terça-feira, 10 de abril de 2007
josé serra, osesp e o teatro são pedro
Desde o início do ano se fala a boca miúda que uma das determinações dadas pelo governador José Serra a seu secretário de Cultura, João Sayad, seria a de encontrar uma maneira de tirar o maestro John Neschling da direção artística da Fundação Osesp. Na época, falou-se até em possíveis substitutos – sim, o maestro Roberto Minczuk encabeça todas as listas e há quem diga que chegou mesmo a ser convidado para substituir o ex-chefe (mais detalhes na coluna de Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo, e na pequena entrevista com John Neschling publicada no mesmo jornal, onde ele diz que se os boatos continuaram ele vai se encher e deixar o cargo por conta própria). De umas três semanas para cá, novos rumores. O que se diz agora é que o governo não quer mais o Teatro São Pedro como espaço dedicado exclusivamente à ópera. Várias pessoas ligadas ao teatro confirmam a história, mas ninguém soube me explicar muito bem os motivos, ou seja, o que levou o secretário a chegar a essa conclusão. Uma possibilidade: há gente perto do governador sugerindo que o São Pedro deve ser usado para o teatro de prosa.O jornalista João Baptista Natali escreveu na Folha de ontem um artigo sobre as duas questões. Se os boatos são verdadeiros, escreve ele, o governador Serra corre o risco de “colocar no currículo o título duvidoso de coveiro da Osesp, a Orquestra Sinfônica do Estado”, somado à “desonra” de encerrar o recente processo de redefinição da atividade do São Pedro. Vale a pena ler a íntegra do texto, que toca também na questão da dissolução do Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo pela prefeitura (sobre este tema, leia ainda a edição deste mês da Revista Concerto). Concordo com Natali quando ele diz que é temerário colocar em risco a Osesp e o São Pedro. Mas acho que há uma diferença entre os dois casos. Na Osesp, a mudança seria de comando; no São Pedro, trata-se da redefinição do conceito de ocupação de um teatro. Acho que essa distinção leva a uma pergunta. É indiscutível a importância do maestro John Neschling à frente da Osesp e o que ele fez foi sim histórico. Agora, até que ponto podemos afirmar que um não vive sem o outro? Isso não nos leva a um personalismo que é um dos vícios da vida pública brasileira? Quando a Osesp vai se sustentar perante a sociedade e o meio musical independentemente de quem estiver à sua frente? É claro que cada maestro e diretor artístico vai imprimir a sua marca, mas o básico, o essencial não tem que ser mais forte que a pessoa à frente da instituição? É claro que no caso de uma instituição relativamente nova como a Osesp, que vive em um país onde a cultura está longe de ser prioridade, as coisas não são tão simples assim. Ainda assim, acho que estas perguntas precisam ser feitas. Uma coisa, no entanto, entristece: a maneira como esta história está sendo conduzida. Se um governador tem algo a dizer sobre um projeto que está sob seu comando, por que não diz? Se quer repensar a utilização de um de seus teatros, por que não convoca um debate amplo, público? A boataria que circula é nociva, mostra falta de profissionalismo e só demonstra o quão pouco importante é a cultura no olhar de nossos homens públicos. O silêncio do governo perante o que tem sido publicado na imprensa é emblemático. E só mostra que políticas culturais continuam a ser substituídas por jogos políticos. Até quando?
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3 comentários:
aprendi que só a comunicação evita boatos. informar e esclarecer constantemente é o que protege os profissionais. seria a melhor forma de minimizarem as especulações. beijos, pedrita
Vamos por partes. Se é verdade o que dizem -- que vem, da classe teatral, ou pelo menos de determinados membros dela, muito influentes junto ao governo -- a pressão para que o São Pedro seja usado também como teatro de prosa (contra o qual não tenho absolutamente nada), esta é uma posição tristemente equivocada. São Paulo tem poucos teatros especificamente equipados para espetáculos musicais e, dentre eles, o São Pedro é o que está apresentando, neste momento, a proposta mais interessante de temporada lírica. O saldo, mais positivo do que negativo, da "Lucia" com que a temporada se iniciou cria a expectativa de que um trabalho muito conseqüente possa ser feito naquela casa.
Prosseguindo o comentário acima: Não tem sentido, portanto, que em nome de se montar ali espetáculos de outra natureza, prive-se o São Pedro de datas e orçamento para levar adiante o seu programa. A cidade possui diversos espaços adequados para teatro de prosa, e o mesmo não acontece com a ópera que -- ao contrário do que se quer freqüentemente dizer -- NÃO é uma maniestação artística elitista, restrita a públicos pequenos -- prova disso foi a casa cheia que todas as récitas tiveram.
Uma das funções de uma tribuna como este blog é permitir às pessoas externar a sua opinião. Digam-nos, portanto, de que maneira se colocam em relação a uma questão como essa. Esse debate pode ser muito útil.
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