segunda-feira, 8 de janeiro de 2007
caballé, don carlo
Outro dia assisti a um documentário sobre a soprano Montserrat Caballé. O filme é muito bem feito. É ela mesma quem conduz a cena, relembrando os principais momentos da carreira, voltando aos palcos e locais mais importantes de sua trajetória artística, falando abertamente de sua vida pessoal e de temas espinhosos como o fato dela ter participado muito pouco da educação dos filhos, deixados com os avós enquanto ela e seu marido, o tenor Bernabé Martí, viajavam pelo mundo. O documentário tem ainda diversas cenas suas no palco, além de depoimentos de colegas como Elena Obrastzova, Plácido Domingo, Zubin Mehta, que revelam uma figura extremamente bem-humorada e divertida. Sempre gostei muito da Caballé mas às vezes tenho a impressão de que ela não tem o reconhecimento que devia. Nem todo mundo acerta sempre – existe um disco de duetos em que ela canta com uma série de artistas populares que é puro mau gosto, seja nos arranjos, seja no repertório escolhido. Mas quando ela acertava, rapaz.... Depois de ver o documentário, fui ouvir o Don Carlo, de Verdi, que ela gravou com o Domingo (regência de Carlo Maria Giulini/EMI Classics). Para quem não conhece, a ópera narra a história de amor entre o herdeiro do trono espanhol, Carlo, e a princesa Elisabetta, da França – os dois se apaixonam mas são obrigados a reprimir este amor quando o rei espanhol Felipe II, pai de Carlos, resolve ele mesmo se casar com a princesa. Don Carlo é minha ópera do coração. E confesso que ainda não ouvi um dueto final mais emocionante e apaixonado que o gravado por Caballé e Domingo. Tudo bem, naquele momento os dois chegam enfim à conclusão de que aquele amor é impossível – e que devem abrir mão dele ao menos por enquanto, esperando o reencontro em um “mundo melhor”. É a mais pura resignação, mas em nenhum momento a música de Verdi deixa de sugerir exatamente o contrário. O dueto, ao falar da necessidade da separação, é uma das mais belas declarações de amor de toda a história da ópera. A propósito, o documentário que, afinal de contas, era o tema da mensagem, chama-se "Beyond Music" e foi lançado pela EuroArts.
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