quinta-feira, 8 de março de 2007
james morris, antes do wotan
Do Lauro: Falávamos, outro dia, do risco de se ter, na “Valquíria” que será regida por Lorin Maazel no Metropolitan, o Wotan de James Morris, em seu atual estágio de carreira. Pois é um prazer assistir a esse grande cantor, numa fase anterior à de seu primeiro “Anel”, cantando Donizetti. Vinte anos atrás, eu tinha uma daquelas indescritíveis fitas pirata de vídeo, cópia de cópia, dessa “Anna Bolena” de 1984, que foi lançada comercialmente pelo selo VAI. É uma montagem da Canadian Opera Company, regida por Richard Bonynge, a quem devemos um precioso trabalho de resgate de óperas da primeira geração romântica, que estavam semi-esquecidas. O papel título, é claro, é feito pela Sra Bonynge, dame Joan Sutherland, no auge da fama – e a documentação de um dos grandes papéis de seu repertório é o suficiente para tornar atraente este DVD. James Morris faz o papel do rei Henrique VIII, e está excelente em momentos como o dueto “Oh qual parlar fu il suo!”, com Jame Seymour (Judith Forst), a amante pela qual está trocando a Bolena; ou no trio “Arresta, Enrico”, com a Bolena e lord Percy (Michael Myers). Mas, ao fim e ao cabo, é realmente dame Joan quem te conquista, neste espetáculo: ouvi-la no dueto com a rival, “Dio, che mi vedi in core”; ou na belíssima cena final, “Piangete voi?... Cielo, a’ miei lunghi spasimi”, é entender porque, tendo contra si todas as desvantagens físicas, ela enfeitiçava o público, não só pela voz privilegiada, mas também porque, no palco, tinha uma presença extremamente expressiva.
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