terça-feira, 18 de setembro de 2007

uma frase do ministro

Fazendo algumas pesquisas aqui no jornal, me deparei com uma declaração do ministro Gilberto Gil, feita durante o primeiro seminário das orquestras sinfônicas brasileiras, em dezembro, na Sala São Paulo. Discorrendo sobre a política cultural de sua gestão para a música clássica, ele se disse obrigado a reconhecer que ela não existia, era uma “lacuna”. Mais grave: ele disse não saber por onde começar a reparar o erro e pediu ajuda das orquestras na hora da formatar uma política específica para o setor. Bom, a incapacidade doentia de nossas orquestras de se articularem em favor de um bem comum é mais do que garantia, aliada à atitude passiva do ministério, de que o governo deve acabar com um saldo de oito anos perdidos no que diz respeito à uma tentativa de repensar a atividade da música clássica no País. Enfim, estou me desviando. O que me chamou a atenção na declaração do ministro, na verdade, foi outro ponto que, para mim, é mais grave e importante. Ele falou em “política específica” para o setor. É inegável que o ministério atuou em outras áreas, criou adendos para a lei do cinema, por exemplo, incentivou as manifestações regionais e assim por diante. Mas, eu me pergunto: é essa apenas a função do ministério, ou seja, identificar setores da produção cultural e fazer investimentos pontuais que levem à sua realização? É claro que o ministério pode e deve eleger projetos que julgue importantes na articulação da cultura nacional. Mas, é só isso? Bom, já está claro que penso que não. O ministro fala em políticas específicas quando, na verdade, penso eu, deveria é estar falando em políticas mais amplas. Quando se pensa em política cultural, acredito, deve-se pensar em um modelo de financiamento e estímulo à cultura por meio, claro, da produção cultural. Devem ser lançadas bases, linhas de pensamento, conceitos de atuação. Nesse contexto, não acho que exista questão mais urgente que a das leis de incentivo. Todos sabem, mas vale lembrar como elas funcionam: o produtor cultural cria um projeto e se inscreve no ministério – e, com o projeto aprovado, sai à cata de patrocinadores que, se decidirem investir na iniciativa, poderão descontar do imposto a pagar o valor, ou parte dele, do investimento. Há uma primeira conseqüência, mais óbvia, deste modelo: no final das contas, o dinheiro investido é público, só que ele passa a ser usado de acordo com o interesse privado, ou seja, do patrocinador, que tem toda a liberdade para decidir no que vai ou não investir. E, como no Brasil não há uma tradição de mecenato privado e as empresas bancam apenas aquilo que vai oferecer retorno em marketing , não seria absurdo dizer que a lei de incentivo permite à empresa promover sua marca com dinheiro público, ajudando de quebra o artista. A essa crítica, o ministério responde há muito tempo da seguinte forma: o Estado não está abrindo mão da participação no processo – no momento em que seleciona os projetos, já o encaminha e regula. Em teoria, perfeito. Mas aqui mesmo no blog já citei casos de uma série de desvios e irregularidades – e, recentemente, a Folha Online encontrou dois casos bastante representativos, envolvendo artistas que conseguem sustento comercial, ou seja, faturam com shows, CDs e DVDs o suficiente para bancar suas atividades, mas que estão se inscrevendo na lei sem precisar (e conseguindo a aprovação do ministério). Podemos lembrar ainda outros desvios, como o altíssimo valor dos ingressos que muitos projetos cobram, apesar de estarem usando dinheiro público para ficar de pé: caso, por exemplo, dos grandes musicais ou da recente turnê do Cirque du Soleil pelo país. Enfim, nada disso é novidade e essa situação foi herdada de outras gestões. Mas o fato é que, se a lei de incentivo é uma realidade e veio para ficar e regular por um bom tempo a atividade cultural no País, deveria estar sendo discutida e aperfeiçoada. O ministério estaria fazendo um grande favor a todos os “setores específicos” se, em vez de tentar solucionar problemas individuais, criasse projetos e linhas conceituais de atuação que contemplassem a todos e unificassem a atividade cultural. Ou não?

7 comentários:

Viralata disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Viralata disse...

Joãozinho com um presidente que diz que “ler é pior que fazer exercício em esteira” e um ministro da cultura que ‘tomba’o acarajé como patrimônio da humanidade e quando perguntado qual era sua maior preocupação antes de aceitar o cargo responde bocejando: “Tinha medo de não acordar cedo” (!!!!!!), você acha realmente que podemos esperar alguma reação sensata desta gente?
Ou pior, eu tenho certeza absoluta que eles não tem noção do que se passa no meio artístico (seja erudito ou popular).
Enfim, estamos todos esperando que o ‘deus’ Wotan pague a conta do palácio construído pelos gigantes, bem, sabemos como termina este ciclo não é, boa coisa não vem por aí!
Abraço

Pedrita disse...

eu não gosto da atual política cultural do ministério da cultura. acho que deixa em todas as áreas a desejar e tudo o que existe foi criado nas gestões anteriores. eu gostava muito do informativo do minc, do jornalzinho. gostava do site sem os currículos e contatos para contratar o ministro pra shows. não estou satisfeita com a gestão atual. tinha ficado feliz quando nosso atual ministro disse que dificilmente continuaria nessa gestão, mas ele acabou cedendo aos encantos de ser chamado mais intensamente para shows, então deve ter decidido continuar. beijos, pedrita

Mauricio Poletti disse...

João,

Gilberto Gil, foi colocado lá para que o governo tenha o mínimo de chateação com essa área “inútil” que é a cultura. É amigo de todos os nomes da MPB, que não querem falar mal do ministério para não ficar mal com o amigo. Lembro-me da patética situação em um Carnaval da Bahia, onde, um desses cantores de trio elétrico reclamou com ele e depois foi pedir desculpas ao amigo querido.

Preocupação com musica clássica? Pra que? Uma “arte elitista” ??? Gastar dinheiro com arte para as “Elites”? Não... o Brasil não precisa disso... A musica clássica não é representativa no Brasil. Ela não representa o seu povo, então pra que se preocupar com ela? Ninguém foi enviado no Ano do Brasil na França para mostrar os nossos compositores clássicos, ou a arte de nossos músicos...

Quem representa o Brasil, são os nossos músicos de Axé, Samba... É o nosso Ministro que fez um belo Show na França... Afinal quem representaria melhor o Brasil que o nosso Ministro? Nelson Freire? Antonio Meneses? Apresentando Villa Lobos? Camargo Guarnieri? Cláudio Santoro?

Infelizmente é assim que pensam os atuais governantes. Foram raras as vezes que tivemos a sorte de ter alguém com um pouco mais de visão na chefia do executivo e na cadeira da Cultura. Foram raríssimas as vezes em que isso aconteceu no Brasil e quando aconteceu, conseguimos caminhar bastante.

E acho que não é uma questão apenas de incentivo financeiro, mas de uma verdadeira política cultural, que deveria envolver a educação musical nas escolas. Vi um documentário sobre aquele fenomenal ensino de musica na Venezuela, que em nada é relacionada ao atual governante, que apenas manteve a política (e isso já é importante; o que vemos de políticos querendo destruir o que de bom temos, é inacreditável), e fico inconformado de não conseguirmos realizar o mesmo em nossas terras. Tudo o que precisávamos era de alguém com mais pulso no ministério e que tenha real interesse em resolver esses problemas. Não um cantor que está lá para que o governo não seja tão cobrado.

Anônimo disse...

As preocupações do governo deveriam ser apenas educação, saúde, segurança, saneamento e mais nada. Aliás tudo administrado não por políticos, mas apenas por um corpo técnico. A dita democracia é apenas uma armação política, sem significado real. E cultura seria a última coisa que precisa de governo. Se pegarmos alguns livros de história, cultura alguma foi financiada pelo governo. Apenas uma cultura governista e banal(ex:unição soviética). No Brasil ainda estamos na fase da barbárie, de uma tremenda guerra civil e sanguinária. Não é neste clima de barulho e caos que uma orquestra fará diferença. Falta muito "pão" para pensarmos em "circo".

Anônimo disse...

adoro as trancinhas do ministro Gil; e adoro quanto a Preta, filha dele, se apresenta na televisão.

Pedrita disse...

saiu na revista exame dessa semana
EXAME Cinema
Um pirata na casa do ministro Gil
Primeiro foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que assistiu ao filme Dois Filhos de Francisco em cópia pirata. Agora, quase dois anos depois, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, seguiu o mau exemplo do chefe e reuniu uma turma de amigos em seu apartamento no Rio de Janeiro para uma sessão pirata do filme Tropa de Elite, do diretor José Padilha, ainda não lançado no cinema. Gil, no entanto, passou vergonha. Padilha soube, por amigos, da sessão privê organizada pelo ministro e apareceu de surpresa. Gil não o recebeu, mas pediu que sua mulher, Flora, entregasse o DVD ao cineasta. Por meio de sua assessoria de imprensa, Gil negou que tenha convidado amigos para uma sessão, mas confirma que devolveu um DVD pirata do filme a Padilha.