terça-feira, 3 de abril de 2007

lebrecht ataca novamente

Há alguns anos, o crítico inglês Norman Lebrecht afirmou com todas as letras: a indústria de gravação de discos de música clássica está morta. A idéia e a polêmica que provocou agora estão de volta com "Maestros, Masterpieces and Madness: the Secret Life and Shameful Death of the Classical Record Industry" (em tradução livre: Maestros, Obras-Primas e Loucura: a Vida Secreta e a Morte Vergonhosa da Indústria de Gravação de Clássicos), que Lebrecht lança quinta-feira na Inglaterra. Não é a primeira obra polêmica do crítico, que já assinou, vale lembrar, livros como "Quem Matou a Música Clássica?" e "O Mito do Maestro". Mas a nova obra chega em um momento em que a discussão sobre o fim da indústria fonográfica é cada vez mais alvo de debates. A coisa anda preta. Em 1988, cerca de 700 cds eram lançados por ano no mercado de clássicos. Hoje, são pouco mais de 100 (os números se referem aos grandes conglomerados). A era dos grandes contratos já era. O que aconteceu? A internet e os downloads explicam apenas parte do problema. Excesso de gravações (um exemplo: até o final dos anos 90 haviam mais de 400 versões da "Quinta" de Beethoven disponíveis)? A música clássica é que perdeu sua representatividade como forma de arte? Ou então estamos apenas vivendo um momento de transição e logo tudo vai se resolver e a música ressurgirá, mesmo que talvez em formatos e mídias diferentes? A sensação que eu tenho é que cada uma das perguntas é válida e leva a respostas também importantes, capazes de apontar caminhos. Mas uma resposta mais ampla teria, acredito, que ser um mosaico de respostas a todas essas perguntas. Só não sei se é possível. Enfim, não vi ainda o livro de Lebrecht. O que sei dele é o que está na resenha publicada por Martin Kettle, no "Guardian". Ali, além de informações sobre o livro, há diversos pontos importantes que podem servir como início de discussão para nós. Pronunciem-se.

Um comentário:

Anônimo disse...

eu não vivi a transição do disco de 78 rotações para o Lp, mas vivi muito bem a transição do Lp para o Cd (para quem quiser se situar, a partir de 1982). O disco de vinil era de pior qualidade, de armazenamento mais complicado e de custo muito maior do que o Cd. Porém, o seu reinado durou a grosso modo de 1950 a 1980, exatamente os anos de ouro da recuperação européia e da ascensão norte-americana depois da 2a guerra. Época de reconstrução, de otimismo (apesar da guerra fria), de recuperção econômica, de desenvolvimento do sonho europeu e concomitantemente de boom artístico, em todos os sentidos (TV, cinema, etc.), principalemnte na música. Época de ouro de grandes intérpretes. De certa forma, Os registros fonográficos que deram origem ao LP encerram uma época que se esgotou na década de oitenta. Produzir um disco era uma questão complicada, demorada, na qual a arte se sobrepunha^´a técnica.

o surgimento do Cd e o boom tecnológico colocaram a técnica à frente da arte e a banalizaram ; ao contrário de a indústria fonográfica mudar de lógica, ela manteve a mesma lógica da época do LP - só que agora mais rápido e com recursos muito mais artificiais - e dá-lhe a duocentésima gravação das Quatro Estações, a sesquicentésima gravação da Nona de Beethoven, a primeira com o quarteto da Filarmônica de Tbilisi e a segunda com a Protofilarmonia de Ancara, conjuntos que - mesmo com a maior condescendência do mundo - pouca oportunidade teriam de ter registros na época anterior. E tudo gravado ao vivo, sem esmero e sem nenhuma preocupação com padrões mínimos de qualidade interpretativa. E imprimir 10mil, 100mil Cds é baratíssimo.

na verdade, o que sinto é que houve uma exaustão, uma saturação do mercado, entupido das mesmas coisas, sem que se preocupasse com a originalidade, a qualidade musical intrínseca do produto a ser oferecido. E as gravadoras acabaram perdendo aquilo que exatamente as fazia objeto de desejo: o fato de serem diferentes. Na época do vinil, quando eu comprava um disco do selo Decca, ou EMI, ou DGG eu sabia como seria o encarte, a sonoridade, o "estilo" do que comprava. Eu sabia quais eram os artistas sob contrato emcada uma.

Hoje, eu mal distingo um disco da DGG de um da Naxos ou de um da gravadora de fundo de quintal da minha casa.

Voltar àqueles anos de ouro é impossível. A época se foi e se consumiu em sua lógica. Falta eu acho é pensar na época atual d eforma mais criativa e diferente. Acredito no dia no qual o Cd - que por mal dos pecados ainda é redondo como o LP - se extinguir e for substituído por uma nova mídia, aí sim, as pessoas terão de alterar a sua lógica de produção musical.