domingo, 27 de maio de 2007

lebrecht

No Estadão de hoje, texto de João Marcos Coelho sobre o novo livro de Norman Lebrecht, Life and Death of Classical Music: "Foi bom enquanto durou. O ciclo da música gravada acaba de morrer. E não há nada que se possa fazer sobre isso, a não ser o chamado 'jus esperneandi' das grandes gravadoras, que viram seus lucros pornográficos desabarem, por obra e graça da tecnologia e da internet, até a insolvência total. Esta indústria está morta. Falta enterrá-la. Este é o mantra que há mais ou menos uma década o jornalista inglês Norman Lebrecht repete em seus artigos no London Evening Standard, no seu programa na BBC Radio 3, em sua coluna semanal e em seu blog. Ele já tinha batido um prego enorme neste caixão com O Mito do Maestro, um catatau de mais de 500 páginas que esmiúça os podres dos regentes, as negociatas com os grandes empresários, etc. Agora, faz o que chama de 'autópsia post-mortem' neste cadáver ainda fresco, com um livro que acaba de ser lançado nos Estados Unidos e Inglaterra. O título é apocalíptico: Life and Death of Classical Music, ou vida e morte da música clássica (Anchor Books, US$ 10,17 o exemplar novo e US$ 8,45 o usado no site Amazon)." Continua aqui.

5 comentários:

Anônimo disse...

Pelo que entendi o título deveria ser "Life and Death of CD" apenas, o que também é uma grande bobagem. Só a gravadora Naxos oferece títulos que há trinta anos atrás nem imaginávamos. Compositores como Szymanovski, Schoenberg, Nielsen, Martinú, Villa-Lobos, Ives, Schnittke, entre outros eram raríssimos de encontrar. E mesmo medalhões como Vivaldi, Handel entre outros do barroco só agora ganham intérpretes excepcionais. Vivemos hoje uma época fantástica de opções. E o cd ainda é o meio que nós, amantes da música, mais buscamos.

Realmente, estamos ruins de homens polêmicos.

Unknown disse...

Quantas vezes você ouviu dizer que isso ou aquilo morreu? O teatro, a ópera, a pintura, até mesmo o cinema já tiveram seu óbito declarado. Nem a História escapou: houve um desses historiadores caídos com a última chuva que declarou, uma vez, que ela tinha acabado. Gravadoras como a Naxos demonstram que ainda há muito a fazer e muito a revelar. Acredito que haja mudanças consideráveis na forma como a música gravada é produzida mas, daí a pronunciar a morte do disco -- e, por extensão, da música clássica -- é uma tolice considerável, e Lebrecht curte muito um "succès de scandale". Tenho a certeza de que, por muito tempo ainda, continuaremos a ouvir CD. O que me prova isso é, por exemplo, ter acabado de sair a primeira gravação da "Maria Stuarda" de Mercadante, um autor muito importante da primeira geração romântica, e do qual ainda há muita coisa a ser redescoberta

Outra coisa: não me espanta que, na lista das vinte piores gravações, esteja o "Réquiem" de Verdi do Guérguiev, no qual o Bocelli entra como Pilatos numa conhecida opração católica.
Mas, decididamente, não entendo mais nada se, nessa lista, qualificando-a de "desastre total", ele coloca o "Triplo" de Beethoven com Richter, Óistrakh, Rostropóvitch/Karajan.

Anônimo disse...

morrer, não; porém, a indústria de discos - e não somente a clássica -precisa com urgência encontrar alguma alternativa inteligente para a sua sobrevivência enquanto negócio sustentável.

há algum tempo, ficou famosa a gravação da Frau Ohne Schatten do Solti que havia custado 1 milhão de dólares para ser produzida, dinheiro gasto em cachês dos cantores, do maestro, da orquestra, do pessoal técnico, e da casa editora, que cobrou uns bons 200 mil de direitos autorais (que dificilmente seriam repassados aos herdeiros de Strauss e de Hofmannsthal).

calculando um outro gasto adicional de publicidade ( 1/5 daquele total?) e fazendo as contas, se cada caixinha custasse 30 dólares (para a Decca), seriam necessários algo como vender 40 mil cópias para cobrir os custos. somente a venda da 40.001a iria gerar algum lucro para a gravadora.

Em geral, essa cifra de venda ocorre depois de dez anos, em casos como esse ( Die Frau não é propriamente uma ópera popular...)

mesmo a Naxos, com toda a sua inventividade e custos baixos de produção, não é uma torrente de geração de dinheiro. As suas vendas ficam em torno de 5 a 10 mil por Cd em prazos muito dilatados.

e tudo isso em uma época na qual um Cd virgem custa menos de R$1,00 e qualquer pessoa clona, em menos de 10 minutos, um CD em seu computador.

penso que a morte da indústria fonográfica seja uma redução brutal de lançamentos, dos frequentes 200 a 300 mensais, no mercado inglês para algo como 20 a 50, e o desaparecimento de muitos dos grandes selos multinacionais ( Sony, RCA, Erato, Telefunken, etc.)exatamente aqueles cujos custos ficavam em padrões estratosféricos.

nós, consumidores, podemos dormir tranquilos pois dificilmente conseguimos absorver mais do que 5 a 10 disocs novos por mês. A insonia fica por conta dos executivos das gravadoras que têm de equacionar as suas perdas...

Mauricio Poletti disse...

Acho que o mais provável e que a grande industria acabe se voltando para a produção de DVDs. Tanto opera quanto em concertos o recurso visual e um atrativo imenso, alem da possibilidade de extras interessantíssimos. Acredito que o grande problema para os CDs não seja a copia direta de um CD para outro. Não acredito nisso, em se tratando de musica clássica. O grande problema para as gravadoras e a Internet. Qualquer pessoa que tenha banda larga (para facilitar) tem acesso a praticamente qualquer gravação existente, com a mesma qualidade de som e de uma maneira muito rápida. A transferência de DVDs via Internet e ainda muito trabalhosa e demanda um tempo gigantesco. Transferir vídeos e possível e mais rápido, mas existe uma natural perda de qualidade. Então, a produção de DVDs alem de mais baratas, pq. não exige das gravadoras uma produção especifica (basta montar as condições para o registro em uma apresentação) e a que possui melhor mercado. Hoje temos uma Traviata de Salzburg com a Netrebko com uma qualidade de som e imagem impressionantes. Não duvido de que em um ano teremos essa Manon produzida em Berlim.

Anônimo disse...

Para Lebrech, a música clássica se resume em Bach, Mozart, Beethoven e mais alguns dinossauros. Para esse repertório, talvez o fim se aproxime para os cds. Mas para as outras centenas de compositores injustiçados, esse tem sido um grande momento. Lembrem-se que apenas agora podemos encontrar mais de uma opção da integral das bachianas brasileiras do Villa.