A idéia é essa mesma: um espaço para falar de música clássica, ópera, seus intérpretes, criadores, críticos, trocando experiências, idéias, sem se esquecer, claro, da literatura, do cinema, do teatro...
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007
norman lebrecht sobre joyce hatto
Demorou, mas o polêmico colunista inglês Norman Lebrecht, autor de livros como "Quem Matou a Música Clássica" e "O Mito do Maestro", entrou na polêmica sobre os discos da pianista Joyce Hatto. Para ler sua coluna, clique aqui.
Uma frase no comentário de Norman Lebrecht -- "these are by no means the first dodgy discs" -- me sugeriu um comentário. No "Guia de CDs" que editei em 1991, para a Abril Cultural -- em que trabalhei com Renato Mesquita, Affonso Risi e Mirian Marques -- foi discutida uma questão, levantada pelo nº 142 da revista "Le Monde de la Musique", de março daquele ano: a de que certos nomes constantes dos selos poderiam ser marcas de fantasia. Selos pequenos, que estavam inundando o mercado florescente do CD com discos a preços módicos, estariam comprando, sobretudo em países do Leste Europeu, gravações de arquivo de boa qualidade. Mas as relançavam com pseudônimos, para evitar de pagar direitos aos herdeiros dos verdadeiros artistas. O que parecia confirmar esse argumento da revista francesa era a visível defasagem de qualidade das gravações atribuídas a determinados artistas: umas brilhantes, outras apenas aceitáveis. Ou o regente era ciclotímico, ou tratava-se de um "nome guarda chuva", abrigando diversos maestros diferentes. Quanto ao fato que Lebrecht menciona, de grandes selos usarem cantores anônimos, para "corrigir" problemas de celebridades, nem sempre esses cantores eram tão anônimos assim: é sabido que a Decca fez Elisabeth Schwarzkopf gravar, no "Tristão e Isolda" de Wilhelm Furtwängler, alguns agudos que, segundo se dizia, Kirsten Flagstad não era mais capaz de emitir, àquela altura de sua carreira. Sabe-se também que, no "Ouro do Reno", do "Anel" de sir Georg Solti, Murray Dickie refez uma parte do papel de Loge, cantado pelo sueco Set Svanholm, porque um pedaço da fita tinha-sedanificado. Por essas e por outras é que sempre preferi as gravações ao vivo, que podem ter deslizes, mas são muito mais espontâneas e livres de truques de estúdio.
Ao contrário do que disse Lauro Machado, as gravações ao vivo são, hoje em dia, tão manipuláveis quanto as feitas em estúdio, e submetidas às mesmas "patching sessions" na ilha de edição. Portanto, a única forma de se apreciar uma performance musical sem truques é ir ao concerto respectivo, ou ver - se houver - o DVD do registro.
Bom, do começo... meu nome é João Luiz Sampaio, sou, antes de mais nada, um apaixonado por música. Mas sou também jornalista, escrevo para o "Caderno 2" do jornal "O Estado de S. Paulo" e outras publicações ligadas à música. Estarei sempre por aqui postando notícias, comentários, entrevistas, dicas, desabafos,...
2 comentários:
Uma frase no comentário de Norman Lebrecht -- "these are by no means the first dodgy discs" -- me sugeriu um comentário. No "Guia de CDs" que editei em 1991, para a Abril Cultural -- em que trabalhei com Renato Mesquita, Affonso Risi e Mirian Marques -- foi discutida uma questão, levantada pelo nº 142 da revista "Le Monde de la Musique", de março daquele ano: a de que certos nomes constantes dos selos poderiam ser marcas de fantasia. Selos pequenos, que estavam inundando o mercado florescente do CD com discos a preços módicos, estariam comprando, sobretudo em países do Leste Europeu, gravações de arquivo de boa qualidade. Mas as relançavam com pseudônimos, para evitar de pagar direitos aos herdeiros dos verdadeiros artistas. O que parecia confirmar esse argumento da revista francesa era a visível defasagem de qualidade das gravações atribuídas a determinados artistas: umas brilhantes, outras apenas aceitáveis. Ou o regente era ciclotímico, ou tratava-se de um "nome guarda chuva", abrigando diversos maestros diferentes. Quanto ao fato que Lebrecht menciona, de grandes selos usarem cantores anônimos, para "corrigir" problemas de celebridades, nem sempre esses cantores eram tão anônimos assim: é sabido que a Decca fez Elisabeth Schwarzkopf gravar, no "Tristão e Isolda" de Wilhelm Furtwängler, alguns agudos que, segundo se dizia, Kirsten Flagstad não era mais capaz de emitir, àquela altura de sua carreira. Sabe-se também que, no "Ouro do Reno", do "Anel" de sir Georg Solti, Murray Dickie refez uma parte do papel de Loge, cantado pelo sueco Set Svanholm, porque um pedaço da fita tinha-sedanificado. Por essas e por outras é que sempre preferi as gravações ao vivo, que podem ter deslizes, mas são muito mais espontâneas e livres de truques de estúdio.
Ao contrário do que disse Lauro Machado, as gravações ao vivo são, hoje em dia, tão manipuláveis quanto as feitas em estúdio, e submetidas às mesmas "patching sessions" na ilha de edição. Portanto, a única forma de se apreciar uma performance musical sem truques é ir ao concerto respectivo, ou ver - se houver - o DVD do registro.
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