sexta-feira, 23 de novembro de 2007

em defesa da ópera

O maestro Luiz Fernando Malheiro rege, domingo de manhã, a Quinta de Mahler e a Shéhérazade de Ravel no Teatro Municipal. Hoje, no entanto, exercita outra de suas facetas. Assina, no suplemento "Fim de Semana", da "Gazeta Mercantil", um artigo, "Ópera como Instrumento Político", em que parte em defesa da ópera. Como o acesso do site é restrito, reproduzo aqui algumas de suas principais idéias. Em primeiro lugar, ele defende a importância da cultura na formação de um povo, de um país. E, em seguida, discute o papel da ópera neste contexto. Na verdade, ele parte contra a idéia de que a ópera seria, por ser considerada “elitista e excludente” por patrocinadores e governos, menos importante que outras áreas da criação artística. “O Brasil é tudo isso: samba, rock, funk, mas é também ópera, música clássica. Quando fazemos a montagem de uma ópera, estamos oferecendo ao Brasil um pouco de tudo e uma pitadinha positiva em sua imagem no exterior”, escreve, dando exemplos, como os números de público em Manaus, que provam que a ópera tem sim apelo popular. Assino embaixo das idéias do Malheiro, não acho que tenha muito a acrescentar e fico realmente feliz em ver “representantes da classe”, artistas ligados ao meio participando do debate público sobre política cultural, inserindo a música clássica e a ópera em uma discussão em que ela costuma ser ignorada, alienada. Só discordo dele em um ponto, acessório em seu artigo mas, ainda assim, importante: o do papel das leis de incentivo nesse processo de resgate da ópera e dos concertos. É verdade, como ele diz, que elas possibilitaram a ampliação, nos últimos anos, do número de produções e concertos. Mas não dá para depositar nelas a esperança de realização de projetos consistentes. No mundo da ópera, tempo é fundamental para se ter a continuidade que vai levar à criação de uma estrutura mínima de trabalho - e não sou eu que preciso dizer isso para vocês. Mas acho que as leis de incentivo, com a ênfase exacerbada no marketing, priorizam, com raríssimas exceções, projetos pontuais, de curto prazo. É fundamental mostrar aos patrocinadores que a ópera pode e deve competir com as outras áreas na hora do investimento. Mas eles tem que entender que bancar uma ou outra produção não resolve o problema.

5 comentários:

Pedrita disse...

eu acho que toda expressão cultural deve ter investimento e ser propagada. é o mesmo que acontece com teatro e música experimental. é para um público restrito, mas nem por isso não devem ter incentivo financeiro. beijos, pedrita

Fernando Vasconcelos disse...

Olá de Portugal.
Sherezade de Ravel ? É mesmo de Ravel ou não será a Rimsky-Korsakov ? É claro que podem sempre haver duas ... caso em que ainda melhor tenho de conhecer esta segunda :-)

joãosampaio disse...

oi, fernando, bom receber notícias de portugal! pois é, ravel também escreveu sua Sheherazade, na verdade, escreveu duas: uma abertura orquestral e este ciclo de canções apresentado hoje aqui no Municipal, baseado em textos de Tristan Klingsor. vale a pena conhecer, é ravel em seu melhor. um forte abraço, joão

Anônimo disse...

Sem dúvida as considerações do Maestro Malheiro sobre o futuro da ópera no Brasil são corretas e de grande importância. Mas concorco com o Sampaio que as leis de incentivo não podem,em si, determinar esse futuro. Das 8 produções que realizei com meu Núcleo de ópera nesses 4 anos apenas duas foram patrocinadas,as outras foram produzidas com nosso próprio capital de giro.Aceitei correr este risco justamente para tornar mais consistente o trabalho do Núcleo como também ter mais credibilidade diante de um possível patrocinador. Sem duvida o que mais se sente falta no Brasil são companhias estáveis de ópera, profissionais ou não que construam um repertório sólido, que formem um novo público (o que mais se precisa atualmente) e que consiga cada vez mais ficar livre da dependência do dinheiro do Estado. Incentivo fiscal é bom ,mas acho que deveria existir uma lei que conscientizasse o empresário que investir em cultura é mais uma obrigação que um direito.Só assim construiríamos um futuro consistente para a ópera no país e nos livrariamos do paternalismo estatal, que geralmente obriga o produtor a fazer concessões.

Fernando Vasconcelos disse...

Pois é. De novo só para lhe dizer que encontrei a sheherezade de Ravel. Lindo! Obrigado pela informação.