No “Caderno 2” do Estadão de hoje um pacote sobre o centenário do compositor Camargo Guarnieri, que nasceu no dia 1º de fevereiro há exatos 100 anos. A matéria está colocada no portal do jornal em duas partes. Para ler a primeira parte, clique aqui. Para a segunda, clique aqui. O texto em que João Marcos Coelho fala das obras que mereceriam resgate, eu reproduzo abaixo já que o acesso a ela no portal está bloqueado.
A chance de ouvir um Guarnieri ainda desconhecido
As efemérides contribuem para que o público conheça melhor a obra dos grandes compositores, certo? Errado. Normalmente, só se observa mais do mesmo. E com Camargo Guarnieri deve acontecer a mesma coisa – os ouvidos interessados em conhecer melhor a sua obra terão provavelmente que se contentar com os mesmos ponteios de sempre, a "Dança Brasileira", a "Canção Sertaneja", a "Dança Negra". No domínio da ópera, "Pedro Malasarte", de 1932, deve ir ao palco pela terceira vez em quatro anos (por que não exercitar a curiosidade e encenar, por exemplo, "Um Homem Só", de 1960, com libreto de Gianfrancesco Guarnieri?). A síndrome perversa da repetição nos faz rodear feito peru de véspera de natal em torno do mesmo repertório. A obra de Guarnieri é muito mais do que as (boas) obras citadas. E como ainda temos o ano inteiro para comemorar seu centenário, que tal mostrá-la? Só de canções, são cerca de duzentas. Aliás, neste gênero, as com acompanhamento orquestral são as mais esquecidas e importantes: os "Quatro Poemas de Macunaíma"; a cantata "A Morte do Aviador"; e "O Caso do Vestido", de 1970, baseado em Drummond. As obras corais? Totalmente esquecidas. Também é inexplicável que as obras concertantes de Guarnieri permaneçam no limbo. Só de peças para piano e orquestra são uma dezena. E refletem um belíssimo itinerário que surge e se consolida nacionalista mas adentra o campo do inimigo (a música serial introduzida no Brasil por Koellreutter). São ótimos também o "Choro para Piano e Orquestra" de 1956 e o "Concertino" de 1961. Mas nem tente adivinhar qual foi a última vez que estas peças foram interpretadas no Brasil. As demais obras concertantes não são menos expressivas, mas compartilham com as de piano o fato de serem pouco ou nunca tocadas. É o caso dos dois concertos para violino e dos três saborosos "Choros" para cordas: violino, viola e violoncelo. Aliás, a série dos "Choros" prossegue invadindo o universo dos sopros: o de flauta, o de clarineta e o de fagote, uma de suas derradeiras obras concertantes, de 1991. Um conjunto de obras que merece ser ouvido com atenção. Muitos músicos brasileiros já montaram programas explorando a farta produção de câmara. Assim, haverá mais chances de o público ouvir os três quartetos de cordas; as sete sonatas para violino e piano (sobretudo a polêmica segunda, que Mário criticou duramente); a sonata para viola; e as três para violoncelo.
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007
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