sábado, 23 de junho de 2007
desvios
Mais um post rapidinho antes de sair para Campinas para o quarto concerto da série dedicada a Berio e Ligeti de que fiz a curadoria para o Espaço Cultural CPFL. Amanhã, prometo que escrevo mais sobre as apresentações, que têm sido bem interessantes. Mas, antes, queria só comentar um negócio que li agora há pouco na Folha de ontem (é, a leitura anda um pouco atrasada...)sobre o espetáculo "O Guarani VIA GOL". É o primeiro de uma série de espetáculos promovidos pela companhia aérea com o objetivo, dizem eles, de "oferecer novos olhares sobre grandes e consagradas obras de arte". Enfim, para resumir, o espetáculo pega a partitura de Carlos Gomes e a mistura com a música eletrônica, com a participação de DJs, maestro, soprano, etc, "lançando no Brasil o conceito de espetáculo-festa". Não vou nem entrar no mérito deste tipo de espetáculo, até porque não o assisti e nem pude conversar com nenhum dos envolvidos. O que me chamou a atenção, na verdade, foi o valor de patrocínio publicado pela Folha. A coisa toda vai custar R$ 4,7 milhões, dos quais R$ 3,7 milhões foram captados com chancela das leis de incentivo. Detalhe: serão apenas duas apresentações, a primeira (ontem) fechada para convidados e a segunda, hoje, com ingressos de R$ 25 a R$ 120, aberta ao público. Pergunto: não é dinheiro demais para apresentação de menos? Com R$ 4,7 milhões, produzem-se quantas óperas? Quatro, cinco, seis? O valor é quase o dobro do orçamento total do Festival Amazonas, por exemplo. Não é novidade nenhuma que as leis de incentivo contém desvios absurdos mas, enfim, não custa perguntar: será que é certo uma empresa usar a renúncia fiscal para investir em projetos próprios? O que vocês acham?
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4 comentários:
Caro João Luiz,
Primeiramente, quero me declarar fã do seu blog: eu o visito diariamente.
Quanto à questão do patrocínio, sem comentários, você falou tudo.
Já sobre o seu módulo na CPFL, infelizmente tive a oportunidade de assistir a poucos concertos -- somente ao primeiro e ao de hoje, do Collegium Musicum. Eu já cantei em um bom coral em Campinas e saí feliz do concerto porque o coral em que cantei nunca fez o papelão do Collegium Musicum. Parar a música no meio 2 vezes e retomar, fora os muitos desencontros, foi demais. Desafinar loucamente numa melodia brasileira tão conhecida... O coral até parece ser bom, foi um repertório dificílimo e eles acabaram de sair de um concerto também difícil e importante, mas não se pode querer dar o passo maior que a perna. Foi desrespeito com o público e os 'queimou'.
Estimo suas melhoras.
Um abraço.
oi, fabiana, obrigado por prestigiar o blog! imagino que o pessoal da CPFL tenha avisado a vocês que, por motivos de saúde, acabei precisando ficar em são paulo e não pude prestigiar o concerto do Collegium Musicum; é uma pena que você não tenha gostado da apresentação, mas agradeço pela sua presença e deixo já feito o convite para o concerto da semana que vem, com o violoncelista Antonio Meneses e a pianista Celina Svrinsk, encerrando a nossa série. abs
a gol não está errada. a mídia dá uma importância enorme a essas idéias pirotécnicas e pouco ao cotidiano incrível da música. não era de se esperar que fizessem um projeto que atraísse a mídia, que não-necessariamente precise ter qualidade. pode ser até que consigam ser interessantes, mas o objetivo principal é atrair a atenção. beijos, pedrita
Super Pedrita,
Não, o objetivo não é atrair a atenção, é ganhar dinheiro. O que o João Luiz colocou é que, com o orçamento dessa montagem, é possivel realizar cinco ou seis óperas - e é verdade. E imagino que esse é o tipo de espetáculo "muito glacê para pouquissimo bolo" que, infelizmente, é muito comum de se ver hoje em dia, e que atrai a mídia pelo rótulo de "inovador" mas no fundo é extremamente vazio. Com esse espetáculo a GOL terá, com certeza, um retorno e uma visibilidade bem significativos, mas também não acredito que isso seja o principal objetivo do patrocínio. Essa grana deve "pingar" em muitas mãos... bem, esta é a realidade do nosso país.
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