domingo, 25 de novembro de 2007

rio (2)

O guia "Viva Música!" estampou este mês uma foto do maestro Roberto Minczuk com o Cristo Redentor ao fundo e uma manchete que diz: "O Rei do Rio". Nos corredores da OSB, entre os músicos, a piada é a seguinte: "Você viu a foto? Quem é aquele de braços abertos atrás do Minczuk?". Não dá para escapar: o assunto do momento, por aqui, é a decisão do maestro de, além da direção da Sinfônica Brasileira, assumir a direção musical e regência do Teatro Municipal. Conversei com músicos e membros do público e ninguém questiona a capacidade do maestro de desenvolver um bom trabalho, apesar do receio com o acúmulo de funções e a falta de tempo que ele pode gerar. A pergunta que se ouve muito é outra: para que assumir o teatro? O fato é que, apesar da escolha de uma nova direção para a casa, ninguém parece acreditar em uma solução simples para o Municipal. As dívidas, a burocracia, a necessidade urgente de reformas, tudo isso visto em conjunto com a ausência nos últimos anos de um projeto artístico consistente para a orquestra (que está sem regente titular há quase dois anos), parece levar a um clima de descrença generalizada. Nesse sentido, o que se coloca é que as condições de trabalho, nos próximos anos, estarão muito longe das ideais - e isso pode impedir a concretização dos planos que o maestro começa a preparar. Nessa linha de pensamento, assumir o teatro seria, para Minczuk, um risco desnecessário, a possibilidade de sujar um currículo até agora impecável, que tem concertos como regente convidado em importantes orquestras internacionais e já conta com a reabilitação da OSB. Bom, repórter que sou, levei esses questionamentos ao próprio Minczuk. Ele sabe dos riscos que corre. Não acredita que o acúmulo de funções será um problema. Diz acreditar que tem uma responsabilidade, como brasileiro, com as instituições do País e foi convocado a ajudar na reestruturação do teatro. Não poderia dizer não. "Acabei de completar 40 anos, poderia estar morando nos EUA com minha família, vivendo uma outra vida. Mas optei não deixar o Brasil. Foi essa a minha escolha. E vejo a vida musical do Rio em um momento interessante, de recuperação da auto-estima. É essa a hora da transformação", disse. Em termos práticos, ele discorda do clima de pessimismo e diz acreditar que há um momento propício à recuperação do teatro. Há vontade política de uma gestão na qual ele acredita. Mais do que isso: em 2009, o Municipal completará 100 anos - e a data vai servir para que se concentre esforços na revitalização do teatro. Hoje, assisto "Carmen". A regência é de Silvio Viegas, com participação de Céline Imbert, Fernando Portari, Rosana Lamosa e Stephen Bronk. Voltamos a nos falar.

10 comentários:

Anônimo disse...

A questão que se coloca para um analista atento: este acumulo de funções não seria o primeiro passo para que uma das duas intituições desaparecessem? A Osb se tornando a orquestra oficial do Theatro Municipal, ou o Theatro Municipal tornando obsoleto e desnecessária sua orquestra? Acho muito ingênuo ver este acumulo de funções como algo de antemão positivo. Não numa cidade do tamanho e importância do Rio de Janeiro.

Anônimo disse...

Acho uma irresponsabiidade esse acúmulo. E um sintoma nítido de desprezo pela cidade, ao contrário do que o Maestro Minczuk diz. São trabalhos hercúleos, tanto manter a OSB (que, dizem, está de novo sem receber o aporte da Prefeitura para os salários e usando o dinheiro do patrocínio para pagar os músicos) como recuperar o Municipal (sem comentários - todo carioca está de luto pelo que o maior teatro do Brasil se tornou). Meramente levantar os problemas que o Municipal tem - lembremos de que o Diretor Artístico deve estar envolvido em todas as áreas - já é um trabalho titânico. Estar ali no dia-a-dia, usando todos os cartuchos (eu disse TODOS) em prol da instituição é o MÍNIMO necessário para se fazer um trabalho razoável. Mesmo assim, os problemas de um teatro como aquele são praticamente insolúveis. Assim, não acredito nesse narcisismo e nessa onipotência do Maestro Minczuk. Isso me cheira a desejo de açambarcar a vida musical carioca (não nos esqueçamos de que ele está nitidamente empenhado em derrubar o John Neschling na OSESP também). Melhor seria que um regente com boa experiência administrativa se dedicasse unicamente ao Municipal. Pense, Dona Carla!

Anônimo disse...

O Rio tem público suficiente para justificar três orquestras ativas.

O Rio não tem ainda - mas pode atrair- bons músicos suficientes para justificar três orquestras ativas.

Mas o meio musical do Rio já teve tempo suficiente para mostrar que pode trazer patrocínios que se traduzam em temporadas regulares para o TM. E isso Minczuk tem.

E tem mais: consegue enquadrar patrocinadores às ambições artísticas das orquestras que dirige. E isso é muito raro.

Apenas como exemplo: Karabtchevsky está na Opes há 3-4 temporadas e, a despeito de sua inegável qualidade técnica como regente, não dá ao público a impressão de ter maiores ambições para a orquestra.

A julgar pela esquisitíssima temporada estagnada, sem concertos regulares, em que se salvam apenas os ótimos solistas que o dinheiro da Petrobras compra, ali já impera a acomodação.

E acomodado Minczuk definitivamente não é. Os outros nem tentam, e os que tentaram não conseguiram. Pode ser que desta vez funcione.

Anônimo disse...

Ah, realmente. Acomodado Minczuk não é. Ele é muito criativo. Até criou uma festa de aniversários dele próprio e do Kurt Masur fora de época (nenhum dos dois fazia anos naquele momento) para justificar mais badalação em cima do pobre do alemão - quer dizer, sei lá, pode ser que seja uma necessidade comum de badalar, né? Também acho que a vida musical carioca deveria contar com três orquestras vivas e diferenciadas. Com diretores musicais DIFERENTES, com visões e conceituações diversas. Se o Minczuk quer tanto ajudar o Municipal, deveria se mudar pra lá e deixar a OSB. Duas orquestras na mesma cidade são um pouco demais.

Anônimo disse...

Olha, sua preocupação artística é legítima, e é muito bom que um cara "midiático" como Minczuk seja indiscutivelmente um bom regente também.

É claro que seria preferível alguém diferente, para construir sonoridades distintas, complementares entre si.

Mas acho que o deprimente estado dos corpos artísticos do TM e do próprio TM não nos permite este tipo de luxo. Pelo menos não agora.

Objetivamente, será que os músicos e bailarinos agüentam mais um ano sem dinheiro - e sem temporada?

Minczuk não sabe tudo, não pode tudo, como de resto todos nós. Mas será que alguém mais tem resultado pra mostrar nesta área? Tem cacife pra arrumar grana recorde, em tempo recorde, para produzir uma temporada digna no ano do centenário?

Se esta tal festa serviu pra entreter patrocinadores, por exemplo, lamento, mas faz parte do trabalho de um diretor artístico de orquestra fora da Europa, onde o cara joga o jogo só se quiser o governo - qualquer governo, qualquer partido - paga a conta.

Se Minczuk conseguir montar uma temporada digna, o que ninguém consegue, há anos, e se esta temporada der dignidade financeira e artística aos corpos estáveis do TM, que hoje definham em ambos os aspectos, a indicação dele vem até atrasada!

Eu pensaria diferente, se o cara fosse só marketing. Mas não é.

Pedrita disse...

eu acho complicado o acúmulo de funções. mas se o teatro infelizmente continuar como anda e com programação escassa, o minzcuk terá tempo para tudo. é só realizar uns concertinhos com os mesmos de sempre que está tudo bem. beijos, pedrita

Anônimo disse...

Mas é o que eu disse ali - então, já que ele quer ajudar, mude-se para o TM. Dedique-se. Use a capacidade "midiática" em favor do Teatro. Até porque "arrumar grana" para o Teatro Municipal não deveria ser função do Diretor Artístico, mas do Diretor da Instituição e da própria Secretaria de Cultura. Em São Paulo, por um bom período, houve uma Associação de Amigos que manteve o caixa do TMSP - uma estratégia do diretor da época, Emilio Kalil. Se é assim, então por que não chamar a Petrobras para patrocinar 100% do Teatro e em troca ter sua Orquestra ali? Muito mais importante do que patrocinar o Canecão, vamos combinar, né? Aquilo aliás é um mico: Canecão Petrobras que continua sendo uma casa exclusivamente comercial, num terreno roubado da UFRJ. Mas voltando ao assunto - pelo que eu sei, a OSB vai ter uma sede (a Cidade da Música). Por que não manter as duas outras Orquestras (a do Teatro e a da Petrobras) no Municipal do Rio, contando com o patrocínio da Estatal para ajudar a instituição? Há muitas soluções possíveis sem que duas das três grandes orquestras da cidade sejam "clones" artísticos. E ainda acrescento uma coisa: acredito que o tão "generoso" Minczuk, que se diz "entusiasmado" pela volta pro cima da vida música carioca (devido a ele, naaaaaaturalmente), estará apenas marcando passo para o que realmente parece querer - a direção da OSESP, que ele assumiria assim que o Neschling finalmente ceder às muitas pressões.

Anônimo disse...

João, só uma correção, para tirar a vírgula que ficou sobrando na frase: "Bom, repórter que sou"... Hehe.

Anônimo disse...

Nossa, quanto papo furado!

O Teatro Municipal do Rj é um antro de vagabundos, embora haja profissionais muito sérios atrabalhando ali, na orquestra, no ballet, no coro e outros setores, mas são minoria.

E o Minczuck está encarando provavelmente o trabalho ais diícil da sua vida. Ele é uito corajoso e eu o adiro ainda mais por isso.

Se der certo com certeza ele larga a OSB porque lá ele não tem o poder de fazer todas as mudanças necessárias para se criar uma boa orquestra. Lá quem manda na verdade são outros poderes...

Anônimo disse...

Na peidola!