestro, seja por campanhas de marketing habilmente construídas, associou-se nos últimos anos criador e criatura. Não por acaso o maestro tem sobrevivido às inúmeras batalhas, levadas a cabo por parte da crítica, pela classe musical e até mesmo por dois governadores e uma secretária de Cultura, para removê-lo da direção da orquestra; não por acaso, ele sobreviveu no cargo a episódios embaraçosos, como a demissão dos representantes dos músicos da orquestra ou, mais grave, a manipulação da lista de candidatos ao concurso internacional de piano promovido pela Osesp; e, finalmente, não por acaso, sempre que se fala em sucessão, personalidades do mundo artístico e membros do público se lançam contra a idéia, temendo o fim do projeto Osesp. É como se a saída de Neschling significasse, automaticamente, o fim da orquestra e do trabalho que ela vem desenvolvendo. Se é esse o caso, então algo está errado. Se a saída de Neschling significará o fim da Osesp, então a orquestra tem data para acabar? Quantos anos de Osesp ainda temos pela frente, então? Em um contexto como esse, apesar de todas as novidades que o projeto Osesp trouxe para o cenário musical brasileiro, ele insiste em um dos vícios desse universo e, por que não, de toda a vida pública brasileira – a personalização que deposita em uma só pessoa a esperança de salvação e enfraquece as instituições. A solução talvez seja um tanto paradoxal – ao mesmo tempo que o trabalho de Neschling ajudou a resgatar a Osesp, deve ser ele também o responsável por criar na orquestra a solidez que garanta sua existência depois de sua saída, sob o comando de outros maestros. Dez anos depois, está na hora de começar a pensar no assunto.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

por aí...

A gente fica fora uns tempos... Roberto Minczuk – agora nenhuma das partes envolvidas nega – é mesmo o novo diretor musical e regente titular do Teatro Municipal do Rio, acumulando o posto com o de diretor e regente da Orquestra Sinfônica Brasileira. Generalmusikdiretor? Clóvis Marques é o primeiro a se pronuciar a respeito, na sua coluna na revista Concerto. Enquanto isso, em São Paulo, o episódio “Neschlíngua” (assim dizia o título do vídeo do ensaio, postado no You Tube, em que o maestro disparava contra desafetos, entre eles o governador José Serra) parece chegar a um fim com uma carta, endereçada aos membros do conselho da Fundação Osesp, em que Neschling pede desculpas e manifesta seu “respeito a todos a que afetei com minhas palavras” – em tempo: a associação de profissionais da Osesp também divulgou carta, endereçada ao presidente da fundação, FHC, manifestando sua “total indignação, reprovação e repúdio” com a divulgação do vídeo. Em outras palavras, pegou mal pra caramba. De volta à música: Antonio Meneses lançou novo disco, dedicado a obras de Mendelssohn – Leonardo Martinelli escreve a crítica no OutraMúsica (e, estando por lá, aproveite para ler o belo cacete que ele meteu na “Aida” apresentada no Credicard Hall, uma das maiores bobagens a que já fomos submetidos em anos recentes. No Estadão de ontem, Gilberto Mendes escreve sobre a biografia de Alfred Shnittke escrita por Marco Aurélio Scarpinella Bueno e lançada pela Algol. E, na BBC Music Magazine, um time de especialistas é escalado para defender a tese de que Leonard Bernstein foi o maior músico moderno. Depois tem mais.