segunda-feira, 22 de janeiro de 2007
ainadamar, de golijov
Do Lauro: Em sua matéria sobre Tan Dun, citada em um post recente, Anthony Tommasini menciona que a próxima encomenda do Metropolitan será feita ao argentino Osvaldo Golijov, um compositor com nome em ascensão. No selo Deutsche Grammophon, você encontra a gravação de “Ainadamar”, a ópera responsável pelo seu prestígio atual. Encomendada pelo Festival de Tanglewood, depois do sucesso, em Boston, de “La Pasión de San Marcos”, um drama da Paixão cantado e dançado, ela estreou ali em agosto de 2003 (o disco da DG traz o elenco dessa estréia, com Dawn Upshaw e Robert Spano à frente da Orquestra de Atlanta). “Ainadamar” (Fonte das Lágrimas) é o nome que os mouros deram ao local onde o poeta Federico García Lorca. A ação passa-se em um teatro de Montevidéu, na década de 1960. Antes de entrar em cena para interpretar “Mariana Pineda”, a grande atriz catalã Margarita Xirgù relembra a morte de Lorca, e o histórico espetáculo de 1927, com cenários de Salvador Dali, em que a criação do papel de Mariana a tornou célebre. Reviver a dolorosa experiência da morte do amigo a leva à conclusão de que ter sobrevivido àquele período trágico lhe permitiu continuar mantendo vivo o legado do poeta. Golijov mistura à música sons pré-gravados de água, sons da natureza e, na cena do fuzilamento, estampidos de fuzil usados como instrumentos de percursão. É uma partitura de tonalismo livre – como tem sido comum nesta fase pós-moderna de contestação ao serialismo ortodoxo – à qual ele funde traços de flamenco e rumba (no momento em que Xirgù relembra a sua juventude), além da citação das baladas folclóricas espanholas harmonizadas por Lorca. Ele faz, em especial, um uso dramaticamente muito expressivo de “¡Qué día tan triste em Granada!”. A ópera fez um sucesso enorme em Tanglewood e eu me lembro que, na época, Alex Ross, do “New York Times”, fez dela uma resenha entusiástica. Dela para cá, foram muito bem recebidas as “Ayres” de Golijóv – a harmonização de canções de diversas procedências, no estilo das “Canções Folclóricas”, de Luciano Berio – e o “Yiddishebuk”, um ciclo de canções baseadas em poemas judeus escritos em iídiche.
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2 comentários:
Nunca ouvi essa peça, espero que você a programe na Cultura FM.
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